terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Em defesa da geometria descritiva

Quando há mais de vinte anos, no ensino secundário, desperdicei a oportunidade de estudar geometria descritiva no 12º ano, não imaginava o teor da disciplina na sua plenitude. Sabia do que se trataria em parte: “Técnicas para representação de objectos tridimensionais num plano bidimensional”. Porém desconhecia que, nas últimas aulas, ensinar-se-iam metodologias de deturpação dessas técnicas em prol de objectivos comunicacionais no futebol português. Infelizmente, optei por noções de administração pública.

Até à introdução do vídeo-árbitro no futebol português, ignorei conceitos básicos da disciplina como, por exemplo, o “ponto de fuga”. Muito honestamente, sempre pensei que ponto de fuga designasse a Madalena, com destino à Galiza, e com os devidos agradecimentos a um juiz amigo. Mas estava enganado.

Pelos vistos é outra coisa e estamos sempre a aprender: “O ponto de fuga é um ente do plano de visão, que representa a intersecção aparente de duas, ou mais, rectas paralelas, segundo um observador num dado momento”. Ao ler esta definição, encontro pelo menos três constrangimentos óbvios: E se os observadores forem cretinos? E se o momento for o que os cretinos entenderem que lhes dá mais jeito? E se os cretinos deturparem o plano de visão?


Ora, parece-me evidente que a coisa não seria para levar a sério. No entanto, não há cretinos que tenham voz se não existirem néscios que reproduzam a mensagem acriticamente. Que figurinha fazem os jornalistas que se demitem da sua função e não perguntam aos cretinos por rectas paralelas, cortes e afins quando o vídeoárbitro repõe a verdade desportiva em seu favor… É caso para se dizer que a insídia se intersecta com o laxismo.

Jornal O Benfica - 15/9/2017

Números da semana (170)

1 O Benfica ganhou o Campeonato Nacional de estrada (5 kms). A nível individual, o campeão nacional foi Luís Oliveira, do Benfica; 5,1% ...