Num país como Portugal, em que o clubismo é distribuído
assimetricamente e concentrado em três clubes, seria impensável que a maioria
dos dirigentes das diversas entidades que tutelam e gerem o futebol e as suas
competições não fossem adeptos de Benfica, Porto ou Sporting. Impensável seria
também que esses dirigentes não se tratassem de adeptos militantes, ou não
seriam, de facto, verdadeiros adeptos.
Logo, parece-me natural que, anteriormente ao exercício de
funções com responsabilidade na gestão do futebol, esses dirigentes, então
meros adeptos, tenham exteriorizado o seu amor clubístico sob as mais diversas
formas, incluindo a antipatia pelos rivais. Daí até ao acinte com que Sónia
Carneiro, a directora executiva da Liga, se terá referido ao Benfica, vai
alguma distância. O seu pedido de demissão seria a atitude mais honrada, mas
essa não é, do meu ponto de vista, a principal questão.
Preocupa-me muito mais que a Liga e o seu presidente Pedro
Proença, um antigo árbitro com uma carreira previsivelmente bem-sucedida na
arbitragem – as inúmeras actuações desastrosas em desfavor do Benfica assim o
indicavam – tenham saído a terreiro para defender a portista e antibenfiquista
Sónia Carneiro quando, há poucos meses, deixou cair o benfiquista João Pinheiro
devido, de acordo com o jurista demissionário, à pressão exercida pelo Sporting
e, subsequentemente, por não ter sentido, da parte de Pedro Proença, o apoio
que entendia merecer. Estes dois pesos e duas medidas são um claro exemplo de
quem é o dono de Pedro Proença. Antes ladrava com um apito, agora fá-lo
engravatado. Um querido! E a caravana do tetra lá vai passando, desejavelmente
a caminho do penta.
Jornal O Benfica - 14/7/2017