Foi com enorme satisfação que acolhi a notícia da construção
da cidade desportiva das modalidades. É mais uma prova, se necessário fosse,
que as direcções presididas por Luís Filipe Vieira encaram seriamente o
eclectismo, parte integrante da matriz fundacional do nosso clube. Poderá
parecer um mero pormenor, mas fui dos que esteve presente, e votou contra, numa
célebre Assembleia-Geral realizada no Casal Vistoso em que o investimento nas
modalidades foi colocado em causa.
O Sport Lisboa e Benfica, reduzido ao futebol, não seria o
Sport Lisboa e Benfica, o principal promotor do desporto em Portugal. E não
teria à sua disposição um instrumento poderoso para a expansão do benfiquismo e
potenciação da transformação de adeptos em sócios. Os milhares de atletas e
seus familiares têm, nas modalidades, uma oportunidade de representarem e/ou
contribuírem para o crescimento do clube, reforçando o seu sentimento de
pertença. A aposta nas modalidades é um sustentáculo do clube a longo prazo. Não
percebê-lo é não perceber o Benfica.
Claro que o Benfica, à semelhança da sociedade, não é
imutável. Confesso-me saudosista da cidade desportiva do estádio da Luz, em que
a prática de todas as modalidades era quase inteiramente lá concentrada e era
possível conviver com outros sócios durante a semana. Porém, os tempos mudam, a
pressão imobiliária fez-se sentir e a vida moderna desvalorizou o lado
recreativo dos clubes em detrimento das famílias. Sinto nostalgia, mas também
pragmatismo. O Benfica, mais que se adaptar aos tempos, deve tentar marcar o seu
ritmo. É o que está a fazer com mais esta obra, fundamental para a formação de
atletas e transmissão dos valores benfiquistas.
Jornal O Benfica - 29/9/2017