terça-feira, 16 de janeiro de 2018

A morte de uma crónica anunciada

Não é engano. Deturpo deliberadamente o título de um dos vários romances notáveis de Gabriel García Márquez porque me parece adequado face ao momento actual do futebol português.

É mais que evidente que vários opinadores e imensos detractores profissionais se preparavam para, finda a última jornada, sentenciarem a falência do desiderato benfiquista para esta temporada: o penta. Afinal, parece-me indiscutível que continuamos na luta como, aliás, nunca deixámos de o estar. Por outro, tudo o que envolve o F.C. Porto faz-me pensar, por vezes, que o futebol português pertence ao domínio do realismo mágico de García Márquez, embora trágico seja o adjectivo que melhor o caracterize.


De mágico subsiste apenas o dragão, o animal mitológico escolhido para símbolo do clube portista. Mas do ilusório, e por isso trágico, há muito por onde escolher como, por exemplo: A data da fundação; O revisionismo da relação dos clubes com o Estado Novo (por exemplo, o F.C. Porto foi elevado a Instituição de Utilidade Pública em 1928, com os benefícios daí inerentes, mais de três décadas antes do Benfica); A criação de inimigos imaginários (“centralismo”); A projecção, nos outros, das suas falhas éticas e comportamentais na competição desportiva (quinhentinhos, apito dourado, etc); Ou até se revela em factos caricatos, como a existência de um exército liderado por um macaco ou a proliferação de “Pintos” ou de “Fernandos Gomes”, este a fazer lembrar o extraordinário “Cem Anos de Solidão”, no caso, “35 Anos de Podridão”. Salve-se que o patriarca, no seu outono, parece cada vez mais um general no seu labirinto. E que ao veneno da madrugada, de um dos seus soldadinhos, já ninguém preste atenção.

Jornal O Benfica - 8/12/2017

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