São comuns, entre nós, os panegíricos à língua portuguesa
por ser a única que contém uma palavra que descreve um sentimento de perda ou
ausência de algo ou alguém. Refiro-me à saudade, como qualquer lusófono saberá.
Até há uns anos, achei sempre que “saudade” tornava o nosso
idioma singular, porém a minha namorada, que é holandesa, apesar de apreciar a
“saudade”, contrariava-me porque a sua língua materna contém também uma palavra
sem tradição literal em qualquer outra (“gezellig”, um determinado estado de
conforto físico e psicológico). Por um acaso feliz, num qualquer aeroporto,
encontrámos um livro dedicado a palavras que existem somente numa língua.
Pois bem, o cenário é aterrador para os laudatórios do
português. Percorrer aquele livro dá a sensação que todas as línguas têm
palavras que só nelas existem – há uma que descreve o tempo que se demora a
comer uma banana – e, por isso, dou por mim, de vez em quando, à procura de
outras para além da saudade. “Benfica” é uma boa candidata. É o nome do nosso
clube e de uma freguesia, mas se aplicada na adjectivação, consoante o sujeito,
poderá adquirir significados múltiplos. Por exemplo, um benfiquista, ao afirmar
que tem passado uma manhã Benfica, só poderá estar a referir-se a feitos e sensações
extraordinárias. Pelo contrário, a mesma frase dita por um anti-benfiquista,
significará que está a ser acometido por desgraças que lhe provocam
simultaneamente tristeza, frustração, autocomiseração e inveja. E proponho
também outra que defina antigos árbitros de futebol que, impedidos pela idade
de destilarem ódio ao Benfica num relvado, o façam agora em páginas de jornais
e na televisão: os vídeoparvos.
Jornal O Benfica - 11/8/2017