Sempre que é alienado o passe de um atleta querido pelos
adeptos, logo é evocada a inevitabilidade dessa operação. Na larga maioria dos
casos é, de facto, inevitável recusar ofertas de “tubarões” do futebol europeu,
não só pela necessidade do clube de obtenção de receitas elevadas, mas também
pela vontade dos jogadores: Os que são transferidos, porque passarão a auferir
ordenados mais elevados; E os que permanecem, pois, caso se entendesse cobrir
as ofertas salariais de outros emblemas de forma a evitar a saída dos jogadores
mais assediados, os restantes exigiriam maiores contrapartidas, as quais, de
forma a manter o necessário equilíbrio no plantel, teriam que ser atendidas.
Esta é uma questão estrutural do futebol português, que
dificilmente será solucionada. Os principais clubes nacionais terão que
continuar a notabilizar-se pela formação e scouting, servindo de tubos de
ensaio de jogadores de nível europeu.
No contexto actual, só o Benfica, pela capacidade de
captação de receitas operacionais, poderá contrariar este fado. Para tal
necessitará de preservar a tendência de crescimento da facturação e a
competência na formação e scouting, além de mitigar o constrangimento que o
passivo oneroso representa. A revitalização desportiva e financeira da Benfica,
SAD, alavancada em capitais alheios, desde o ano 2000, assim o determinou,
reflectindo-se, no presente, em custos financeiros pesados.
A SAD benfiquista tem meios para reduzir drasticamente os
custos financeiros, mas não o poderá fazer no imediato porque perderia
competitividade no curto prazo. A redução suave do passivo é o caminho certo, o
tricampeonato assim o demonstra.
Jornal O Benfica - 10/6/2016