A vitória ao FC Porto foi mais do que justa. O Benfica,
porque tem mais equipa e joga melhor, ganhou conforme esperado, pecando somente
pelo resultado escasso. Foi bastante superior, mereceu o triunfo. A derrota com
o Inter espelha a superioridade dos italianos na segunda parte e Trubin foi o
melhor em campo.
No clássico, Roger Schmidt surpreendeu com a presença de Di
María e Neres no onze inicial. Mais do que o argentino ter marcado assistido
pelo brasileiro, saliento a dificuldade que a equipa do FC Porto teve para
suster as investidas benfiquistas sempre que a bola circulou com velocidade de
um lado ao outro do campo. Nessas situações, o talento individual, mais liberto
do espartilho portista, fez a diferença. Não fosse a ineficácia, teria sido
goleada.
Ouvi e li até à exaustão que o vermelho mostrado a Fábio
Cardoso condicionou o FC Porto e enviesa a análise. É evidente que condicionou
e teve influência, mas discordo da tese do enviesamento da análise.
Recuemos à Supertaça, disputada em agosto: o FC Porto
começou melhor, pressionante, teve mais remates. O Benfica equilibrou o jogo
por volta dos 20/25 minutos, Roger Schmidt fez alterações ao intervalo e a
partida mudou, com o Benfica a ser muito superior e a ganhar por 2-0. Desta
feita, não foi diferente: o FC Porto teve o ímpeto inicial, embora bem menor do
que no jogo anterior. Fábio Cardoso foi expulso e a toada passou a ser de
equilíbrio. Ao intervalo, Roger Schmidt fez mudanças, não de jogadores, mas,
pareceu-me, da forma como Neves e Kokcu estavam a atacar, assumindo o risco de
passes verticais e a fazerem circular a bola mais rapidamente, e só deu
Benfica. Tendo em conta a Supertaça, alguém poderá afirmar que, com Fábio
Cardoso em campo, o rumo do jogo não seria mais ou menos o mesmo?
E nada disto pode escamotear o facto de a expulsão ter sido
mais do que justa. Um lance que nasce numa transição rápida e tem em Neres, que
jogou no onze com Di María para surpresa de toda a gente, o protagonista mor
(eu próprio, que coloquei essa hipótese na BTV após o jogo com o Portimonense,
não acreditei, no dia do clássico, que pudesse acontecer).
Aliás, para Artur Soares Dias, o VAR do jogo, até houve uma
expulsão perdoada. João Pinheiro talvez tenha razão em ter optado pelo amarelo,
mas mais importante é perceber como essa jogada aconteceu, em tudo similar à da
expulsão, mas protagonizada por Rafa. Ou seja, o Benfica teve uma estratégia
muito bem definida naquela primeira parte, sabendo que os jogos – tanto este
como o da Supertaça e todos – têm duas metades.
E o mesmo se aplica a Milão. O inter alterou ao intervalo
subindo as linhas e o Benfica não foi capaz de suster as investidas
adversárias. A primeira parte foi positiva, a melhor oportunidade é mesmo do
Benfica e ficou um penálti por assinalar sobre Neres (já me cansa ser
prejudicado pela arbitragem frente ao Inter). No segundo tempo, os italianos
foram claramente superiores.
Muito bem esteve Trubin, que já estava a ser queimado por
tanta gente ao fim de dois ou três jogos. Houve até um jornal que teve o
desplante de entrevistar um antigo guarda-redes, agora treinador de um clube da
segunda divisão ucraniana, que nada mais fez do que regurgitar um arrazoado de
críticas ao jovem guarda-redes seu compatriota. Pareceu escolhido a dedo. E é
com o dedo apontado que eu pergunto: quando sai a próxima entrevista a esse
perito?
Termino dizendo que já tive tempo, desde terça-feira, para
confirmar dois dados que até cheguei a duvidar em função do que tem sido dito desde
o jogo: sim, o Inter foi mesmo à final da Liga dos Campeões na temporada
passada e lidera a Serie A.
Jornal O Benfica - 6/10/2023