La Rochefoucauld explicou, com quase quatro séculos de
avanço e através de uma das suas máximas, o extraordinário feito da selecção
portuguesa no Campeonato da Europa 2016: “Embora os homens se orgulhem das suas
grandes acções, muitas vezes não são efeito de um grande projecto, mas fruto do
acaso” (tradução livre).
De facto, quem diria que Portugal, tendo um grupo de
jogadores teoricamente pouco mais que razoável e a milhas (qualitativas)
daqueles de 1966, 1984, 2000, 2004 ou 2006, chegaria sequer à final do Europeu,
quanto mais conquistá-lo. E passaria pela mente de alguém, por dotada que fosse
para a ficção, que Ronaldo se lesionaria na primeira parte da final e o herói
seria Éder, o patinho hediondo (feio seria um eufemismo tendo em conta as
críticas que lhe foram dirigidas) da selecção?
Amanhã, e ainda menos daqui a dezenas de anos, poucos se
recordarão do futebol cinzento e “cauteloso” produzido pela equipa, do fraco
desempenho na fase de grupos ou da combinação improvável de resultados que
facilitou a tarefa portuguesa no acesso à final. Para a história ficará, e
muito bem, o maior feito do futebol português, bem como os seus protagonistas,
entre os quais Renato Sanches, eleito o melhor jogador jovem do torneio,
distinção que recebeu com indiscutível mérito, não obstante a escassa
utilização na fase inicial do torneio por uma incompreensível teimosia do
seleccionador.
Ao Renato, ao Eliseu e aos restantes campeões europeus, os
meus parabéns. Deixo também um abraço ao Pizzi e ao André Almeida por entender
que mereciam, pela sua qualidade e desempenho ao longo da temporada, terem
feito parte do lote de convocados de Fernando Santos.
Jornal O Benfica - 15/7/2016