segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

As SAD em 2015/16

Na sequência da divulgação das contas das SAD dos “três grandes”, ressaltou o seguinte: A FCP, SAD apresentou as piores contas da sua história e o modelo seguido desde há muitos anos (custos operacionais elevadíssimos para a sua capacidade de gerar receitas operacionais, compensados por sucesso desportivo e, consequentemente, enormes encaixes financeiros através da alienação de passes de atletas) poderá estar esgotado; A Sporting, SAD apresentou más contas, embora se reconheça que foi feito um grande esforço para que tenha existido um crescimento qualitativo da competitividade da equipa e que existam factos subsequentes que aligeiram a análise dos resultados, em particular as vendas de Slimani e João Mário; A Benfica, SAD aliou, ao sucesso desportivo, o sucesso financeiro, e, apesar do incremento do passivo, o activo subiu ainda mais. As principais conclusões são válidas, mas convém interpretá-las mais aprofundadamente e, sobretudo, ter em conta as declarações dos responsáveis que, não sendo necessária uma grande dose de cinismo, poderão ser entendidas como tentativas de doirar a pílula…

Comecemos pela FCP, SAD. Os resultados apresentados são, de facto, e aliás como se previu ao longo do ano, os piores da sua história. O resultado líquido negativo de 58.4 milhões de euros é grave, sobretudo se analisadas as componentes que mais contribuíram para o prejuízo verificado. Desde logo pelo desbaratar do capital próprio, via resultados acumulados, menos de dois anos (Outubro de 2014) após o aumento de capital por incorporação de 47% do capital da sociedade Euroantas, que detém o estádio do Dragão. O capital próprio é agora de 25,9 milhões de euros, quando era, no final do primeiro semestre de 2014/15, 54,6 milhões de euros. Tendo em conta que, antes da reestruturação de capital, a FCP, SAD estava em falência técnica (-33.1 milhões de euros), percebe-se que a tendência de perdas não foi invertida, o que faz perspectivar, caso se confirme a tendência, a potencial necessidade de novo aumento de capital, em princípio pela incorporação do capital remanescente da Euroantas. Quanto a este item, convém referir que tanto a SLB, SAD como a SCP, SAD já integram, no seu perímetro de consolidação, a totalidade do capital das sociedades que detêm os estádios (também devido a operações de reestruturação de capital).

A SAD portista teve, em 2015/16, um ano significativamente deficitário. Ao nível desportivo, o desempenho foi fraco, nomeadamente se comparado com a maioria das temporadas nas últimas três décadas. Sem qualquer título nacional nem percurso europeu memorável, os optimistas considerarão que se tratou do epílogo de um certo desnorte ao nível da gestão desportiva e financeira. A questão é que, sem capacidade financeira para o apetrechamento do plantel, embora tal não implique o insucesso desportivo, afigura-se complicado esgrimir argumentos com Benfica e Sporting. Terá mesmo dado um passo atrás para dar dois ou três à frente conforme está escrito no relatório?

O grande problema reside nos custos operacionais – os mais elevados entre os “três grandes” – sem que existam suficientes proveitos operacionais para colmatá-los. Nestes ganham relevância os gastos com pessoal, 14 milhões de euros acima da Benfica, SAD e 37 milhões de euros a mais que a Sporting, SAD. Sobre os custos operacionais é referido no relatório que as indemnizações pagas às equipas técnicas lideradas por Lopetegui e Peseiro contribuíram para o seu montante. Sendo verdade, a justificação peca por escassa. Por um lado, porque revela o desvario da gestão desportiva ao substituir Lopetegui por um treinador que não mereceu a confiança para continuar no cargo passados cerca de cinco meses. Por outro porque, apesar dessas decisões terem custado cerca de 9 milhões de euros, entre indemnizações e remunerações a liquidar, de todo justificam os elevados custos operacionais verificados.

Fernando Gomes, administrador da FCP, SAD, assumiu que os resultados apresentados “não são bons”, mas que resultam de uma “política definida pela administração”, no sentido de não enfraquecer o plantel”. Chamou à presente temporada “momento zero”, e, de acordo com notícia publicada no site portista, “a partir do qual há um compromisso de reduzir os custos com o plantel principal, atualmente na fasquia dos 100 milhões de euros, dos quais 75 são salários. Nos próximos três anos, a meta será descer a massa salarial para os 55 milhões”. Referiu ainda que o modelo de receitas da FCP tem sido tradicionalmente assente nas mais-valias com alienação de passes de atletas e que houve uma opção em privilegiar a competitividade da equipa pois existiram “solicitações de venda do Danilo, André Silva e Herrera, com valores em causa de 95 milhões de euros” que não foram atendidas. Ora, a opção, a crer nas declarações de Fernando Gomes, é, no mínimo, discutível pois a FCP, SAD não cumpriu o fair play financeiro da UEFA, o que poderá acarretar sanções da entidade organizadora das competições europeias. Saliente-se que, até 30 de Junho e de acordo com a comunicação social, as cláusulas de rescisão de André Silva, Danilo e Herrera totalizavam 105M€ (25; 40; 40)…

No caso sportinguista, em que o défice atingiu, aproximadamente, 32 milhões de euros, foi passada a ideia de que as mais-valias das vendas de Slimani e João Mário após o fecho das contas equilibrarão os resultados. O mesmo está escrito no relatório: “Nos Capitais Próprios, o efeito do prejuízo registado conduz a uma variação de cerca de 31.997 milhares de euros que será bastante mitigada na época de 2016/2017 com as referidas mais-valias decorrentes da alienação dos direitos dos jogadores João Mário e Islam Slimani”. Esta afirmação, por si só, é verdadeira. No entanto, há outros factos que deverão ser considerados.

Em primeiro lugar, assim como ocorreram saídas, houve também entradas (Bas Dost, por exemplo, foi a contratação mais cara de sempre), o que implicará o aumento das amortizações de passes e, presumivelmente, dos custos com pessoal. Em segundo lugar, como a Sporting, SAD não detinha o direito à totalidade das verbas pagas por Leicester e Inter, significará que as mais-valias serão afectadas pelos custos da compensação a terceiros pelas vendas dos dois jogadores. Em terceiro lugar, tendo em conta reestruturação financeira empreendida não há muito tempo, em paralelo com a reestruturação de capital, choca verificar que a SAD leonina regressou a uma situação de falência técnica e que um novo incumprimento do fair play financeiro da UEFA poderá ser provável. Se é indesmentível que a equipa do Sporting se tornou mais competitiva, apesar de na temporada anterior ter conquistado uma Taça de Portugal, o cenário de grandes dificuldades financeiras continua a ser plausível.


Quanto à Benfica, SAD, cuja equipa de futebol se sagrou tricampeã nacional, o lucro apresentado em 2015/16 foi o maior de sempre e registaram-se receitas recorde. Há, porém, que questionar a subida do passivo tendo em conta as avultadas transferências de jogadores registadas nos últimos anos. É certo que o activo subiu mais ainda, mas a SAD benfiquista parece apostada em manter o nível de investimento, ao invés de reduzir o passivo, nomeadamente ao nível dos empréstimos, o que diminuiria os custos financeiros. Realce-se, a seu favor, que estes não são muito mais elevados que os suportados pela FCP, SAD (diferença de cerca de 2,25 milhões de euros) e que ambas as entidades, ao contrário da Sporting, SAD em anos anteriores, não colocaram em risco, através da emissão de VMOC (127.925 milhões de euros que saíram do passivo e entraram no capital), a posição maioritária dos clubes no seu capital.

Vida Económica - 21/10/2016

Números da semana (170)

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