quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Sim


Hoje será realizada a Assembleia-Geral para a votação do Relatório e Contas do Sport Lisboa e Benfica. Enquanto escrevo, desconheço ainda o conteúdo do R&C, mas há alguns dados já conhecidos e que me apraz comentar.

Os seis exercícios consecutivos da SAD a darem lucro têm contribuído decisivamente para a recuperação dos fundos patrimoniais do clube. Recordarmo-nos da situação vivida no início do milénio é penoso, mas permite-nos, simultaneamente, admirar o percurso efectuado desde então, que inclui, entre os muitos feitos realizados, a construção do estádio, de toda a sua envolvente (piscinas, museu, pavilhões, etc) e do Benfica Futebol Campus e com a criação da Benfica TV.

Destaco estes porque considero que a passagem da Benfica Estádio e da BTV para o clube, detendo-as agora a 100%, durante o exercício 2018/19, é de extrema importância. Por um lado, o património do clube cresceu, o que é sempre importante. Mas, ainda mais relevante, a partir da data dessa medida, a alienação de todo o património do clube passou a ser possível somente com a aprovação dos sócios em Assembleia-Geral. O clube é, assim, ainda mais dos sócios.

Realce ainda para as receitas recorde, quer da SAD, quer do grupo Benfica. Estas são demonstrativas da evolução positiva que o clube tem tido nos últimos anos. O esforço empreendido na modernização e profissionalização, assim como o forte investimento nas vertentes associativa, desportiva e infra-estrutural, com o estádio e o Benfica Futebol Campus em primeiro plano nesta última, deram o retorno desejado.

Estou convicto de que hoje temos um Benfica mais forte em todas as suas valências e sobretudo mais estável, sólido e preparado para os desafios que venham a surgir.

Jornal O Benfica - 27/9/2019

Vergonha em Portimão


Disse o escritor Knausgård, no seu “Outono”, que “a vergonha é como um cadeado, mantém fechado o que deve estar fechado”. Se houvesse decência, um cadeado seria pouco para Rui Costa e Vasco Santos, o árbitro e o vídeoárbitro do Portimonense-Porto, ou um deles, pela vergonha que sentiriam por aquele penálti assinalado a favor do Porto em Portimão.

Quantos cadeados, correntes e coletes de força necessitariam caso reconhecessem o erro? No mínimo, tantos quantos Houdini usou no seu famoso número de ilusionismo (um pedido de escusa da arbitragem durante umas semanas seria o único “cadeado” que mereceria respeito da minha parte).

De facto, só os mais experimentados ilusionistas far-nos-iam acreditar que Jadson tem um braço que, como todos os outros, começa no pulso, mas que, incrivelmente, termina no tórax. Só Rui Costa e Vasco Santos, ou um deles, os propagandistas portistas, os fanáticos, um ou outro idiota útil e as mais resilientes e desavergonhadas caixas de ressonância na comunicação social fingem ter visto o que não existiu. E, sendo que a Liga alardeia o “grande investimento” no vídeoárbitro, não é crível que Vasco Santos não tivesse, à sua disposição, imagens dos mesmos ângulos que a Sporttv, os quais demonstram inequivocamente a inexistência de falta.

Com este lance, e o diligente e escrupuloso tempo adicional do tempo adicional da partida, além da não menos inacreditável expulsão injusta de um jogador vimaranense no primeiro minuto do Porto-V.Guimarães, espero não estarmos a assistir a uma reposição da primeira volta da temporada passada, sobre a qual esta e todas as colunas deste jornal não chegariam para descrever os erros de arbitragem favoráveis ao Porto.

Jornal O Benfica - 20/9/2019

Benfiquista


Quem me conhece sabe que a selecção nacional me é indiferente há uns bons anos. Não é embirração ou sequer um protesto, talvez seja ainda uma sequela de um tempo em que me revoltava a forma como o futebol português era dirigido e, em simultâneo, se tornara vulgar a quase total ausência de jogadores do Benfica nas convocatórias. E reconheço alguma arrogância da minha parte por me irritar a quantidade de desinteressados por futebol que opinam, festejam ou criticam nos períodos de maior notoriedade para a selecção. São os neoconvertidos a prazo que não fazem qualquer falta ao futebol.

De igual forma, não desejo desaires. Pura e simplesmente não sinto qualquer emoção. Quando calha, se nada mais interessante houver, sigo as partidas enquanto apaixonado pelo jogo que sou.

Nos últimos anos, o meu interesse cresceu, apesar da contínua indiferença quanto aos resultados. A maior participação de atletas do Benfica e de jogadores formados no nosso clube desperta a minha curiosidade, a qual já sentia em relação às selecções mais jovens, em que a forte e bem-sucedida aposta na formação na última década resultou, também, num acréscimo de qualidade nas equipas organizadas pela Federação. O meu interesse pela selecção assenta, exclusivamente, numa perspectiva benfiquista.

Não é invulgar que, geralmente pelos tais neoconvertidos, seja acusado de falta de patriotismo por não apoiar “a selecção de todos nós”. Esta é bem capaz de ser a acusação mais patética que já ouvi. Até porque, se a questão passa pela nação, a minha, no desporto, é a benfiquista. E é por isso que me emocionou ver as demonstrações exacerbadas de benfiquismo em Cabo Verde no passado fim-de-semana. O benfiquismo não tem fronteiras!

Jornal O Benfica - 13/9/2019

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Futebolês


No estrangeiro e sem tempo para a habitual crónica, avanço com algumas sugestões que, eventualmente, não carecem de revisão, para um dicionário informal e abrangente sobre o léxico futebolístico português.

Proençar - assumir posições de poder para apelar a melhorias genéricas e infrutíferas, enquanto nada se faz e se ostenta um garboso aspecto e o sorriso de missão cumprida;

Xistrar - confundir analistas desatentos e/ou crédulos na bondade alheia acerca da incompetência ou premeditação de decisões erradas;

Xistralhada - acto de xistrar em jogos que actuem equipas trajadas a vermelho ou, em alternativa, mas em sentido contrário, às listas, verticais ou horizontais, de outras cores;

Coroado - aziado;

VAR - instrumento exemplificativo de que o uso humano de boa tecnologia nem sempre produz os efeitos desejados;

Calendarização - exposição cruel da incompetência generalizada entre os diversos intervenientes no futebol português;

Claques organizadas - chapéu que encobre todo e qualquer acto de adeptos criminosos ou abafa cânticos insultuosos num estádio de futebol;

Apelar ao bom senso - evitar a todo o custo a intervenção do poder político na legislação do desporto;

Natal - época festiva em período variável que marca o término do auto declarado estatuto de candidato ao título do Sporting;

Calor da noite - o equivalente a "escola da vida" detectado em inúmeras descrições do Facebook, mas para elementos da estrutura portista;

Record - órgão de comunicação oficioso do SCP;

O Jogo - órgão de comunicação semi-oficial do FCP;

Email - palavra usada quando os argumentos são inexistentes e se pretende justificar o insucesso;
Benfica - glorioso;

(...)


Jornal O Benfica - 6/9/2019

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Recordista da infâmia


O director do Record, Bernardo Ribeiro, manifestou-se indignado por, supostamente, a BTV não ter mostrado os adeptos do FCP durante a transmissão do clássico. No dia seguinte, depois de confrontado por ter mentido ou, com alguma benevolência, se ter enganado, insistiu, em tom jocoso, na crítica à BTV, trasvestindo-a de pedido de desculpa. E, como se não bastasse, enganou-se novamente.

A BTV não mostrou os portistas apenas numa ocasião, fê-lo por cinco ou seis vezes segundo me garantiram. Foram mais, porventura, do que aquelas que Bernardo Ribeiro terá entendido relevantes para criticar Bruno de Carvalho ao longo dos vários anos de presidência do ex-líder leonino. Reconheça-se que o delírio resultante dos triunfos, mesmo que por camisola emprestada, retira o discernimento a qualquer um, mas convém não exagerar.

Maquiavel ensinou-nos que quando um adversário é deitado por terra, deve ser pisado ainda mais. Mas Bernardo Ribeiro, a julgar pela profundidade das suas reflexões, não passa de uma tentativa falhada de um protótipo de aspirante a adversário e a crítica ao Benfica que lhe assistiu fazer saiu-lhe furada.

Talvez pudesse antes dedicar-se a tentar entender a degradação lastimável que a venda de jornais tem sofrido e o que o leva, nesse contexto aterrador, a hostilizar frequente e gratuitamente uma enorme fatia dos seus potenciais consumidores. Seria construtivo. Porém, o Record caminha para ser uma espécie de suplemento desportivo do Correio da Manhã, agora que já é só um mero jornal sectário, servindo para pouco mais que amplificador da comunicação informal oriunda do Campo Grande.

Parafraseando Ribeiro: Não sei se é feio, se triste. Mas é o director do Record.

Jornal O Benfica - 30/8/2019

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Duplas


Não me preocupa o golo solitário da autoria da nossa dupla de avançados nas três partidas efectuadas. Os espaços aproveitados por Rafa – o saco de pancada predilecto no futebol português – e Pizzi para somarem já seis golos não surgem de geração espontânea, sendo determinantes as movimentações de Seferovic e Raul de Tomás para que os nossos extremos se evidenciem na finalização.

Porém até poderiam ser dois, ambos de Seferovic, não fosse a excessivamente zelosa e minuciosa, mas nem por isso acertada, análise do lance que daria o segundo golo benfiquista no Jamor.

O que se seguiu pareceu uma cena de um episódio especial da CSI Miami, com participação do protagonista da sua filial em Nova York. Mas não eram Caruso e Sinise a contracenarem, eram antes Veríssimo e Xistra, duas faces da mesma moeda, aquela que só no mercado da incompetência tem valor, já que não acredito que ainda exista o mercado da fruta, cujo chão já deu os cafés com leite que tinha a dar. Estranha dupla esta que escrutina golos do Benfica até à exaustão em busca de um detalhe que lhe permita decidir convicta, mas erradamente.

Apelo, assim, às mais altas instâncias benfiquistas que ordenem cabelo rapado e unhas cortadas bem rentes aos nossos jogadores. O uso de botas do número abaixo é recomendável. E, se não for inconveniente, que agendem operações plásticas de remoção do nariz de cada um dos nossos atletas. Todos os milímetros contam! E a Lage peço que jogue em 1-9-1, com todos os jogadores atrás da linha do meio campo, deixando Rafa, partindo de trás, jogar um contra onze. Continuaríamos a ganhar e talvez não fosse possível que esta dupla inefável nos anulasse mais um golo por pretenso fora-de-jogo.

Jornal O Benfica - 23/8/2019

Bom começo


Desde 1964 que o Benfica não marcava pelo menos dez golos nos dois primeiros jogos oficiais da temporada (considerando todas as competições, incluindo as regionais). Com as goleadas, ambas por 5-0, a Sporting e Paços de Ferreira, foi apenas a sexta vez que este feito aconteceu (11 – 1941/42; 1944/45; 10 – 1937/38; 1943/44; 1964/65; 2019/20). Acresce que o Benfica marcou, em toda a sua história, pelo menos cinco golos em pouco menos de 14% dos seus jogos oficiais, percentagem que desce para cerca de 7,8% desde 2009/10...

Significa isto que se justifica, para já, algum grau de euforia em torno da nossa equipa de futebol? Decididamente, não! E algum optimismo? É evidente que sim! É benéfico para a saúde mental, motiva, agrega e, diga-se de passagem, é realista. Entrámos tão bem na temporada como havíamos saído da anterior. A nossa equipa está sólida, consistente, focada e alegre, além de se manter ambiciosa.

Bruno Lage, após a partida frente ao Paços de Ferreira, reafirmou o objectivo de aproximar os níveis exibicionais aos alcançados na época passada. Do meu ponto de vista, falta ainda, apesar da torrente de golos conseguida e evidente potencial, do nosso plantel, para readquiri-la, alguma da fluidez ofensiva que vimos há uns meses.

Talvez por isso se tenha referido tantas vezes que os 5-0 infligidos ao Sporting e Paços de Ferreira tenham sido exagerados face ao que se passara em campo. “O resultado foi melhor que a exibição” parece ser o mantra de benfiquistas pessimistas ou cautelosos e de adversários desdenhosos. E talvez tenham sido mesmo. Mas o que conta verdadeiramente, uma Supertaça e três pontos a abrir o campeonato, já ninguém nos tira.

Jornal O Benfica - 16/8/2019

Educação esmerada


Já várias vezes contei esta história, mas o momento parece-me propício para contá-la novamente.

Certa manhã, andava eu ainda na terceira classe, o meu pai deixou-me na escola e avisou-me que me iria buscar à hora de almoço. Estranhei, pois costumava almoçar na escola ou em casa dos meus avós. Passadas umas horas lá apareceu o meu pai, informando-me que não iria às aulas durante a tarde. Almoçámos e fomos para o estádio da Luz: quartos-de-final da Taça de Portugal, Benfica 5 – Sporting 0 (estádio, aquele estádio gigantesco, quase cheio num jogo às 15 horas de um dia de trabalho).

Lembrei-me deste episódio nos segundos imediatos ao quarto golo da nossa equipa na Supertaça. Tinha sido precisamente em 1986 que o Benfica bateu o Sporting por 5-0 pela última vez. Graças ao meu pai, contrariando dezenas de advertências sobre a importância primordial da escola, vi o Rui Águas, o Wando (a bisar), o Álvaro (!) e o Manniche a marcarem ao Sporting, o clube que me fora ensinado – e constatei na escola – ser o maior rival do meu Benfica.

Senti, ao longo dos muitos anos passados desde essa goleada, que o Benfica desperdiçou várias oportunidades de repetir a proeza (a última aconteceu na época passada, no jogo do campeonato em Alvalade). Honra seja feita ao 3-6, também no reduto leonino, em 1994. A diferença de “escassos” três golos, por se tratar do “jogo do título”, não deslustra o feito...

Recuando a 1986, tinha eu oito anos, aprendi, em poucas horas, três lições importantes: Há prioridades na vida; há prioridades mais prioritárias que outras; e que o Benfica é mais prioritário que as teoricamente mais prioritárias das prioridades.


Jornal O Benfica - 9/8/2019

Eneacampeões


Assim de repente, no Benfica, só me recordo das Marias, no voleibol, do badminton e das corridas em patins a poderem afirmar que se sagraram campeões nacionais nove vezes consecutivas. E agora a nossa equipa masculina de atletismo, numa modalidade e num sector em que o investimento é muito mais significativo e a competitividade é bastante elevada.

A maior parte das declarações dos protagonistas do desporto são confinadas à espuma dos dias. Assim o dita a voracidade da competição, cuja renovação, época a época, é galopante e praticamente integral. É, por isso, ainda da mais elementar justiça, recordar o que a Prof. Ana Oliveira, então já a coordenadora do projecto olímpico e da nossa secção de atletismo, disse há oito anos no rescaldo da primeira destas nove conquistas. Qualquer coisa como “esta temporada não sabíamos se já seria possível sermos campeões, mas o projecto do Benfica está a ser implementado para ganharmos mais títulos no futuro”. Passados todos estes anos podemos constatar, com imensa admiração e orgulho, que não se trataram de meras palavras de circunstância.

Muito se poderia destacar neste título, mas é para João Vítor Oliveira, o vencedor da prova de 110 metros barreiras, que dedico o último parágrafo.

O voo para alcançar a meta e vencer a final da sua prova foi impressionante. Desconheço uma imagem que melhor ilustre o que é ter raça, querer e ambição, as características de personalidade indispensáveis a qualquer atleta que tenha a honra e o privilégio de representar o Sport Lisboa e Benfica. Tratou-se de um mergulho de mística, de um voo só alcance de um atleta por um momento metamorfoseado águia. Um atleta à Benfica!

Jornal O Benfica - 2/8/2019

terça-feira, 30 de julho de 2019

Bom problema


Os números divulgados recentemente acerca da venda de Red Pass (incremento de cerca de 125% desde 2013/14 até 44 mil) são impressionantes e revelam, por um lado, o entusiasmo em torno da equipa e a satisfação pelo percurso no campeonato nas últimas temporadas; e, por outro, o sentimento generalizado de que deter um lugar de época é realmente compensador a diversos níveis, incluindo, tendo em conta a capacidade limitada do estádio, de que o lugar estará garantido para este e para os próximos anos.

A manter-se a tendência de procura de Red Pass no futuro próximo, a que se tem que acrescentar os camarotes e executive seats, além da obrigatória cedência de 5% da lotação do estádio aos adversários, sobrarão poucos bilhetes disponíveis em cada jogo, os quais terão que existir sempre de forma a proporcionar a possibilidade de aquisição de ingressos a sócios que, por esta ou aquela razão, não conseguiram ou quiseram comprar Red Pass. Ou seja, é real a possibilidade de, a curto prazo, terem de ser criadas listas de espera para quem quiser adquirir Red Pass.

Do meu ponto de vista, o maior problema neste âmbito está relacionado com a capacidade de criar novos públicos, mesmo sabendo-se que, todos os anos, há lugares que não são renovados devido a causas como morte, envelhecimento, emigração, etc. Com a taxa de ocupação verificada, haverá, por exemplo, uma dificuldade enorme para os pais comprarem Red Pass para os seus filhos quando estes atingirem a idade mínima de entrada (3 anos).

Se tivermos de facto este problema, só vejo duas soluções: Reconfiguração da disposição dos lugares; Ampliação do estádio conforme julgo ter sido anunciado, aquando da construção, que é possível.

Jornal O Benfica - 19/7/2019

terça-feira, 16 de julho de 2019

Sucesso continuado


Há um conto de Le Clézio sobre um menino prodígio que começara a aprender aos dois anos e, aos doze, já desafiava as mentes mais brilhantes com as suas concepções filosóficas. Certo dia sentou-se à janela aparentemente a olhar para o vazio e, passada uma semana, decidiu-se a explorar o jardim infantil que, afinal, tanto observara. A história torna-se interessante quando Le Clézio, ao invés de derivar pela banalidade do menino que só desejava ser criança, mostrou-nos antes um Martin fascinado com os movimentos da areia enquanto escavava e os bichos que nela habitavam. As outras crianças, incapazes de o compreenderem, atacaram-no violentamente e Martin, apesar de frustrado e irritado enquanto era incomodado, permaneceu absorto nas suas actividades após as outras crianças partirem.

Talvez o defeito seja meu, mas identifico nesta história uma boa analogia para o percurso benfiquista no futebol português ao longo dos últimos anos. O tetra expôs a superioridade benfiquista em diversos domínios. Incapazes de compreenderem o sucesso benfiquista, os nossos adversários enveredaram por ataques inconcebíveis recorrendo a acusações sem fundamento e invariavelmente difamatórios. Não ajudou à nossa causa que nos tenhamos apercebido claramente da nossa superioridade e, tudo somado, resultou num estado de torpor que demorámos a abandonar, embora a tempo da ambicionada “reconquista”.

A lição a retirar é simples: o sucesso é consequência de um conjunto de boas práticas, as quais requerem renovação ou reciclagem constantes e atempadas. Paralelamente, nunca nos poderemos deixar condicionar pelas investidas adversárias. Assim estaremos sempre mais próximos dos triunfos.

Jornal O Benfica - 12/7/2019

126


O montante estratosférico da transferência deve-se, sobretudo, à capacidade presente e potencial do jogador, mas não só. A notável saúde financeira da SAD benfiquista tem, na saída de João Félix, o exemplo cabal e definitivo que a comprova.

A intransigência quanto ao valor da cláusula de rescisão tornou-se credível a partir do momento em que ocorreram, em simultâneo, alguns factores, entre os quais os sucessivos exercícios económicos lucrativos, o crescimento sustentado das receitas, a redução quase total do endividamento bancário e a facturação assinalável já feita com a alienação de passes (Jiménez; Jovic; Talisca; etc). Porém, há um detalhe nesta operação ainda mais revelador quanto à saúde económico-financeira da SAD: não houve urgência, dando até a ideia de que, para a SAD benfiquista, seria melhor que ocorresse em julho (2019/20), não prejudicando assim, do ponto de vista fiscal, as suas contas.

Mas se não havia necessidade, porque houve uma negociação? A resposta é simples: Não era preciso vender, mas tinha de se vender, procurando-se, por isso, uma solução que permitisse ao Atlético de Madrid apresentar o montante da cláusula de rescisão de João Félix. Parece paradoxal, mas é mesmo assim. A saúde financeira é evidente, mas não perpétua. Pura e simplesmente o Benfica não conseguiria acompanhar a oferta salarial proposta ao jogador. Além disso, parece-me avisado que os atletas do Benfica percebam que não lhes são cortadas as pernas, assim se acautelem os interesses do clube. E 126 são muitos milhões: Acima de um terço do passivo; Quase dez vezes o endividamento bancário; mais do dobro do passivo financeiro corrente; 75% de todo o endividamento financeiro (RC 1ºSem. 18/19)...

Jornal O Benfica - 5/7/2019

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Propagandistas


No relatório e contas do SLB relativo a 1954, página 16, há uma pequena secção dedicada à aquisição de um autocarro – o primeiro do Benfica. Comprado ao popularíssimo actor Francisco Igrejas Caeiro, o avultado investimento permitiria poupar nos crescentes custos de deslocação das equipas e proporcionar maior conforto e segurança aos atletas. Igrejas Caeiro havia adquirido o autocarro meses antes por cerca de 1100 contos. Vendeu-o por 450 e mereceu, conforme se pode ler no relatório, o seguinte tratamento por parte do Benfica: “O nosso querido amigo e prestigioso consócio”.

Acontece que Igrejas Caeiro, não obstante o seu reconhecido benfiquismo, se viu obrigado a vender o autocarro que adquirira para a sua companhia. Instado a nomear o maior estadista da sua geração numa entrevista ao jornal “Norte Desportivo”, referiu o indiano Nehru, o que foi considerado subversivo e lhe valeu, por decreto governamental, o impedimento de actuar publicamente. Sem poder trabalhar, o autocarro deixou de ter qualquer utilidade para Caeiro. À necessidade benfiquista, juntou-se a oportunidade de ajudar quem se viu privado do seu sustento.

Este é mais um excelente exemplo dos muitos que contrariam os revisionistas que acusam o Benfica de ter sido o clube do regime. Para o Benfica, Igrejas Caeiro continuou a ser, apesar de proscrito pelo Estado Novo, “querido amigo e prestigioso consócio”.

Mas verdade seja dita, esses propagandistas já nem entre os seus têm qualquer credibilidade. Veja-se a sondagem da Aximage sobre a justiça da decisão dos tribunais em punirem o FC Porto no chamado “caso dos emails”. São mais, entre portistas e sportinguistas, os que não discordam da decisão...

Jornal O Benfica - 28/6/2019

terça-feira, 25 de junho de 2019

Poderia ter sido melhor


O título nacional de futebol nos juvenis resultou de um percurso brilhante na fase final, conseguido com duas jornadas por disputar das apenas dez nesta fase. O bicampeonato neste escalão evidencia a existência de talento e atesta o desenvolvimento competente deste, o que é vital para a prossecução da aposta estratégica na formação que o clube tem vindo a implementar.

Quanto ao futsal, tratou-se de um triunfo sobre o antidesportivismo, a selvajaria, a propaganda e o investimento desmedido. E igualmente sobre uma grande equipa. Este título chegou com um ano de atraso, face à manifesta falta de sorte benfiquista na temporada transacta.

E termino pela negativa. No basket, pelo segundo ano consecutivo, não celebrámos o título nacional. Nas seis épocas anteriores, com Carlos Lisboa ao leme da equipa, ganháramos cinco vezes. A equipa técnica há-de ter as suas responsabilidades, mas essas terão de ser apuradas à luz do contexto em que, em meados de Março, Carlos Lisboa regressou. Só por ignorância, preconceito, antipatia pessoal ou má-fé se poderá escamotear que já não era possível, por questões regulamentares, remodelar o plantel reconhecidamente desequilibrado e desunido, além da queda vertiginosa do rendimento da equipa que levou à saída de Alvarez. Ainda assim, chegou à final após eliminar brilhantemente, por 3-0, o F.C.Porto, melhorando o desempenho relativamente ao ano anterior, com José Ricardo. Na final, a campeã em título Oliveirense foi mais forte, mas ficou a ideia de que o desfecho poderia ter sido outro com um pouco mais de competência em momentos decisivos. Não tenho quaisquer dúvidas que o Benfica, com Lisboa, será o principal candidato ao título na próxima época!


Jornal O Benfica - 21/6/2019

Canelada


Permitam-me a fantasia: as várias instâncias dos tribunais confirmam a sentença e o F.C. Porto é punido pelo que fez ao Benfica no “caso dos emails”. FPF, LPFP, CMVM, AdC e outras que me possa estar a esquecer agora actuam em conformidade. Estaríamos, nesse cenário, perante a possibilidade da realização de um desafio entre Canelas F.C. 2010 e F.C. Porto lá para 2028 numa divisão distrital da AF Porto.

O muito antecipado confronto entre as equipas, dir-se-á na altura, remonta a 2019 e começara a ser disputado fora do campo: em Vila do Conde, após um Rio Ave – F.C. Porto; e no Dragão, meia hora depois de um F.C. Porto – Aves. Foi evidente o antagonismo entre atletas de ambas as equipas nessas ocasiões. Apesar de vestidos com cores portistas, os do Canelas insultaram os portistas, o capitão até se despiu num acesso de fúria, enquanto os segundos assistiram impávidos e serenos, mas obviamente contrariados, ao comportamento animalesco dos primeiros, presumivelmente sancionado por bula pontifícia. Por falar em Papa, então há muito mudado para Vigo, já pouco se lhe ouve. Até o sempre solícito jornal O Jogo prescindiu de uma entrevista. Se às três primeiras perguntas a resposta repetida poderia fazer sentido, à quarta, instado a comentar as palavras do protocandidato Moreira, outra vez “Calabote” pareceu deslocado.

E chegou o desafio. Pepe, em teoria, seria suficiente para todas as macacadas dos atletas do Canelas, embora a evocação de Filipe “Vale-Tudo”, transferido há vários anos, fizesse sentido. A maior vítima foi mesmo o árbitro. Jovem, ambicioso, viu-se na contingência de não saber quem beneficiar. Um dilema inultrapassável! Pediu escusa e retirou-se.


Jornal O Benfica - 14/6/2019

terça-feira, 11 de junho de 2019

A "calaboteação"


O nosso antigo treinador adjunto Jesualdo Ferreira, cuja breve passagem pelo posto principal do comando técnico benfiquista ficou na história pela pior participação de sempre do Benfica na Taça de Portugal (eliminação, na Luz, pelo Gondomar, do terceiro escalão) e por ter adquirido temporariamente o hábito de fumar charuto sentado no banco em pose pseudo-intelectual, deu uma entrevista ao jornal O Jogo que, apesar de desinteressante, é de certa forma reveladora.

Diz então Jesualdo que os títulos conquistados por si ao serviço do F.C. Porto foram-no com “água do Luso”. E concretizou: “Fomos os melhores, não houve ajudas de ninguém”. Não será necessária grande liberdade interpretativa para constatar que Jesualdo Ferreira considerará que os anteriores títulos portistas se deveram, pelo menos em parte, a ajudas de alguém. Aproveitando a metáfora, deveu-se ao café com leite. Afinal, todos ouvimos as escutas publicadas no youtube...

Mas este aparente desassombro de Jesualdo logo é remetido para a deriva propagandística: “O túnel tirou-me o tetra”, referindo-se aos castigos aplicados a Hulk e Sapunaru no final do Benfica-F.C. Porto. A tese é simples, mas falsa.

Convém recordar que os castigos foram merecidos. E convém também acrescentar que enquanto Hulk esteve castigado (9 jogos), o FCP perdeu 9 pontos, mas nas 11 partidas anteriores em que contara com o contributo de Hulk, o FCP perdera 13. Alguém ligado ao FCP falar do “túnel” não passa de uma versão trasvestida da farsa Calabote, um mero truque da mais reles propaganda. E mais... eles lá saberão porque, aparentemente, acham sempre que um título só é conquistado se houver algum caso...

Jornal O Benfica - 7/6/2019

Aposta certa


Tenho defendido, desde que o investimento na formação acelerou significativamente e se tornou num dos pilares da estratégia para o futebol benfiquista, que a aposta em atletas formados no Seixal deverá assentar na qualidade dos mesmos e nas necessidades do plantel da equipa “principal”, ao invés de se tornar dogmática, resultado de um decreto.

À semelhança da renovação do contrato de Samaris, o anunciado prolongamento do contrato de Pizzi é, por conseguinte, uma excelente notícia porque, além de se tratar de um excelente futebolista, indiscutivelmente fundamental nos títulos recentes e obviamente com potencial para manter o seu nível nos próximos anos, confirma que o pressuposto inicial da composição do plantel refere-se à qualidade intrínseca dos jogadores, independentemente da idade ou proveniência. As portas estão efectivamente abertas aos miúdos do Seixal, mas cabe-lhes demonstrar que têm capacidade para ultrapassá-las e permanecerem no outro lado.

Pode dizer-se que, apesar de alguns hiatos, sempre foi assim. Não o nego, pois conheço todos os plantéis benfiquistas ao longo da história com alguma profundidade. O que marca a diferença no presente é a conjuntura futebolística actual, em que os níveis de investimento e a concorrência internacional pelo talento atingiram níveis inimagináveis até há duas décadas e, por isso, indutora de maior necessidade de investimento criterioso. Hoje, mais do que nunca desde que os passes dos jogadores passaram a ser transaccionados, é essencial detectar talento e desenvolvê-lo. Poupar em aquisições, acautelando a competitividade do plantel, permitirá elevar a massa salarial, sendo esta a única forma de reter talento ou, pelo menos, adiar saídas de jogadores. Estamos no caminho certo!

Jornal O Benfica - 31/05/2019

sábado, 25 de maio de 2019

Campeões!


O admirável escritor Mário de Carvalho, em tempos, referiu-se ao ego, cuja palavra, “lida na natural direitura, apenas lhe falece um 'c' para não ser 'cego'”, explicando, inadvertidamente, a temporada futebolística prestes a findar.

Os dirigentes portistas, ofuscados pelo sucesso da época passada, glorificados pelos seus acólitos e nunca perturbados pela comunicação social, julgaram ter encontrado a fórmula perfeita para, senão perpetuar, pelo menos esticar o tal sucesso. E a vida correu-lhes bem: se a competência em campo vacilava, a força fora dele compensava. Mesmo árbitros imunes à magia da supracitada fórmula teriam os seus limites, nem que, para que soçobrassem, fosse necessária uma conversa em centros de treinos.

O ego cresceu e a cegueira aumentou, iludindo quem, julgando que práticas recicladas reproduzem efeitos iguais, passearia no campeonato e apostaria na Europa. Mas a máquina em campo engasgou-se com experiências tácticas e os árbitros atingiram o ponto de saturação em Braga. Após essa partida, o F.C. Porto, até então levado ao colo, viu-se obrigado a andar e, claro, coxeou. Qualquer analista independente o preveria com facilidade caso adivinhasse o fim da permeabilidade dos árbitros à coacção de vária ordem. E houve Benfica, estrutura, Lage, miúdos do Seixal integrados num núcleo de jogadores experientes e, sobretudo, estofo de campeão. Houve demasiado Benfica para tão pouco F.C.Porto, abandonado a si próprio.

A história do ego ficou por aqui, pois já não é o que lhes dificulta a aceitação do desaire e subsequentes protestos delirantes. Esses provêm da propaganda interna e da habitual tentativa de condicionamento da época seguinte. Continuemos atentos e rumo ao 38!


Jornal O Benfica - 24/5/2019

terça-feira, 21 de maio de 2019

Samaris


O episódio caricato protagonizado por Coentrão, ao puxar os calções de Samaris, merece destaque, não por se tratar de um ex-atleta benfiquista que se desmultiplicou em juras de amor ao Benfica enquanto não percebeu que já não era desejado na Luz, nem sequer por se tratar de uma atitude só desculpável a quem, pela tenra idade ou por manifesta incapacidade intelectual, não consiga tirar a carta de condução, mas pela reacção do nosso jogador.

Samaris, ao recusar o auxílio a Coentrão para que este se erguesse do relvado, demonstrou saber o contexto em que está inserido. É jogador do Benfica e um digno representante, em campo, de milhões de benfiquistas, cuja disponibilidade para dar a mão a Coentrão seria nula no lugar do grego. E para que Coentrão percebesse a razão, não vá a compreensão lenta revelar-se novamente, Samaris indicou-lhe o símbolo que carrega na camisola, tão só o emblema do glorioso clube ao qual, por azedume, falta de carácter ou má educação, Coentrão teima em desrespeitar.

A eventual nota de rodapé dedicada a Coentrão no filme da temporada 2018/19 cairá no esquecimento certamente, ao contrário do gesto de Samaris, cujo valor extravasa o acontecimento em si, remetendo antes para a noção generalizada e provavelmente fiel à realidade de que o médio benfiquista se configura como um dos esteios do esperado sucesso, tanto pelas contribuições futebolísticas como pela liderança. Assim o indiciam várias atitudes em campo, a postura inatacável quando se viu afastado da ribalta e a provável influência no processo de aceitação, por parte do plantel, do novo treinador. Mais que merecida a renovação do seu contrato!

Jornal O Benfica - 17/5/2019

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Uma final

O Benfica está a um mero ponto de conquistar o seu 37º título nacional, o qual foi uma miragem durante grande parte da época. Mas, desde que, à 16ª jornada, a penúltima da primeira volta, Bruno Lage assumiu o comando da equipa, os encarnados encetaram um percurso glorioso merecedor de admiração e rasgados elogios que os recolocou no trilho do sucesso. Tem sido quase perfeito e, como veremos, quase único também! (tabela seguinte: Benfica no CN)



À entrada para a última jornada, o Benfica vem de uma série de oito vitórias consecutivas. O feito é interessante, mas relativamente comum na história do clube (as séries de vitórias no campeonato durante uma temporada aconteceram 96 vezes, três das quais sob o comando de Bruno Lage – uma série de nove vitórias consecutivas são duas de oito; uma série de dez vitórias consecutivas são três de oito). (tabela seguinte de acordo com a data de realização dos jogos)



A única partida, das 18 desde que Lage orientou a equipa, em que o Benfica não conquistou os três pontos ocorreu à 25ª jornada, ante o Belenenses, SAD (empate 2-2 na Luz). São 18 jogos sem averbar qualquer derrota e o aumento desta série para 19 garantirá o 37º título de campeão nacional para o Benfica (tabela seguinte: séries de jogos sem perder no campeonato durante uma temporada - de acordo coma data de realização dos jogos).



O registo torna-se ainda mais impressionante considerando apenas as deslocações. Não era só a nunca antes recuperada diferença de sete pontos para o F.C. Porto ou os níveis exibicionais que dizimavam, entre os benfiquistas, a esperança na reconquista do título. Era também o calendário que impunha deslocações a Guimarães, Alvalade, Porto (Dragão) ou Braga, entre outras. (tabela seguinte: Benfica no CN em jogos fora)



Além do registo totalmente vitorioso, é igualmente significativo constatar os resultados e, em particular, a veia goleadora. Em quatro partidas (44,44%), o Benfica marcou quatro golos. Nas 1190 deslocações anteriores, o Benfica conseguira concretizar pelo menos quatro golos em 162 ocasiões (13,61%). E conseguira pelo menos três em 347 partidas (29,16%), enquanto que, com Lage, foram seis (66,67%).

É conhecida a dificuldade teórica imposta pelo calendário que se apresentava ao Benfica quando Lage mereceu a confiança da direcção benfiquista (na sequência da derrota em Portimão, à 15ª jornada). Eis o panorama completo das deslocações:
JornadaAdversárioPos. 15ªJPos. “AJ”Pos. Actual
17Santa Clara998
18V. Guimarães566
20Sporting243
22Aves171414
24Porto112
26Moreirense655
28Feirense161818
31Braga344
33Rio Ave1177

Ou seja, o Benfica defrontou fora todos os adversários nas oito primeiras posições da tabela classificativa actual (2º ao 8º). Para se ter uma noção mais exacta da dificuldade que se apresentou aos encarnados, convém saber, por exemplo, que esta foi somente a sétima temporada em que as deslocações ao Sporting e ao Porto se saldaram por vitórias (1947/48; 1949/50; 1962/63; 1971/72; 1975/76; 1990/91; 2018/19), mas só em três destas temporadas Porto e Sporting ocuparam duas das três posições cimeiras (1962/63, 1990/91 e 2018/19). Nas restantes quatro, somente numa o Benfica venceu no reduto dos parceiros do pódio (1971/72 – V. Setúbal 2º). Em 1947/48 não venceu no Belenenses (3º); em 1949/50 não ultrapassou o Atlético (3º); em 75/76 ganhou no Boavista (2º), mas não no Belenenses (3º).

Estendendo a análise aos restantes classificados nas temporadas sobejantes (1962/63; 1971/72; 1990/91) verificamos que, em 1962/63, o Benfica não bateu o Leixões (5º), em 1971/72 o Barreirense (8º) conseguiu resistir à supremacia encarnada e, em 1990/91, é necessário chegar ao 11º classificado, o Farense, para encontrar um adversário que o Benfica não tenha conseguido vencer fora. Mais palavras para quê?

Edit: Temporadas em que o Benfica venceu dois dos três primeiros classificados no seu reduto (se o Benfica ficou nos três primeiros lugares) ou os três primeiros classificados (se o Benfica não ocupou qualquer das três primeiras posições):
1944/45; 1954/55; 1962/63; 1971/72; 1972/73; 1990/91; 2018/19.

Entre estas, as que o Benfica também venceu na visita ao 4º classificado:
1962/63; 1971/72; 1990/91; 2018/19.

E o quinto...
1971/72; 1990/91; 2018/19.


O que falta? 
Se o F.C. Porto vencer o Sporting no Dragão, no mínimo empatar, na Luz, com o Santa Clara!



JVEDGM
Jogos oficiais8710132
Jogos oficiais (C)440061
Jogos CN7610112
Jogos CN (C)330041
FORÇA BENFICA!!!!

terça-feira, 14 de maio de 2019

Elogio a André Almeida


Como o dos “livros esquecidos” de Zafón, no Benfica parece existir um cemitério das assistências esquecidas. No universo benfiquista, por mais honrarias e glória atribuídas aos vários protagonistas, há um raramente referido pelas suas valorosas contribuições: André Almeida.

No passado sábado, frente ao Portimonense, o nosso lateral direito somou mais duas assistências para golo, ambas em bola corrida. De acordo com o site transfermarkt, já são 12 da sua responsabilidade nesta temporada considerando somente a Liga NOS, o que equivale a 12,5% dos golos marcados pela equipa (12,8% excluindo dois golos da autoria de André Almeida; 13,6% se ainda retirarmos as 6 grandes penalidades). Por exemplo, o muito merecidamente aclamado Grimaldo leva 10 assistências para golo no presente campeonato. E o indiscutivelmente fantástico Nélson Semedo, sempre enormemente elogiado pela sua capacidade ofensiva, ficou-se pelas 8 em 16/17, a sua melhor temporada ao serviço do Benfica.

André Almeida, com 248 jogos “oficiais” de águia ao peito, até poderá nem ser um grande “jogador da bola”, mas é um excelente futebolista. Além da queda para o passe ou cruzamento decisivos, é seguro na posse de bola e um defesa competentíssimo, a que acrescenta polivalência. Além do mais, todos os sinais manifestam-se no sentido de ter capacidade de liderança, o que é indispensável a um pequeno conjunto de atletas em cada plantel ganhador, como têm sido os do Benfica nas últimas temporadas e se deseja na presente época. Faltam duas finais e, se correrem de feição, André Almeida, assim como Salvio, Jardel e Fejsa, será campeão pela quinta vez ao serviço do Benfica. Não é para todos (serão apenas 41)!

Jornal O Benfica - 10/5/2019

sábado, 4 de maio de 2019

Três finais


Não sei se a afirmação, em comunicado portista, que “o F.C. Porto tudo fará para que seja respeitada a verdade desportiva”, logo seguida do aviso “doa a quem doer”, deva ser entendida como piada ou ameaça. Séria é que não será.

Numa temporada em que a verdade desportiva tem sido vilipendiada jornada após jornada – a lista de decisões incompreensíveis favoráveis ao F.C. Porto ocuparia esta página inteira – os responsáveis portistas, talvez demasiado ocupados a deturparem e revelarem emails roubados ao Benfica, nunca encontraram o momento certo para pugnar pela dita, preferindo, de benefício em benefício, remeterem-se ao silêncio ensurdecedor típico de quem, nos tempos do apito dourado, entendeu não recorrer de uma punição (inócua, claro está) relativa a corrupção. Aquela “verdade desportiva”, tão útil para adulterar a tabela classificativa, é que era. Esta das últimas jornadas, em que nem o Benfica é nitidamente roubado ou o F.C. Porto claramente ajudado, não serve.

O aviso também é interessante. Quem poderá ficar dorido? Árbitros que fazem o melhor que podem e sabem, recusando-se aderir à causa portista? Árbitros que possuam estabelecimentos comerciais? Árbitros que treinam na Maia? Familiares de árbitros? O Conselho de Arbitragem, outrora competente até os portistas sentirem que o título lhes poderá fugir? Enfim, a impunidade ao longo de décadas tem sido tanta que nada surpreenderá.

Indiferente a este circo tem estado a nossa equipa, focada, jogo a jogo, no seu objectivo supremo: a reconquista. O triunfo em Braga foi brilhante, alicerçado numa segunda parte memorável e no apoio incessante nas bancadas. Foi à campeão. Terá de sê-lo, também, nas três “finais” que se seguem!

Jornal O Benfica - 3/5/2019

domingo, 28 de abril de 2019

Félix e Lage


Quem acompanha as camadas jovens benfiquistas, não se surpreende com as características de João Félix. A inteligência superlativa, a técnica ímpar, a criatividade reservada a poucos, o repentismo fascinante e o faro apuradíssimo pelo golo há muito que estavam identificados. Faltava somente, até para os mais entusiastas pelo seu potencial, aferir se teria capacidade para, num patamar competitivo mais exigente, continuar a demonstrar o seu raro talento.

Rui Vitória não lhe ficou indiferente, cedo apostando nele. No entanto, por convicção ou cedência ao modelo táctico (4-3-3, com extremos abertos), ou ambas, o anterior técnico benfiquista utilizou Félix quase sempre numa das faixas, geralmente a esquerda, e sem a firmeza que a capacidade do jogador já merecia (31 jogos possíveis, 14 utilizado, 5 titular, 3 golos, 1 assistência).

A chegada de Bruno Lage revolucionou o futebol benfiquista e é impossível dissociar essa mudança da aposta convicta em João Félix. A alteração para o 4-4-2 permitiu o regresso de Félix a uma posição central no sector atacante (ou a crença de Lage em Félix permitiu a alteração do modelo táctico), tendo logo bisado no primeiro desafio da era Lage, cuja chegada conferiu ao prodígio do ataque benfiquista o estatuto de titular, o qual actuou em 25 jogos (24 no onze inicial), fazendo 15 golos e 7 assistências, além de se revelar peça fulcral em toda a dinâmica ofensiva da equipa. Só na Alemanha Félix não jogou na posição em que mais se tem notabilizado. Mas se há alguém autorizado a ter tomado essa decisão, é Lage. Não só por ser o treinador, mas por ser aquele que mais acreditou no “miúdo” e verdadeiramente o lançou.

Jornal O Benfica - 26/4/2019

Cinco finais


Muito se tem versado sobre vaias, abandonos prematuros do estádio, manifestações de impaciência, cadeiras vazias em lotações esgotadas, apoio aquém do esperado ou exigível e afins, ao ponto de trespassar a falsa ideia de existência de uma certa insatisfação geral entre os benfiquistas com o momento que a equipa de futebol atravessa. Nada mais falso, ou seria caso para perguntar quem salvaria o Benfica dos benfiquistas...

Não nego que ocorra qualquer dos comportamentos acima referidos. O que refuto é a conclusão errada da constatação desses comportamentos. Não entendo as vaias, nunca saio do estádio antes da equipa se juntar no centro do relvado para saudar os adeptos e ser ovacionada, sou defensor militante da paciência redobrada que se deverá dedicar aos nossos jogadores a darem os seus primeiros passos de águia ao peito, só falho um jogo muito raramente e empresto o meu red pass nessas ocasiões e apoio na medida que a minha personalidade me permite. Mas não é de hoje que estranho quem se comporta de outra forma. Vou à bola há quase quarenta anos e sempre foi assim. Não há qualquer novidade, apesar das variantes do tempo em que vivemos. Os benfiquistas são e sempre foram exigentes e sobretudo são susceptíveis às contrariedades, sejam elas reais, antecipadas ou imaginadas.

E aí reside a questão. Para o benfiquista médio, o Benfica vence por direito divino. Não ganhar é contra-natura, não faz qualquer sentido. Julgamo-nos meros executantes de uma história gloriosa previamente determinada, não nos permitindo sequer, entre os mais puristas, de falarmos dos adversários (mesmo que intimidem árbitros). Venham lá as cinco finais!

Jornal O Benfica - 19/4/2019

Seis finais


Dos Goebbels de algibeira portistas já nada me surpreende e muito menos estranho a voluntariosa irredutibilidade dos idiotas úteis do Lumiar na linha da frente do anti-benfiquismo primário, prontificando-se os últimos sempre a reproduzirem acefalamente qualquer insinuação ou difamação brotada do antro de Contumil ou de qualquer das suas sucursais. Os programas televisivos de debate futebolístico, salvo raras excepções, são demonstrativos de uma aliança de interesses entre uns e outros. Ambos ganharão se o Benfica não ganhar, é assim a (triste) vida.

As reacções à última jornada seriam inauditas se não estivéssemos já calejados. Para aquela gentalha, o Benfica foi, na prática, beneficiado em Santa Maria da Feira porque... não foi prejudicado. A máquina portista de destruição do futebol, vulgo “comunicação”, nunca primou pela seriedade, mas tem vindo a bater em novos fundos desde que Bruno Lage assumiu o comando técnico benfiquista. Bem poderá Lage apelar (quixotescamente) à paixão pelo futebol e valorização do mesmo, mas enquanto for ganhando não encontrará por certo qualquer eco ou mesmo ressonância das suas palavras por parte de gente que de apaixonada por futebol nada tem, muito menos honestidade, seja intelectual ou outra.

É este o estado em que o futebol falado está, não querendo eu sequer entrar pelo futebol jogado fora das quatro linhas, cujas tácticas há muito são conhecidas. E tendo em conta os sucessivos benefícios da arbitragem ao F.C.Porto nesta temporada, foram sábias as palavras de alguém que não sei identificar: “O Benfica tem agora seis finais para recuperar 18 pontos”. Confio plenamente na capacidade da nossa equipa para consegui-lo.

Jornal O Benfica - 12/4/2019

sábado, 6 de abril de 2019

Calabote II


Por vezes é útil colocarmo-nos no lugar dos outros. Imaginemos um cidadão português normal que por acaso é portista. À partida será honesto, mesmo que, por vezes, recorra à chico-espertice, desde que entendida em abstracto, sem dar um rosto às vítimas. Gosta, como qualquer um, de ter alegrias e compreende-se que relativize um ou outro comportamento desviante que coloque em causa a plenitude da sua felicidade. José Maria Pedroto, no final dos anos 70, inventou o “caso Calabote”, bem melhor, admitamos, que comprimidos para portistas dormirem descansados.

Desde então, a menção ao quinhentinhos, à agência Cosmos, à fruta, ao café com leite e outros encontrou sempre na farsa Calabote o necessário respaldo para os portistas que, de boa fé, celebram o sucesso do seu clube, o seu próprio sucesso. Nesta temporada, em que rara é a jornada em que o FC Porto não é beneficiado, as consequências de alguma coisa são evidentes. Só ainda não sabemos exactamente que coisa é essa. E a inventona Calabote já é tão velha que de pouco serve.

Mas a metodologia Calabote mantém-se actual. A deturpação do conteúdo de emails roubados ao Benfica revigorou-a. Para eles é indiferente se o Benfica condicionou, ou não, o sector da arbitragem. O importante é passar a mensagem que o actual estado da arbitragem deve ser analisado à luz de um qualquer papão. Daqui a uns anos, tenho a certeza, ainda descobrirão que Calabote enviou uns emails em 1959. A lógica, para o tal portista médio que pretende dormir descansado, é simples: “O Pinto da Costa é um trafulha, mas são todos”. E, de premeio, ainda se condiciona árbitros menos próximos à causa. Triste futebol português...

Jornal O Benfica - 5/4/2019

terça-feira, 2 de abril de 2019

Pastelaria “A Liga”


Muito honestamente, e sem qualquer ponta de ironia, nem grossa nem fina, não temo a cimeira presidencial quase secreta entre Braga e Porto que antecedeu o confronto entre as duas equipas. Por duas razões principais: Parece-me evidente que António Salvador se caracteriza pela intransigência na defesa dos interesses do clube a que preside; E porque desde o início do campeonato que se percebeu existir um mecanismo de apoio aos objectivos portistas que dispensam, por tão oleado e eficiente que se tem revelado, manobras ou vídeomanobras de última hora. Só me surpreende a escolha de um qualquer restaurante, ainda para mais vazio, quando, escassos dias antes, foi inaugurada uma pastelaria catita, de Artur Soares Dias.

Por falar nisso, aviso já que não estive presente nesse evento. Ouvi dizer, no entanto, que alguns dos convidados, nomeadamente os afectos ao F.C. Porto, se sentiram desiludidos pela literalidade dos comes e bebes, pois esperavam a justa retribuição da sua presença e patrocínio ao empreendedorismo de um humilde cidadão que por acaso é árbitro de futebol. Café com leite era mesmo café com leite e a fruta não passou, ao que parece, de laranjas, bananas e ananases.

Artur Soares Dias, agora, não mais poderá preparar-se na Maia receando apenas visitas incomodativas de adeptos portistas que, ocorrendo numa semana, facilmente são escamoteadas na seguinte. Terá ainda, coitado, que se preocupar com a montra do seu estabelecimento comercial, não vá acontecer o mesmo que à do seu colega Manuel Mota. Mas sejamos práticos e bem esperançados: Há muito que Artur Soares Dias accionou o seguro de protecção das suas vitrines. Talvez um dia venha mesmo a ser presidente da Liga.

Jornal O Benfica - 29/3/2019

quinta-feira, 21 de março de 2019

Capelada 18/19


Acho que todos os Capelas deveriam deixar a arbitragem. Não gosto daquele que, às vezes, assinala penáltis mais rápido que a sua própria sombra, nem do outro que, noutras ocasiões, considera que o peito começa no dedo mindinho da mão esquerda e termina no mindinho da outra. Também detesto o que gere os cartões durante algumas partidas e o outro que, ao ver o Cardozo dar uma palmada na relva da Luz frente ao Sporting, pronta e inapelavelmente o admoestou com o segundo amarelo. E então daquele que perde a noção do tempo, chego a sentir repulsa. Na verdade, eles parecem vários, mas são só dois. O irritante que apita jogos do Benfica e o solícito que apita jogos do FC Porto. Ambos são péssimos e, em boa verdade, são o mesmo, parecendo só mudar a postura e a aplicação de critérios consoante as cores.

Recuso-me a acreditar que Capela prejudica o Benfica e beneficia o Porto sistematicamente de forma propositada. Prefiro crer na sua honestidade, mas também na sua incompetência e permeabilidade aos inúmeros condicionamentos a que os árbitros de futebol são sujeitos. Preferiria, assim, que Capela pedisse escusa de apitar jogos de futebol ao mais alto nível pois já se tornou por demais evidente que o homem, seja por que motivo for, não tem condições para actuar competentemente.

Mas há mais Capelas. A temporada 2018/19 está a ser, quanto à arbitragen, uma vergonha sem precedentes. Antigamente todos sabíamos as razões: de viagens a café com leite, houve de tudo um pouco. Mas agora, e existindo ainda vídeoárbitro, é incompreensível haver erros atrás de erros em jogos do Benfica e FC Porto e quase sempre em benefício do mesmo. Não pode ser normal, nem é um acaso.


Jornal O Benfica - 22/3/2019

Sólidos


Por vezes devemos olhar para a realidade dos outros clubes para darmos a devida importância a medidas de gestão tomadas no nosso. A situação do Belenenses, na relação com a SAD, é elucidativa quanto aos perigos de privilegiar soluções milagrosas, em nome de amanhãs que cantam, para a resolução de problemas estruturais. Para já, é ainda caso único ao mais alto nível do futebol português (havendo inúmeros exemplos internacionalmente), mas o histórico Atlético deixou-se enredar numa situação com contornos semelhantes. E esta semana, no jornal A Bola, Dias Ferreira, conhecido sportinguista, defendeu a alienação da maioria do capital da SAD do seu clube, soçobrando perante a míngua de títulos no futebol e o crónico estado lastimoso das contas da SAD leonina.

Ora, nada disto nos diria respeito se pudéssemos assegurar que o Sport Lisboa e Benfica e as suas participadas gozariam da capacidade de perpetuar as suas excelentes situações económico-financeira e desportiva. Se hoje sabemos que quem está à frente dos destinos do clube tem provas dadas nestas e noutras matérias, não seria ajuizado supor que, no futuro, será sempre assim, até porque nós próprios já sofremos as agruras da gestão irresponsável, com as consequências que todos conhecemos.

É, portanto, indispensável frisar e reiterar a relevância da operação de transferência, na sua totalidade, da Benfica Estádio e BTV para o clube. A robustez associativa, patrimonial e económico-financeira do clube será sempre o melhor travão a aventureirismos.

P.S. Jogámos bem frente à Belenenses, SAD, assim como o vínhamos fazendo desde a entrada de Lage. Se mantivermos o nível exibicional, seremos campeões!

Jornal O Benfica - 15/3/2019

terça-feira, 12 de março de 2019

Reconquista


O declínio vertiginoso da carreira de Pepe é evidente: Ao serviço do Real Madrid, pontapeou um adversário deitado no relvado; Em Janeiro, pontapeou a canela do irrequieto João Félix e deixou-se cair prostrado na relva a contas com dores imaginárias; No sábado passado, perante a ameaça da aproximação do irrequieto João Félix, pontapeou a atmosfera, fez uma acrobacia apalhaçada e contorceu-se de dores, também imaginárias – louve-se a criatividade – tendo ainda a energia para, num acto fingido de extraordinária superação, insultar o adolescente Félix. Indiferente a estas tropelias de um reformado activo, o presente e futuro do futebol português limitou-se a sorrir e a ignorar o resquício de um outrora grande jogador, apesar da sua latente e nunca perdida deslealdade com colegas de profissão. Venha o próximo, pareceu pedir Félix.

Entretanto, os Goebbels de algibeira portistas já entraram em acção, achando que o mundo cristalizou e que o Benfica actual, com vários campeões no seu plantel (alguns tetra e vários tri), não saberá lidar com tentativas bacocas do uso de psicologia invertida.

Não, caros imprestáveis, ninguém no Benfica acha que se pode encomendar já as faixas de campeão. Todos sabemos que serão dez árduas finais e que, a nós, por muito que vos possa parecer estranho – lá saberão como se “fazem as coisas” – ninguém nos dá nada. Não deixa, no entanto, de ter uma certa piada que gente afecta ao clube mais vídeo ajudado na primeira volta do campeonato e que desperdiçou nove pontos para o agora líder Benfica, ache que a pressão estará no lado de quem recentemente celebrou um tetra e que, nos últimos dois meses, tem demonstrado cabalmente que é muito melhor...

Jornal O Benfica - 8/3/2019

sexta-feira, 1 de março de 2019

Neofilarítmico me confesso

Durante a primeira parte do Benfica – Chaves dei por mim a contar a quantidade de boas jogadas executadas pela nossa equipa. Não restrinjo o conceito a oportunidades de golo, mas a boas iniciativas colectivas nos vários momentos do jogo, desde a criação de uma ocasião soberana à desenvoltura com que o jogo benfiquista flui a partir de recuperações de bola. Não durou muito o exercício, perdi-me.

Ao intervalo, enquanto pensava na minha tentativa infrutífera de encontrar um facto que complementasse a subjectividade inerente à minha avaliação muito positiva sobre a qualidade de jogo da nossa equipa, lembrei-me de um dos meus contos preferidos de Aldous Huxley, “Eupompus deu esplendor à arte pelos números”. Nesse conto, Huxley refere os auto-denominados filarítmicos, cujo surgimento se deu após a observação obsessiva da obra-prima do pintor Eupompus, com cerca de 33 mil cisnes representados. Nada mais fizeram que contar pois, para os filarítmicos, contar e contemplar era a mesma coisa.

E eu conto, oh se contemplo. A veia goleadora de Seferovic, sem grandes penalidades, líder no campeonato; Rafa, a um golo do seu máximo de carreira numa temporada; as manifestações do génio de João Félix, ele próprio seguidor de uma escola, a messiana; os oito golos de Jonas no estádio da Luz esta época em pouco mais de cinco jogos completos, somando os minutos de utilização; os dribles de Grimaldo; os passes admiráveis de Gabriel; as assistências de Pizzi; os desarmes de Florentino... e, sobretudo, os pontos recuperados na classificação que nos permitiram voltar a sonhar com o título. Ciente das dificuldades que encontraremos no Dragão, sinto uma confiança inabalável na nossa equipa. Venceremos!


Jornal O Benfica - 1/3/2019

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

À Benfica!


Não menosprezo o efeito da chamada “chicotada psicológica” no desporto. Geralmente, a troca de um treinador provoca o reagrupamento em torno de objectivos da equipa, realinha o foco e fomenta a necessária disponibilidade física e mental dos jogadores, além de gerar benefícios decorrentes de novas dinâmicas, em particular as tácticas, surpreendendo adversários. Porém, o seu efeito tende a ser de curto prazo, logo emergindo eventuais defeitos antigos e revelando-se susceptível a resultados aquém das expectativas.

Mas o que temos constatado na nossa equipa de futebol extravasa o domínio da psique ou da mera novidade. Bruno Lage conseguiu, em pouco tempo, redefinir a identidade da equipa, impor uma mentalidade consentânea com os pergaminhos do clube e, sobretudo, introduzir variações tácticas que permitem à equipa superiorizar-se globalmente aos seus adversários no decorrer das partidas. Outros bons sinais derivam da quase ausência de oscilações exibicionais significativas independentemente do nível dos adversários, do local do jogo ou das alterações no onze. Para utilizar um jargão da moda: há processo (e é bom).

Ninguém sabe o que o Benfica poderá fazer esta temporada, assim como ninguém ousará alvitrar limites à ambição benfiquista. No entanto, parece-me evidente que, independentemente dos resultados no final da temporada (e esta é uma condição difícil de aceitar num clube como o Benfica), os benfiquistas elogiarão o trabalho desenvolvido por Bruno Lage. No presente todos já o fazemos: os benfiquistas, a atravessarem um raro período de unanimismo em torno de um dos seus protagonistas; e os adversários, como habitual, variando entre o desdém, a relativização ou a difamação.

Jornal O Benfica - 22/02/2019

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Dez


1 – Penitencio-me por não ter escrito a minha crónica nas últimas duas semanas. Entre terminar um livro e celebrar golos, não me sobrou tempo para mais nada;
2 – Os triunfos ao Sporting souberam a pouco e que melhor elogio se poderia fazer à nossa equipa? O jogo resumiu-se a termos sido Benfica e eles Sporting;
3 – Desde miúdo a sonhar com uma dezena de golos marcados numa partida a sério (com o devido respeito pelo Riachense, Marco e Marinhense) e finalmente aconteceu. Quero mais!;
4 – É injusto individualizar os méritos de tamanha goleada. A fazê-lo, Bruno Lage;
5 – E João Félix: desfrutemos do seu talento enquanto pudermos;
6 – Além de Florentino. O futuro, ao contrário dos adversários, passará inevitavelmente por ele;
7 – A benfiquista Sofia Vala Rocha, política e cronista, insurgiu-se contra a goleada por considerar que o Benfica desrespeitou o Nacional ao continuar à procura do golo. Está enganada. Desrespeitador seria desacelerar: por paternalismo aos nacionalistas e por castrar a alegria de (quase) todos os benfiquistas;
8 – A reconquista dos adeptos está consumada. Que venha a do título. Com boas arbitragens em jogos do FC Porto estaríamos destacados na liderança;
9 – Casillas afirmou que “a norte de Portugal é Porto, Porto, Porto”. Detecto-lhe um grave problema de percepção da realidade. Além de que “a norte de Portugal” fica a Galiza. Pinto da Costa merece uma medalha de mérito de turismo ocasional de Vigo, mas creio que o Celta, ainda assim, continua a ser o clube com mais adeptos na cidade;
10 – Um abraço ao Manuel Arons de Carvalho, que manifestou a sua preocupação pela minha ausência destas páginas. Admiro muito o seu benfiquismo e agradeço a atenção!


Jornal O Benfica - 15/2/2019

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Eliminados


Que não reste qualquer dúvida: o Benfica bateu-se muito bem contra um adversário dificílimo na meia-final da Taça da Liga. Este adversário, exibindo-se ao nível que demonstrou na passada terça-feira, é praticamente intransponível. O modelo táctico parece estranho, mas o futebol resume-se à eficácia.

Com Xistra ao meio, apoiado, nas alas, por Nuno Pereira e Rui Teixeira, Rui Costa a jogar por fora e Fábio Veríssimo e André Campos na retaguarda, o nosso adversário, sob a orientação de Fontelas Gomes e o respaldo emocional e carreirista, embora, acredito, imaterial e estranhamente casto quanto aos prémios, pois já não estamos nos anos 90, de Pinto da Costa, condicionou a nossa equipa ao ponto de não ter transformado em golo um golo limpo.

A exibição do adversário, como digo, foi eficaz. A cheerleader Freitas Lobo aprovou. Fale-se em futebol, não em casos, foi o slogan. E como escrevo imediatamente ao desfecho da partida, só poderei tentar adivinhar, mas com elevada probabilidade de acerto, que a claque não oficial do nosso adversário, curiosamente chamada “Tribunal do Jogo” e sempre fervorosa no apoio a exibições destas, aprovará explícita ou implicitamente as, por certo, dificílimas intervenções técnicas e tácticas na partida. E para Pedro “foi uma festa” Proença, tudo estará bem, assim haja brilhantina.

Haverá alguma explicação plausível para Xistra ter visto e revisto o lance do golo de Rafa, cuja intervenção de Seferovic foi claramente legal, mas não ter pelo menos reavaliado a falta óbvia sobre Gabriel no primeiro golo portista? Ou até o eventual empurrão de Marega a Grimaldo no segundo? Sobre o golo anulado, nem peço explicação, ainda vou parar a um manicómio...

Jornal O Benfica - 25/1/2019

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Ode arbitral


Nesta semana instalou-se a polémica sobre a omissão, num manual escolar de português do 12ºano, de três versos do poema “Ode Triunfal”, de Fernando Pessoa, sob o pseudónimo Álvaro de Campos. A editora rejeita a censura, ressalvando que, na versão do manual para os professores, o poema está completo, oferecendo-lhes a possibilidade de decidirem se abordam, em contexto de sala de aula e de que forma, os tais versos.

Chamem-me conspirativo, fantasioso ou mero incauto adepto sofredor impotente perante o estado calamitoso da arbitragem do futebol português, mas dei por mim, ao assistir a esta celeuma, a pensar numa eventual causa desta bandalheira absolutamente nefasta para a competição futebolística que se deseja, por quem de bem, salutar, mas é, pelo contrário, assustadoramente inquinada, remetendo-nos para tempos que julgávamos, ingenuamente, mortos e enterrados.

É como se, perdoa-me a analogia Pessoa, o protocolo da vídeoarbitragem tivesse sido escrito por Pinto da Costa sob o pseudónimo Fontelas Gomes e fossem entregues, a árbitros e outros interessados, duas versões diferentes. Aos primeiros, a completa. Aos restantes, a reduzida. E, assim, os árbitros, mais qualificados para discernir quando, onde e a quem aplicar as regras omissas, poderiam zelar pelo bom funcionamento do sistema no seu todo. Aqueles árbitros que, por conveniência, interesse próprio ou até salvaguarda da sua saúde, nomeadamente enquanto se preparam no Centro de Alto Rendimento da Maia, se sentissem necessitados, teriam então um mecanismo adicional de sobrevivência ao seu dispor.

Só assim se explicaria a sucessão de más arbitragens em jogos do FC Porto, a favor deste, ao longo da primeira volta do campeonato.


Jornal O Benfica - 18/1/2018

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Liga da indecência


Até ao momento em que escrevo, a Liga, ou qualquer dos seus dirigentes a título individual, desde o presidente, certamente ocupado a retocar o penteado, à figura decorativa do provedor do adepto (ainda existe ou foi trocada por um bibelot?), ainda não se dignou a recriminar ou sequer comentar o ataque bárbaro, perpetrado por dois selvagens, em Grijó, Gaia, no passado dia 23, ao autocarro em que cerca de 60 benfiquistas regressavam do estádio da Luz após a fantástica goleada ao Braga. Exultou com a afluência aos estádios nesse dia, mas sobre Bruno Simões, gravemente ferido no incidente, não teceu qualquer consideração ou sequer lhe desejou uma rápida recuperação, o mínimo se houvesse um pingo de decência em quem dirige aquela instituição.

Bruno Simões foi o único hospitalizado, mas a agressão, na forma tentada, visou todos os passageiros daquele autocarro. Imagine-se a dimensão da desgraça se uma das pedras tivesse atingido o condutor... acrescente-se que é evidente que Bruno Simões e os seus companheiros de viagem trataram-se de vítimas ocasionais de um acto criminoso motivado pelo ódio ao Benfica. Moralmente, todos os benfiquistas foram atacados. Só não estávamos, felizmente, no sítio errado à hora errada.

Sobre o comentário reles, mais um, do presidente portista acerca do ocorrido, julgo que é mais revelador da sua personalidade e carácter que outra coisa qualquer. Não surpreendeu, assim como não surpreende a pronta reprodução por parte de alguns dos seus acólitos. Uma autêntica cartilha... Ah, ainda existe o IPDJ!?!?

P.S. Esta é a minha ducentésima crónica publicada no jornal O Benfica. É, para mim, um privilégio e uma honra incomensuráveis. Obrigado!

Jornal O Benfica - 4/1/2019

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

6-2


1 – Para o Montalegre, aproveitar a visita do Benfica para melhorar as instalações desportivas, ao invés de perseguir uma receita maior, foi uma grande vitória;

2 – A exibição benfiquista não entusiasmou, como outras em circunstâncias semelhantes nas últimas temporadas. Passámos, objectivo cumprido;

3 – Teve, no entanto, a particularidade de permitir, ao Benfica, completar uma série de seis vitórias consecutivas sem golos sofridos em competições oficiais. Melhor, só por dez vezes em toda a nossa história;

4 – Apesar da estatística mencionada acima, era pouco o entusiasmo. Mas o triunfo por retumbantes 6-2 ao Braga, um “candidato ao título”, foi esclarecedor. É inequívoco que este Benfica, com esta equipa técnica e estes jogadores, tem potencial para a denominada reconquista;

4 – Jonas é uma peça fundamental nesse desígnio: Marcou nas seis últimas jornadas do Campeonato Nacional, concretizou em nove das dez partidas em que foi titular. Entretanto já é o 13º melhor marcador da história do Benfica em competições oficiais;

5 – Também Gedson, no extremo oposto da distribuição etária no nosso plantel. A sua exibição frente ao Braga foi, a todos os níveis, notável;

6 – E também a de Grimaldo. Este é o caminho: uma mescla de jogadores experientes e jovens promessas, do Seixal ou de outras paragens;

1 – Não há jornada que o FC Porto não seja beneficiado pela arbitragem, deve ser um recorde;

2 – Foi com muita pena que soube da saída de Pedro Nunes do comando técnico da nossa equipa de hóquei em patins. Ganhou muito, porém menos do que mereceu. Nunca me esquecerei das arbitragens em Valongo e Alverca (Sporting) que obliteraram um inédito tetra transformando-o num parco bicampeonato.

Jornal O Benfica - 28/12/2018

Números da semana (170)

1 O Benfica ganhou o Campeonato Nacional de estrada (5 kms). A nível individual, o campeão nacional foi Luís Oliveira, do Benfica; 5,1% ...