Disputado apenas pouco mais que um terço da temporada, seria
extemporâneo tirar conclusões acerca do desempenho das equipas e,
principalmente, do que está reservado para o futuro de cada uma delas. No
entanto é já tempo suficiente para, tanto no plano nacional como no
internacional, identificar tendências.
Nas competições domésticas, o Benfica é o clube que mais
regularidade tem demonstrado. Venceu a Supertaça, continua na Taça de Portugal
e lidera o campeonato. Em 13 jornadas, tem dez vitórias, dois empates e uma
derrota. De salientar que, ao contrário da temporada passada, em que, na
primeira volta, saiu derrotado do Dragão e da Luz frente a FC Porto e Sporting,
respectivamente, na presente época alcançou um empate e uma vitória no clássico
e no dérbi. Lidera destacado o ranking das equipas mais concretizadoras e
apresenta a segunda melhor defesa.
Quanto ao FC Porto, o segundo classificado, tem-se
verificado alguma oscilação exibicional com repercussão nos resultados obtidos.
A série de empates consecutivos, incluído o já referido no Dragão, cedido nos
descontos frente ao Benfica, impede os portistas de estarem mais próximos da
liderança, salientando-se o bom desempenho defensivo, com somente cinco golos
sofridos. A eliminação prematura da Taça de Portugal foi um sério revés no
entusiasmo e nas pretensões dos azuis e brancos.
Sobre o Sporting, embora as aspirações relativas ao seu
principal objectivo, a conquista do Campeonato Nacional, continuem intactas,
nota-se uma certa perturbação entre os seus adeptos, embora aparentemente longe
de indiciar a exigência de um novo rumo. A aposta em Jorge Jesus foi reforçada
(aumento de cerca de 25% do ordenado líquido de impostos) e o plantel
apetrechado. Tendo em conta o desempenho na edição anterior do campeonato, em
que ficou a apenas um ponto do campeão e este bateu o recorde absoluto de
pontos na competição (88), as expectativas eram muito elevadas em Agosto. Não
obstante, seria errado, neste momento, considerar o Sporting menos candidato ao
título que os seus rivais, o que, num clube que viveu uma situação financeira
catastrófica recentemente e está afastado do título desde 2002, não deixará
certamente de ser encarado como positivo.
Relativamente às restantes equipas, o Braga, a apenas seis
pontos da liderança, depois de já ter visitado a Luz e o Dragão, está a ter um
bom desempenho. Assim como o quinto classificado, o Vitória de Guimarães, cuja
militância dos seus adeptos, podendo ser considerado actualmente e neste
domínio, o “quarto grande” do futebol português, já merece que a sua equipa
encontre estabilidade competitiva quanto à luta pelo apuramento para as
competições europeias. Destaque ainda para o Chaves que, regressado à primeira
divisão após uma longa ausência, se encontra no 7º lugar e eliminou o FC Porto
da Taça de Portugal.
A nível internacional, a situação é diferente. O apuramento
de dois clubes para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, Benfica e FC
Porto, é merecedor de elogios. No entanto, as participações desastrosas de
Sporting, derrotado pelo Légia Varsóvia que não obtinha uma vitória na fase de
grupos da Liga dos Campeões há 21 anos, e Braga, este último na Liga Europa,
mancham a temporada. Do Arouca e Rio Ave pouco se esperaria, o que se veio a
verificar com as suas eliminações prematuras na Liga Europa.
Benfica e Porto têm sido os grandes contribuintes para o
ranking de Portugal nas competições europeias, em que o apuramento directo de
dois clubes para a fase de grupos da Liga dos Campeões e a participação de um
terceiro nas rondas de qualificação é a consequência mais relvante. O ranking
do coeficiente de clubes da UEFA, conforme explicado no seu site, “tem por base
os resultados registados pelos clubes que competiram nas cinco anteriores épocas
da Liga dos Campeões e Liga Europa. Este ranking determina a hierarquia dos
cabeças-de-série em todos os sorteios das competições da UEFA”. A pontuação de
cada clube é determinada pelos resultados que obteve nas cinco temporadas
anteriores (há um sistema de pontuação de acordo com as fases atingidas de cada
prova) e mais 20% do coeficiente da respectiva federação referente a esse mesmo
período (total de pontos atingidos por todos os clubes de cada federação,
divididos pelo número de participantes).
Tanto encarnados como azuis e brancos estão bem colocados no
ranking. O Benfica está em 8º e o FC Porto em 13º. Braga e Sporting ocupam as
51ª e 52ª posições respectivamente. No entanto, devido à regra dos 20% do
coeficiente de cada federação contar para o ranking de cada clube, os dois
primeiros têm sido prejudicados pela performance dos restantes e vice-versa.
Por exemplo, cerca de 17,5% da pontuação total do Sporting advém do desempenho
dos seus rivais, mas somente 1% da pontuação do Benfica está relacionada com o
desempenho do seu rival lisboeta.
Este facto é particularmente significativo porque, não só
permite obter uma visão global do desempenho de cada clube nas competições
europeias (além de influenciar os sorteios, a prova e a fase da mesma em que
cada clube inicia a sua participação), como se tornará ainda mais determinante
a partir de 2018/19, quando a parcela respeitante ao coeficiente da federação
deixar de ser considerado na elaboração do ranking de clubes.
Esta modificação tem um objectivo claro e assumido por parte
da UEFA: Reduzir os benefícios a clubes sem pergaminhos recentes na Europa e que
provenham de países melhor colocados no ranking. De acordo com os meus
cálculos, se este coeficiente já não fosse atribuído, o Sporting ocuparia,
neste momento, o 66º posto. Em sentido contrário, manter-se-á o chamado “pote
dos campeões”, que valoriza a obtenção do título nacional nos países cuja
posição no ranking é elevada. Também ao nível financeiro serão introduzidas
alterações, com repercussão na forma como os prémios monetários serão
distribuídos. A partir de 2018/19, a distribuição do dinheiro a clubes
participantes na Liga dos Campeões terá em conta, também, o desempenho nas dez
temporadas anteriores e ainda uma pontuação atribuída aos vencedores das provas
europeias, com pesos diferentes utilizando um critério temporal (últimos 5
anos; a partir de 1992/93; Antes de 1992/93).
O que não é assumido por parte da UEFA é a tentativa desta
de suster a iniciativa dos principais clubes em criarem a chamada “Superliga
europeia”. Aliás, o incremento significativo dos prémios monetários na Liga dos
Campeões ocorrido na época passada foi já um passo dado nessa direcção. Para os
portugueses, a pretensão dos clubes mais ricos da Europa em criar uma liga
fechada, logo vedada a clubes com pouco potencial para a obtenção de receitas
elevadas, poderá parecer pouco ameaçadora quanto à sobrevivência do quadro
competitivo europeu actual. Não passará, nesse contexto, de uma forma de
pressionar a UEFA a ser mais generosa na distribuição dos elevados rendimentos
conseguidos com as transmissões televisivas. No entanto, e talvez seja por esta
razão que não se tem dado grande relevância a esta questão (excepto quando se
refere que somente Benfica e Porto poderiam, eventualmente, receber um convite
para participarem na tal “superliga”), há um caso de sucesso noutra modalidade,
o basquetebol, que demonstra aos clubes que é possível optar-se por uma solução
deste género.
A Euroliga é uma prova europeia de basquetebol, organizada
pela Associação Europeia de Ligas e à revelia da FIBA, que inclui os melhores e
mais ricos clubes de basquetebol europeus, dos quais fazem parte alguns dos
mais conhecidos emblemas do futebol: Real Madrid, Barcelona, Galatasaray, Fenerbahce,
CSKA Moscovo, Olympiacos (além do Bayern Munique, presente em edições
anteriores)... A FIBA Europe, que é a entidade na Europa do basquetebol
equivalente à UEFA no futebol, opôs-se à sua criação e tentou inviabilizá-la de
diversas formas, incluindo a ameaça do impedimento da participação dos países
com clubes na Euroliga no Campeonato do Mundo e Jogos Olímpicos. O sucesso da
Euroliga vê-se a vários níveis. Desde logo o desportivo, em que é notório que
os melhores clubes europeus marcam presença na competição; O financeiro, devido
às elevadas receitas de televisão, bilheteira e publicidade; E até o legal,
visto que a FIBA foi obrigada pelos tribunais a recuar em parte das tentativas
de obstrução ao desenvolvimento da Superliga.
A UEFA, ao contrário da FIFA, está a colocar de parte o
habitual conservadorismo existente no futebol (em várias modalidades, com
destaque para o basquetebol e râguebi, têm sido introduzidas alterações
importantes com vista à atractividade do jogo enquanto espectáculo desportivo,
à diminuição dos métodos de anti-jogo e à mitigação da probabilidade de
ocorrência de erros de arbitragem. A FIFA nem por isso…). Porém, o cada vez
maior afunilamento do acesso às competições que representam maiores receitas
poderá provocar desigualdades por antever. Será um bom tema para uma próxima
crónica.
Vida Económica - 23/12/2016