Preciso de recuar cerca de ano e meio, a quando não era
evidente que estaríamos hoje a comemorar um tetracampeonato. Ao longo dessas
semanas, tentei passar a mensagem de que não chegara o tempo de sentenciar a
nossa equipa técnica. Claro está, fui insultado nas redes sociais, o palco
privilegiado de quem tem o coração no teclado do computador e faz da insídia a
sua principal argumentação. E mais expectável do que os insultos, não houve
ainda, entre os que me insultaram, quem me tenha dito que, afinal, talvez
estivesse errado em pedir a cabeça de Rui Vitória e, por arrasto, a de Luís
Filipe Vieira.
Sobre o “pai do tetra”, prefiro enaltecer a sua visão
estratégica desde que chegou à presidência do nosso clube. O tetra não é um fim
em si mesmo, tratando-se antes de uma consequência natural de algo mais vasto,
que levou o seu tempo a ser concretizado. O mérito de Luís Filipe Vieira, e
pelo qual antevejo será recordado no futuro, foi o de equiparar o Sport Lisboa
e Benfica ao legado histórico que havia construído. O Benfica actual
corresponde à ideia de Benfica que chegou, há 15 anos, a parecer uma miragem,
uma memória difusa de um passado que não mais se repetiria. O tetra consolida
esta ideia, mas a sua inobservância não invalidaria o excelente trabalho feito
na última década e meia.
E este feito contraria também aqueles que sempre defenderam
a aposta exclusiva no futebol. O Benfica, como tem sido demonstrado nos últimos
anos, pode ser um clube simultaneamente ecléctico e ganhador. Tetracampeão de
futebol, campeão de voleibol, pentacampeão de hóquei (feminino), vencedor das
Taças de Portugal de futsal (masculina e feminina), tudo isto num
fim-de-semana. É obra!
Jornal O Benfica - 19/5/2017