terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Benfica

São comuns, entre nós, os panegíricos à língua portuguesa por ser a única que contém uma palavra que descreve um sentimento de perda ou ausência de algo ou alguém. Refiro-me à saudade, como qualquer lusófono saberá.

Até há uns anos, achei sempre que “saudade” tornava o nosso idioma singular, porém a minha namorada, que é holandesa, apesar de apreciar a “saudade”, contrariava-me porque a sua língua materna contém também uma palavra sem tradição literal em qualquer outra (“gezellig”, um determinado estado de conforto físico e psicológico). Por um acaso feliz, num qualquer aeroporto, encontrámos um livro dedicado a palavras que existem somente numa língua.


Pois bem, o cenário é aterrador para os laudatórios do português. Percorrer aquele livro dá a sensação que todas as línguas têm palavras que só nelas existem – há uma que descreve o tempo que se demora a comer uma banana – e, por isso, dou por mim, de vez em quando, à procura de outras para além da saudade. “Benfica” é uma boa candidata. É o nome do nosso clube e de uma freguesia, mas se aplicada na adjectivação, consoante o sujeito, poderá adquirir significados múltiplos. Por exemplo, um benfiquista, ao afirmar que tem passado uma manhã Benfica, só poderá estar a referir-se a feitos e sensações extraordinárias. Pelo contrário, a mesma frase dita por um anti-benfiquista, significará que está a ser acometido por desgraças que lhe provocam simultaneamente tristeza, frustração, autocomiseração e inveja. E proponho também outra que defina antigos árbitros de futebol que, impedidos pela idade de destilarem ódio ao Benfica num relvado, o façam agora em páginas de jornais e na televisão: os vídeoparvos.

Jornal O Benfica - 11/8/2017

Números da semana (170)

1 O Benfica ganhou o Campeonato Nacional de estrada (5 kms). A nível individual, o campeão nacional foi Luís Oliveira, do Benfica; 5,1% ...