Diz-se vivermos na era da pós-verdade, em que os factos são
distorcidos apelando-se a crenças pessoais e emoções para condicionar a opinião
pública. Discordo porque a referência à pós-verdade nestes termos dá a ideia de
se tratar de uma novidade, quando não o é. Aliás, Nietzsche já defendia a
inexistência de factos, subsistindo antes as versões.
Há, porém, duas diferenças do nosso tempo em relação a todos
os outros: O acesso generalizado à “informação” e a velocidade da sua
propagação. Torna-se, portanto, fundamental que a pós-verdade seja denunciada e
que os seus instigadores sejam combatidos tão célere quanto eficazmente. Pode-se
combater a pós-verdade com outras pós-verdades, criando confusão. Mas casos há
em que a base de sustentação da pós-verdade é tão frágil que os factos, se bem
comunicados, serão suficientes para a desmontarem.
Dou dois exemplos: O “caso Calabote” e o “clube do regime”.
Se o primeiro se desmonta recordando que o FCP foi campeão nessa temporada e
divulgando crónicas de jornais da época, declarações de intervenientes e o
processo que levou à irradiação do árbitro – por ter mentido no relatório e não
pela sua actuação – já o segundo bastará evocar que o SLB, ao contrário dos
outros “grandes”, nunca deixou de ter eleições livres e democráticas durante a
ditadura e teve, entre as principais figuras do clube inúmeros declarados
oposicionistas. No entanto, o segundo exemplo é de tal forma grave que o SLB
não deverá, do meu ponto de vista, limitar-se a desmentir quem usa e abusa
dessa acusação vil e infundada, devendo também colocar processos por difamação
a quem a promove e a quem, quais meras caixas-de-ressonância, a difunde na
esfera pública.
Jornal O Benfica - 1/9/2017