É costume ler-se e ouvir-se que “não há palavras” nas mais
diversas situações. Estou em desacordo: A língua portuguesa é tão rica que há
sempre palavras adequadas para descrever ou qualificar um acontecimento.
Por exemplo, sobre o Sporting-Benfica em hóquei, ocorrem-me “escândalo”,
“roubo”, “premeditação”, “favorecimento”, “golpada”, “vergonha”, “nojo” e todos
os seus sinónimos. Também “incompetência”, embora logo de seguida da expressão
“não sejas anjinho”. Mas ainda que me as faltassem, sabendo que as línguas
evoluem, poderia utilizar “rainhar” ou “teixeirar”, que figurariam rapidamente
na gíria popular em detrimento das já gastas de tanto usadas “gamar” ou “fanar”.
Mas penso sobretudo em “estupidez”. O Benfica deveria ter
passado esta semana a festejar o tetracampeonato de hóquei em patins. Há três
anos, em Valongo, fomos vítimas de uma arbitragem miserável que nos sonegou o
título nacional. Confesso que, então, não imaginei ser possível uma arbitragem
ainda mais tendenciosa que essa, no entanto trata-se de Portugal, trata-se
sobretudo de hóquei em patins, uma modalidade gerida à sticada pelos seus
dirigentes federativos desde há largos anos.
E “estupidez” porque estes dirigentes, medíocres e estúpidos
por serem incapazes de se libertarem do fanatismo clubístico em prol do
desenvolvimento da modalidade, não entendem que, encontrando-se limitado a
Portugal, à Catalunha e pouco mais, o hóquei, sem o Benfica, ficará reduzido a
coisa nenhuma. Depois bem podem ir jogar ao pau com os ursos – até já têm
stiques – ou aos “polícias e ladrões”. Duvido é que haja, entre os seus amigos,
quem se disponha a fazer o papel de polícia.
Jornal O Benfica - 23/6/2017