Quando Luís Filipe Vieira se apresentar a votos pela quinta
vez consecutiva, saberá de antemão que será eleito. A ausência de candidaturas
de oposição é reflexo do momento desportivo que o clube atravessa, tanto no
futebol, em que, além da disputa de duas finais europeias, voltou a sagrar-se
tricampeão nacional passados 39 anos, como nas modalidades mais mediáticas. Cumulativamente
é-lhe conferido o reconhecimento generalizado da notável evolução social, associativa,
económica, patrimonial e empresarial do Benfica desde que, há treze anos, foi
eleito pela primeira vez.
Com a eleição assegurada, Luís Filipe Vieira, se cumprir o
mandato de quatro anos a que agora se candidata, completará dezassete anos à
frente dos destinos do clube, mais oito que Bento Mântua (1917-1926) e nove que
Borges Coutinho (1969-1977), os presidentes que se seguem relativamente à
longevidade do exercício do cargo. Em termos de indigitação de mandatos, Bento
Mântua, com nove, continua a ser o recordista, seguido de Manuel da Conceição
Afonso (6), Joaquim Bogalho, Augusto da Fonseca Júnior e Maurício Vieira de
Brito (5). Esta discrepância entre mandatos e anos na presidência deve-se às
alterações que a periodicidade dos mandatos foi sofrendo ao longo do tempo. Até
1967, eram anuais, passando a bienais até 1989. Adolfo Vieira de Brito
“inaugurou” os biénios e João Santos os triénios. Em 2012, na sequência da
revisão de estatutos, novo aumento para quatro anos.
O Benfica tem, na sua tradição democrática, nunca
interrompida, um dos seus maiores motivos de orgulho na sua história. Imune à
influência do ambiente político vivido ao longo do Estado Novo entre 1926 e
1974, o clube realizou sempre eleições livres e democráticas, abertas à
participação de todos os sócios maiores de idade. Entre os clubes mais
relevantes no desporto nacional, foi, talvez, o único que o fez, contrastando,
por exemplo, com Sporting e F. C. Porto. No caso leonino existiu a figura do
Conselho Geral, do qual faziam parte antigos dirigentes e figuras proeminentes
da sociedade. Este órgão nomeava os presidentes (Assembleia-Geral; Direcção;
Conselho Fiscal) que, por sua vez, ficavam incumbidos de constituírem os corpos
gerentes que poderiam ser, ou não, sufragados em Assembleia-Geral. No F.C.
Porto viveu-se uma situação semelhante, com a existência da Assembleia
Delegada, cujos membros o eram por inerência e nomeavam os corpos gerentes.
Até 1964, ano em que Adolfo Vieira de Brito e José Ferreira
Queimado disputaram as eleições, a lista única foi a norma, salvo em 1926, em
que Cosme Damião, à sua revelia, foi indicado para a liderança da lista de
oposição à da situação, encabeçada por Bento Mântua. O “pai” do benfiquismo foi
eleito para a presidência da direcção, mas recusou tomar posse. A inexistência
de listas de oposição em quase todos os actos eleitorais até 1964 deveu-se à
tradição de se tentar gerar consensos para a formação de uma lista que seria sufragada
posteriormente. Os associados teriam então oportunidade de votar e excluir os
nomes dos candidatos que entendessem. Vários casos ocorreram de dirigentes
eleitos que não chegaram a tomar posse por considerarem que o seu nome fora
rejeitado por demasiados consócios, sendo o caso de Félix Bermudes, em 1930, o
mais conhecido.
A partir de 1964, raras foram as eleições em que, como a
próxima, só houve uma lista candidata: Borges Coutinho (1971; 1973; 1975);
Ferreira Queimado (1979); Fernando Martins (1985); Luís Filipe Vieira (2006).
Para quinta-feira, resta a curiosidade por saber se a participação dos sócios
em 2012 será superada. Nas últimas eleições votaram 22676 associados, superando
os 21804 registados em 2000, quando Manuel Vilarinho bateu Vale e Azevedo nas
urnas. A possibilidade do exercício do voto em algumas Casas do Benfica e o
voto electrónico terão certamente contribuído para o recorde estabelecido nas
últimas eleições.
Diário de Notícias - 27/10/2016