Um miúdo irrompeu pelo campo em direcção ao seu ídolo,
Renato Sanches, que o envolveu carinhosamente num abraço. Foi o ponto alto de
um jogo amorfo, como são normalmente os “particulares” da selecção portuguesa.
Não fosse este episódio, assim como o início do aquecimento
e a entrada em campo do nosso médio de 18 anos, quase nem se daria pela
presença do público em Leiria, anestesiado que estava pelo futebol sem chama
protagonizado por Portugal.
O Renato, ele próprio ainda um miúdo, contrariou este fado
do futebol português. Estreou-se na selecção como tem jogado no Benfica e como,
no passado, o fez na B e na formação. Rápido sobre a bola, forte no 1x1
defensiva e ofensivamente, irreverente nas acções ofensivas, nunca se escondendo
da bola, e inteligente na definição dos lances. Portugal, no tempo em que o novo
prodígio do futebol português esteve em campo, deu a sensação que poderia e
quereria dar a volta ao resultado. O futuro do meio campo da selecção nacional
passará inevitavelmente pelo Renato. De tal forma que, apesar de ser júnior,
poucos entenderão que não passe já. É do tipo de jogador que surge um por
década.
E, por isso, perante as ofertas irrecusáveis que surgirão do
estrangeiro, não será por muito tempo que contaremos com o seu contributo.
Importa reconhecer que a sua enorme qualidade transfigurou a nossa equipa,
sabendo-se que, não obstante o excelente trabalho desenvolvido no Seixal, dificilmente
surgirá outro “Renato” nos tempos mais próximos. Acautelar a sua substituição é
fundamental e este será, talvez, daqueles casos em que se terá que procurar uma
solução dissonante do novo paradigma da aposta “made in Benfica”.
Jornal O Benfica - 1/4/2016