segunda-feira, 27 de março de 2023

Perpetuação da elite

Crónica publicada no Dinheiro Vivo. Também publicada, em papel, no suplemento que acompanha as edições do Diário de Notícias e Jornal de Notícias.

Excelente momento

“Jogar à Benfica” trata-se de um conceito vago, passível das mais variadas interpretações. Mas há características coincidentes entre elas, nomeadamente a procura do golo frenética e incessante desde o início do jogo e a agressividade permanente nas tentativas de recuperação da bola. Muitas acrescentam ainda a classe, a inteligência futebolística e a superior qualidade técnica em cada toque na bola. E, invariavelmente, que a aplicação destas resulte numa vitória.

Tudo isto fez o Benfica ante o Vitória de Guimarães. Estava 3-0 à meia hora de jogo, uma vantagem assente numa exibição de gala de uma equipa evidentemente insaciável. À Benfica, portanto. E com o bónus, no dia seguinte, de ver a vantagem já de si alargada na liderança do campeonato aumentar mais dois pontos. O mundo, às vezes, faz sentido.

Um aparte: não deixou de ser curioso observar a panóplia de manifestações de desejos travestidas de análises quanto ao embate do Benfica com o Vitória de Guimarães. Foi-nos lembrado até à exaustão que fôra precisamente com este adversário que o Benfica havia perdido pontos no campeonato pela primeira vez e que a sequência de oito vitórias consecutivas anterior à partida se dera com adversários de menor monta. E ainda a ausência de Aursnes, subsistindo, diziam eles, a dúvida quanto à capacidade da equipa de se adaptar a ela. Foram obrigados a enfiar a viola no saco e eu sorrio.

Tudo está muito bem encaminhado para que o Benfica regresse ao título nacional, estando bem interiorizado no seio do clube que nada está ainda conquistado. E, por isso, não surpreende a berraria em praça pública de responsáveis portistas.

Diz o treinador que não houve investimento. Contrapõe o presidente que houve. E até houve mesmo: de acordo com o relatório e contas da sad portista chegou a cerca de 45 milhões de euros.

Se é muito ou pouco, depende da perspectiva. Por exemplo, para clubes como Braga, Casa Pia, Estoril, Gil Vicente, Rio Ave ou Santa Clara, aqueles que, além do Benfica, impediram o FC Porto de vencer na presente edição do campeonato, é um montante impensável. E o maior problema é outro: com menos do que os tais 45 milhões de euros, o Benfica adquiriu os passes de Aursnes, Enzo e Neres, demonstrando cabalmente que, com competência, esse valor ainda dá para qualquer coisa.

Melhor mesmo será que cada um vá para seu lado. O treinador para um qualquer clube estrangeiro e os membros da administração da sad portista para a sala de reuniões, obviamente com o propósito de rever em alta os seus próprios ordenados e prémios, tarefa à qual se dedicam, normalmente, com zelo, proatividade e generosidade.

P.S.: O Benfica tem hipóteses reais de chegar à final da Liga dos Campeões e tentar vencer a prova, o que não significa que seja fácil de o conseguir. Pelo contrário, é tremendamente complicado. Mas a equipa do Benfica conquistou com inegável mérito o direito a sonhar e esse é o primeiro passo. Eu acredito!

Jornal O Benfica - 24/3/2023

Números da semana (116)

9

O Benfica chega à pausa do campeonato para as seleções com uma série de 9 vitórias consecutivas, a mais longa em 2022/23;

10

Pontos de vantagem sobre o 2º classificado a 9 jornadas do fim;

17

Gonçalo Ramos marcou e isolou-se na liderança isolada dos melhores marcadores do campeonato com 16 golos, mas logo depois João Mário bisou e regressou ao topo da lista dos goleadores, agora com 17 golos. Em todas as competições oficiais, Gonçalo Ramos é o máximo concretizador da equipa com 24, secundado por João Mário, com 23. Nas finalizações de golos, João Mário é o mais participativo, com 35 (23 golos + 12 assistências), seguido por Gonçalo Ramos, com 29 (24+5) e Neres, com 25 (12+13);

24

Gonçalo Ramos leva 24 golos, todos de bola corrida, quando faltam jogar, pelo menos, 11 jogos na temporada. Desde 1990/91, só os seguintes jogadores marcaram mais, excluindo através de grandes penalidades, numa só temporada: 29 (Jonas – 2014/15, 2015/16 e 2017/18); 28 (Cardozo – 2009/10; Darwin – 2021/22); 27 (Seferovic – 2018/19); 26 (Nuno Gomes – 1998/99; Lima – 2012/13); 25 (Cardozo – 2012/13; Seferovic – 2020/21, Mitroglou – 2016/17);

36

Com a estreia de Cher N’dour, subiu para 36 o número de jogadores utilizados por Roger Schmidt em competições oficiais, 11 dos quais da formação do Benfica;

42

Rafa passou a ser, a par de Jacinto Marques, Silvino e Valadas, o 42º com mais jogos em competições oficiais pelo Benfica (263 jogos);

68

Convertendo para três pontos as vitórias em todas as épocas, só em 1972/73 (73 pontos) o Benfica conseguiu, ao fim de 25 jogos, melhor pontuação no campeonato do que os atuais 68 (que só conseguira em 1962/63);

100

Gilberto chegou aos 100 “jogos oficiais” pelo Benfica.

Jornal O Benfica 24/3/2023

segunda-feira, 20 de março de 2023

Venha quem vier, estamos na luta!

E sobra o Benfica na Liga dos Campeões. É a segunda temporada consecutiva em que é o único representante português entre os oito finalistas. Mas como é costume dizer-se, “mais vale só do que mal-acompanhado”.

Entre os oito, coloco o Benfica no segundo patamar. Real Madrid, Bayern Munique e Manchester City compõe o trio de principais favoritos a vencer a competição. Benfica, Chelsea e Nápoles são os que, em condições muito propícias, poderão fazer uma surpresa, o primeiro e o último pelo que têm jogado, o segundo pela qualidade do plantel e por parecer, nos últimos jogos, ter-se reencontrado. Os de Milão são os que menos demonstraram, até ao momento, ter argumentos para lutar pelo triunfo derradeiro.

Tal não significa que seja impossível ultrapassar qualquer dos que considero favoritos, assim como não é um desfecho óbvio a eliminação de Milan ou Inter. Todos estão em prova e, com maior ou menor legitimidade, todos têm direito a sonhar.

E todos inclui, naturalmente, o Benfica, cujo treinador tem afirmado, desde as rondas de qualificação para a fase de grupos, que encara a prova (e a época) “jogo a jogo”, demonstrando-o, na prática, pelas opções que toma. Ademais, verifica-se que a abordagem competitiva dos jogadores não se altera consoante a dificuldade das partidas. Esta é uma característica indelével da equipa do Benfica em 2022/23, sobre a qual estou convicto de que, ao contrário do ocorrido em anos recentes, ninguém ostentará um sorriso na face se esta lhe calhar em sorte.

Analisar os adversários possíveis é, também, mais uma oportunidade de constatar a grandeza europeia do Benfica. Três deles, Real Madrid, Milan (duas vezes) e Inter, já disputaram uma final da principal competição europeia com o Benfica, acrescendo ainda o Chelsea, mas na Liga Europa. É obra!

P.S.: Que grande exibição, mais uma, na Madeira ante o Marítimo. É certo que os maritimistas estão mal classificados, mas não menos o é que, até à recepção ao Benfica, só haviam perdido uma vez em casa por mais de um golo e nunca por três. O Benfica deu três, mas poderia ter ganho por cinco ou seis que ninguém se espantaria, tantas foram as oportunidades clamorosas de golo criadas. Excelente!

Jornal O Benfica - 17/3/2023

Números da semana (115)

12

Grimaldo já fez 12 assistências para golo, igualando o seu melhor registo numa temporada (2018/19);

15

João Mário regressou ao topo dos melhores marcadores no Campeonato Nacional com 15 golos, os mesmos que Gonçalo Ramos concretizou. Em todas as competições oficiais, Gonçalo Ramos lidera a equipa com 23 e é secundado por João Mário, o qual é o mais destacado nas participações diretas em finalizações, com 33 (21 golos + 12 assistências), seguido por Gonçalo Ramos, com 27 (23+4) e Neres, com 25 (12+13);

16

Nos primeiros 24 jogos do campeonato, o Benfica não sofreu golos em 16. Na história dos encarnados, é preciso recuar a 1988/89 para encontrar o mesmo registo;

20

O Benfica conquistou a 20ª Taça de Portugal de voleibol do seu palmarés;

35

Com as estreias de Schjelderup e Tengstedt, subiu para 35 o número de jogadores utilizados por Roger Schmidt em competições oficiais;

36

Maior número de vitórias de sempre do Benfica ao fim de 43 jogos numa temporada em competições oficiais (considerando vitória ou derrota em jogos decididos no desempate por pontapés da marca de grande penalidade);

65

Considerando três pontos por vitória em todas as épocas, só em 1972/73 (70 pontos) o Benfica conseguiu, ao fim de 24 jogos, melhor pontuação no campeonato do que os atuais 65 (que só conseguira em 1962/63);

4099

Odysseas Vlachodimos foi o primeiro elemento do plantel a ultrapassar os 4000 minutos de utilização em “jogos oficiais” na presente temporada. Grimaldo (3994), Otamendi (3498), Florentino (3487), João Mário (3425) e António Silva (3207) são os restantes acima dos 3000 minutos em campo (inclui tempos adicionais). No que respeita a jogos, Florentino é o único totalista, com 43.

Jornal O Benfica - 17/3/2023

domingo, 12 de março de 2023

Sonhar custa

Costuma-se dizer o contrário, mas sonhar pode ter vários custos e custa muito ter o direito a fazê-lo, pois não é o mesmo que fantasiar.

O brilhante apuramento para os quartos-de-final da Liga dos Campeões precedido dos não menos brilhantes desempenhos nas rondas de qualificação e na fase de grupos, permitem-nos sonhar com um percurso fantástico na mais importante competição europeia, da qual estamos arredados da final desde 1990.

Recordo-me bem da excitação em torno das campanhas de 1987/88 e 1989/90, replicados em 2012/13 e 2013/14, embora estas últimas na Liga Europa. Vivemos precisamente o mesmo ambiente dessas épocas, nas quais nos debatemos com uma certa ambivalência do estado de espírito, em que a consciência plena da necessidade de se ter os pés bem assentes na terra colidia brutalmente com a firme convicção de que sonhar nos era permitido.

Todos sabemos que as hipóteses do Benfica vencer uma Liga dos Campeões não são as mesmas, nem sequer se assemelham, às de outros clubes mais poderosos financeiramente, e que o especto de uma eliminação é real, seja qual for o adversário numa fase adiantada da prova. Mas ninguém poderá descartar a possibilidade de a ganhar, por mais ínfima que seja, assim se reúnam uma série de circunstâncias favoráveis.

Sonhar, no sentido de legitimamente ambicionar uma conquista europeia, custa muito. Nomeadamente a quem constrói um plantel, contrata uma equipa técnica e mobiliza meios humanos e técnicos de suporte, e, sobretudo, aos treinadores e jogadores que, jogo a jogo, cimentam a ideia de que não há impossíveis.

O percurso benfiquista na presente temporada legitima as aspirações que sempre sentimos e mais apregoamos. A equipa conquistou o direito a sonhar e deve ser reconhecida por isso, seja qual for o desfecho na próxima ronda.

E sonhar pode ter custos, importando, neste e em todos os contextos, interiorizar a ideia de que os jogadores e treinadores são profissionais, por muito bem que representem os adeptos e que eventualmente até o sejam.

Também a eles são permitidos todos os sonhos, desde que, hoje, aquele que mais os preencha seja ganhar na Madeira ao Marítimo. E se há equipa que demonstra, semana após semana, que o tão batido “jogo a jogo” extravasa o domínio das palavras e se reflete na mentalidade competitiva, é esta liderada por Roger Schmidt.

Sonho a sonho, que todos tenhamos, no final da época, a possibilidade de festejarmos bem acordados!

Jornal O Benfica - 10/3/2023

Números da semana (114)

2

O Benfica está nos quartos de final da Liga dos Campeões pelo segundo ano consecutivo, o que é inédito desde que, em 1992/93, a competição começou a ser disputada nos moldes atuais. No total são 19 participações nesta ronda, o que coloca o Benfica na terceira posição dos clubes com mais presenças;

8

Rafa ascendeu à 8ª posição dos melhores marcadores de sempre do Benfica nas competições europeias (14 golos). No ranking da Taça dos Clubes Campeões Europeus / Liga dos Campeões (incluindo rondas de qualificação), Rafa ocupa a 7ª posição, a par de Coluna e Nuno Gomes, com 8 golos;

15

Com o bis frente ao Famalicão, Gonçalo Ramos voltou ao topo dos melhores marcadores do Campeonato Nacional na presente temporada. Soma 26 nesta competição desde que se estreou e é o 56º mais goleador de sempre do Benfica na prova. Totaliza 37 pela equipa de honra benfiquista em competições oficiais;

17,60

Distância percorrida por Pedro Pichardo (mais 1,02 metros do que o 2º classificado) para a revalidação do título europeu de triplo salto em pista coberta e o recorde nacional;

31

Com um golo e uma assistência frente ao Brugge, João Mário totaliza agora 31 participações diretas na finalização de golos (20 golos + 11 assistências). É seguido por Gonçalo Ramos, com 27 (23+4), e Neres, com 23 (10+13);

 

34

Grimaldo passou a ser, a par de Ângelo, o 33º com mais “jogos oficiais” pela equipa de honra do Benfica (290);

50

João Mário atingiu a meia centena de jogos no Campeonato Nacional ao serviço do Benfica;

1152

Sócios do Sport Lisboa e Benfica agraciados com o anel de platina, o emblema de ouro e o emblema de prata pelos 75, 50 e 25 anos de ligação ao clube, respetivamente.

Jornal O Benfica - 10/3/2023

segunda-feira, 6 de março de 2023

Da pequenez

Assim como não presto atenção ao que falam os loucos sozinhos na rua, também ignoro o que dizem o presidente do FC Porto e os propagandistas que o servem. Mas reconheço que, de quando em quando, uns e outros proferem algo acertado.

Por exemplo, o responsável portista insurgiu-se, esta semana, contra o VAR que actua para uns e não actua para outros. E eu acompanho-o na indignação: só para mencionar o caso mais recente, é inacreditável como o VAR não interveio para que Pepe fosse admoestado com um cartão vermelho devido à patada de sola dada na canela de um jogador do Gil Vicente.

Muito deu que falar esse lance. Foram variadíssimas as menções ao aniversário do defesa azul e branco como justificação para o perdão do vermelho. Estou ciente da carga irónica, mas, ainda assim, não faz qualquer sentido. A menos que Pepe faça anos oito ou nove vezes por época, talvez seja isso.

Por falar em declarações patéticas, ocorre-me a existência de outros especialistas. Os paladinos da ética (assim o atestam o depósito de dois mil euros efectuado por um vice-presidente na conta bancária de um árbitro assistente ou o que se alega no chamado caso “cashball”) e dos bons costumes (vide as VMOC e “reestruturações financeiras” ou as trocas milionárias de passes de jogadores sem valor de mercado) emitiram um comunicado miserável e demagógico que, numa primeira instância, até poderá enraivecer o mais sereno dos benfiquistas, mas que somente provoca pena ou vontade de escarniar, porventura gera algum contentamento.

Tendo a optar pelo escárnio – é mais forte do que eu – embora seja sensível aos que padecem da necessidade de dar um sinal de vida e não deixe de me satisfazer a ideia de que existem tontos que vislumbram uma praia paradisíaca nos montes de areia que lhes são atirados aos olhos.

Todos têm uma atenuante. Os loucos, o problema de saúde; os restantes, o Benfica. A culpa é, de facto, do Benfica. Especialmente de um Benfica que lidera o Campeonato com oito pontos de avanço com doze jornadas em disputa, está bem encaminhado para chegar aos quartos-de-final da Liga dos Campeões e, sobretudo, tem jogado à bola a um nível que se percebe que o bom desempenho não é fruto do acaso.

E eles vociferam, esperneiam, rasgam as vestes e puxam os cabelos, nada que espante. Se nem momentaneamente por cima têm nível, não se espere que o tenham remetidos à sua condição.

Jornal O Benfica - 3/3/2023

Números da semana (113)

1

António Barata é campeão nacional de duatlo cross;

2

Cabo Verde chega pela 1ª vez ao mundial de basquetebol e fá-lo com o contributo de 2 jogadores do Benfica no apuramento: Ivan Almeida e Betinho Gomes. Já mais habituada a estas presenças, Angola utilizou o jovem Eduardo Francisco;

3

Atletas do Benfica que se sagraram campeões nacionais de lançamentos longos: Emanuel Sousa (disco); Leandro Ramos (dardo); António Vital e Silva (martelo);

6

A equipa de ruby do Benfica é a atual 6ª classificada do Campeonato, uma posição que tem vindo a ocupar nas últimas jornadas. Mas as expetativas subiram de fasquia após os triunfos, nas duas últimas jornadas, ante os candidatos Agronomia e Belenenses;

14

João Mário bisou de novo e tem 14 golos no Campeonato Nacional, passando a ser o mais goleador da prova à 22ª jornada. Gonçalo Ramos é o 2º, com 13;

A vitória na deslocação ao Madeira SAD cimentou a liderança benfiquista no campeonato de andebol feminino. O Benfica é agora o único invicto na prova. Com o triunfo no dia seguinte ante o CS Madeira, são 14 jornadas sempre a vencer;

19

O Benfica tem 19 vitórias ao fim de 22 jogos no Campeonato Nacional. Melhor, só uma vez, em 1972/73. É a 7ª edição com 19 vitórias neste conjunto de partidas. Atribuindo-se 3 pontos por vitória e 1 por empate em todas as épocas, só em 2 obteve pontuação superior aos 59 atuais (66 em 1972/73 e 70 em 1971/72);

29

João Mário é líder destacado na participação direta em finalizações de golos, com 29 (19 golos + 10 assistências). Gonçalo Ramos (19+3) continua a ser o 2º neste ranking, mas agora acompanhado por Neres (9+13). Segue-se Rafa, com 18 (11+7);

119

O Sport Lisboa e Benfica completou 119 anos de vida!

Jornal O Benfica - 3/3/2023

Números da semana (171)

1 O Benfica conquistou, pela 1ª vez, a Taça FAP de andebol no feminino; 3 Di María isolou-se na 3ª posição do ranking dos goleadores b...