O que escrever antes do dérbi sabendo que,
qualquer que seja o tema abordado, será relegado para segundo plano em
detrimento das incidências da partida. Os jogos com o Sporting, apesar de o FC
Porto se ter tornado no nosso principal adversário, são os mais me entusiasmam,
não só por ser lisboeta ou por conhecer a história de ambos os clubes e sua
rivalidade, mas também e sobretudo por ser de um tempo em que, na infância, ao
conhecer um potencial novo amigo, a resposta à pergunta obrigatória se seria
benfiquista ou sportinguista poderia condicionar a natureza da relação. Claro
que nem a partilha do benfiquismo garantiria proximidade ou, pelo contrário, o
antagonismo excluíria de imediato a possibilidade de amizade, mas é evidente
que a afinidade clubística tornaria tudo mais fácil.
Então não o sabia, embora já o adivinhasse,
mas há uma marca indelével do benfiquismo que diferencia os benfiquistas dos
sportinguistas (e portistas). Os benfiquistas, como os outros, são adeptos do
seu clube e não gostam dos rivais. Porém, distingue-nos não encontrarmos
na antipatia pelos rivais um estímulo essencial à nossa existência. Neste
plano, tanto Sporting como FC Porto não são apenas clubes, mas um patético anticlube
também. E quando essa característica extravaza o mero sentimento e se
consubstancia numa campanha miserável que visa, única e exclusivamente,
denegrir o seu ódio de estimação, o Benfica, sinto um misto de raiva e desprezo
conflituantes, dando por mim indeciso se os hei-de insultar ou remetê-los à sua
insignificância.
Enfim, espero que tenhamos ganho o dérbi.
Empatar na Luz com o Sporting é triste, perder é humilhante. Na prática, como
com qualquer adversário.
Jornal O Benfica - 5/1/2018