Não é engano. Deturpo deliberadamente o título de um dos
vários romances notáveis de Gabriel García Márquez porque me parece adequado
face ao momento actual do futebol português.
É mais que evidente que vários opinadores e imensos
detractores profissionais se preparavam para, finda a última jornada,
sentenciarem a falência do desiderato benfiquista para esta temporada: o penta.
Afinal, parece-me indiscutível que continuamos na luta como, aliás, nunca
deixámos de o estar. Por outro, tudo o que envolve o F.C. Porto faz-me pensar,
por vezes, que o futebol português pertence ao domínio do realismo mágico de
García Márquez, embora trágico seja o adjectivo que melhor o caracterize.
De mágico subsiste apenas o dragão, o animal mitológico
escolhido para símbolo do clube portista. Mas do ilusório, e por isso trágico,
há muito por onde escolher como, por exemplo: A data da fundação; O
revisionismo da relação dos clubes com o Estado Novo (por exemplo, o F.C. Porto
foi elevado a Instituição de Utilidade Pública em 1928, com os benefícios daí
inerentes, mais de três décadas antes do Benfica); A criação de inimigos
imaginários (“centralismo”); A projecção, nos outros, das suas falhas éticas e
comportamentais na competição desportiva (quinhentinhos, apito dourado, etc);
Ou até se revela em factos caricatos, como a existência de um exército liderado
por um macaco ou a proliferação de “Pintos” ou de “Fernandos Gomes”, este a fazer
lembrar o extraordinário “Cem Anos de Solidão”, no caso, “35 Anos de Podridão”.
Salve-se que o patriarca, no seu outono, parece cada vez mais um general no seu
labirinto. E que ao veneno da madrugada, de um dos seus soldadinhos, já ninguém
preste atenção.
Jornal O Benfica - 8/12/2017