segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

A tradição democrática do Benfica

Quando Luís Filipe Vieira se apresentar a votos pela quinta vez consecutiva, saberá de antemão que será eleito. A ausência de candidaturas de oposição é reflexo do momento desportivo que o clube atravessa, tanto no futebol, em que, além da disputa de duas finais europeias, voltou a sagrar-se tricampeão nacional passados 39 anos, como nas modalidades mais mediáticas. Cumulativamente é-lhe conferido o reconhecimento generalizado da notável evolução social, associativa, económica, patrimonial e empresarial do Benfica desde que, há treze anos, foi eleito pela primeira vez.

Com a eleição assegurada, Luís Filipe Vieira, se cumprir o mandato de quatro anos a que agora se candidata, completará dezassete anos à frente dos destinos do clube, mais oito que Bento Mântua (1917-1926) e nove que Borges Coutinho (1969-1977), os presidentes que se seguem relativamente à longevidade do exercício do cargo. Em termos de indigitação de mandatos, Bento Mântua, com nove, continua a ser o recordista, seguido de Manuel da Conceição Afonso (6), Joaquim Bogalho, Augusto da Fonseca Júnior e Maurício Vieira de Brito (5). Esta discrepância entre mandatos e anos na presidência deve-se às alterações que a periodicidade dos mandatos foi sofrendo ao longo do tempo. Até 1967, eram anuais, passando a bienais até 1989. Adolfo Vieira de Brito “inaugurou” os biénios e João Santos os triénios. Em 2012, na sequência da revisão de estatutos, novo aumento para quatro anos.

O Benfica tem, na sua tradição democrática, nunca interrompida, um dos seus maiores motivos de orgulho na sua história. Imune à influência do ambiente político vivido ao longo do Estado Novo entre 1926 e 1974, o clube realizou sempre eleições livres e democráticas, abertas à participação de todos os sócios maiores de idade. Entre os clubes mais relevantes no desporto nacional, foi, talvez, o único que o fez, contrastando, por exemplo, com Sporting e F. C. Porto. No caso leonino existiu a figura do Conselho Geral, do qual faziam parte antigos dirigentes e figuras proeminentes da sociedade. Este órgão nomeava os presidentes (Assembleia-Geral; Direcção; Conselho Fiscal) que, por sua vez, ficavam incumbidos de constituírem os corpos gerentes que poderiam ser, ou não, sufragados em Assembleia-Geral. No F.C. Porto viveu-se uma situação semelhante, com a existência da Assembleia Delegada, cujos membros o eram por inerência e nomeavam os corpos gerentes.

Até 1964, ano em que Adolfo Vieira de Brito e José Ferreira Queimado disputaram as eleições, a lista única foi a norma, salvo em 1926, em que Cosme Damião, à sua revelia, foi indicado para a liderança da lista de oposição à da situação, encabeçada por Bento Mântua. O “pai” do benfiquismo foi eleito para a presidência da direcção, mas recusou tomar posse. A inexistência de listas de oposição em quase todos os actos eleitorais até 1964 deveu-se à tradição de se tentar gerar consensos para a formação de uma lista que seria sufragada posteriormente. Os associados teriam então oportunidade de votar e excluir os nomes dos candidatos que entendessem. Vários casos ocorreram de dirigentes eleitos que não chegaram a tomar posse por considerarem que o seu nome fora rejeitado por demasiados consócios, sendo o caso de Félix Bermudes, em 1930, o mais conhecido.


A partir de 1964, raras foram as eleições em que, como a próxima, só houve uma lista candidata: Borges Coutinho (1971; 1973; 1975); Ferreira Queimado (1979); Fernando Martins (1985); Luís Filipe Vieira (2006). Para quinta-feira, resta a curiosidade por saber se a participação dos sócios em 2012 será superada. Nas últimas eleições votaram 22676 associados, superando os 21804 registados em 2000, quando Manuel Vilarinho bateu Vale e Azevedo nas urnas. A possibilidade do exercício do voto em algumas Casas do Benfica e o voto electrónico terão certamente contribuído para o recorde estabelecido nas últimas eleições.

Diário de Notícias - 27/10/2016

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