terça-feira, 26 de julho de 2022

A relevância do "desporto feminino"

Crónica publicada no Dinheiro Vivo. Também publicada, em papel, no suplemento que acompanha as edições do Diário de Notícias e Jornal de Notícias.

Bons sinais

Nada como uma página virada para que o entusiasmo recrudesça. E esta foi virada violentamente: o futebol que Roger Schmidt está a implementar, a avaliar pelos primeiros sinais, é a antítese, embora subordinada à ideia comum da assumpção da iniciativa de jogo, daquele praticado pelo Benfica ao longo da segunda passagem de Jorge Jesus pelo clube.

E eu gosto muito mais. Não se trata aqui de uma convicção própria sobre que forma de jogar mais eleva as probabilidades de sucesso – sei bem que há vencedores para todos os gostos – mas somente de uma marcada preferência por um estilo de jogo.

Se a equipa conseguir, ao longo da época, operacionalizar correctamente os princípios que, de acordo com o demonstrado no Algarve, parece estar agora a trabalhar, estou certo de que, independentemente dos títulos que possam ou não vir a ser conquistados, assistiremos a um Benfica sempre com os olhos postos na baliza contrária, em suma a ser Benfica.

A mim, mesmo reconhecendo que há muitas formas válidas de vencer, ninguém alguma vez me convencerá de que o Benfica, quando joga à Benfica, não estará mais próximo de ganhar. Por agora, reitero, trata-se de meros sinais positivos, a época é longa, desgastante e difícil. Mas escrevo na segunda-feira à noite e estou desejoso que chegue sexta-feira para ver o jogo com o Girona.

Também a nível individual os primeiros sinais têm sido positivos. Pelo que já se viu, percebe-se que Neres, Bah e Enzo Fernández são mesmo reforços. João Victor ainda não jogou, mas já perdi a conta aos elogios que lhe são feitos, com particular significado a admiração generalizada pela velocidade do novo defesa central benfiquista. E saliento o visível empolgamento da esmagadora maioria dos jogadores no relvado, dando a ideia de que se divertem enquanto jogam, o que geralmente é… um bom sinal.

Por último, para um benfiquista que segue atentamente as camadas jovens, como é o meu caso, é deveras gratificante ver os “miúdos” a darem cartas e a criarem problemas salutares ao treinador.

Vou-me repetir: não há ainda muitas ilações a tirar, tudo isto não passa de sinais positivos. Mas nunca mais chega sexta-feira!

Jornal O Benfica - 22/7/2022

Números da semana (83)

1

O Benfica joga esta tarde na Suíça e qualquer razão é boa para relembrar o primeiro desafio em terras helvéticas: foi há 61 anos, Benfica 3-2 Barcelona na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus. A partida com o Girona é a 5ª frente a um clube espanhol na Suíça: depois do Barcelona seguiram-se Saragoça (2004), Athletic Bilbao (2014) e Sevilha (2019). O triunfo ante os andaluzes, por 1-0, foi mesmo a última vez que o Benfica jogou na Suíça, somando 47 jogos no país, dos quais apenas 5 a contar para competições oficiais;

2

2 jogos, 2 vitórias, 8 golos marcados, 1 sofrido. E, sobretudo, um futebol vibrante, intenso e marcadamente ofensivo. Os primeiros sinais da era Roger Schmidt são muito positivos, entusiasmantes e prometedores. Não passam de sinais nesta fase da pré-época, mas mais vale que sejam estes;

6

São, para já, 6 os marcadores de serviço. Gonçalo Ramos e Rafa concretizaram 2 golos, Gilberto, Henrique Araújo, Otamendi e Yaremchuk fizeram os restantes. Houve 7 assistências para golo de 7 autores;

Depois de Aarhus, KB Copenhaga, Vanlose, B1903 e FC Copenhaga, segue-se o 6º adversário dinamarquês do Benfica em competições oficiais, o Midtjylland. Nos 14 jogos disputados, o Benfica venceu 12 e empatou 2. Ou segue-se o AEK Larnaca, de Chipre. O único adversário cipriota do Benfica nas provas europeias foi o Omonoia, em 1981, e venceu ambos os dois jogos;

25

Nos primeiros 2 jogos da temporada, Roger Schmidt utilizou 25 jogadores, 8 deles da formação. 17 participaram em ambas as partidas, sendo que 10 foram titulares nas partidas com Nice e Fulham. 8 alinharam durante 94 minutos, 11 ao longo de 93 e 6 em 47;

62

Rafa chegou aos 62 golos pelo Benfica, incluindo jogos particulares, passando a ser o 52º melhor marcador de sempre pela equipa de honra do clube.

Jornal O Benfica - 22/7/2022

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Primeiras impressões

Ninguém, exceptuando talvez aqueles que acabaram de chegar ao clube, terá ficado verdadeiramente surpreendido com a presença de 23470 benfiquistas no treino aberto realizado no domingo passado, apesar de se tratar de um recorde neste estádio.

São assim os benfiquistas, já dizia Béla Guttmann: “Nem que o jogo seja no fim do mundo, entre as neves da serra, ou no meio das chamas do inferno, por terra, por mar ou pelo ar, eles aí vão, os adeptos do Benfica atrás da sua equipa... Grande, incomparável, extraordinária massa associativa!”

O Benfica é o conjunto de todos os benfiquistas. É por isso que o Benfica é o maior e, normalmente, o melhor, mesmo que, de quando em vez, a ânsia colectiva pela prossecução dos objectivos (às vezes desmedidos) possa ser perniciosa, mas há que saber lidar com isso. Afinal, não é qualquer um que pode representar o Benfica e, por definição, milhões de benfiquistas.

Foi, sim, uma agradável surpresa termos sido presenteados com um treino de conjunto. Talvez me falhe a memória, mas não me recordo de tal iniciativa desde o antigo estádio, em 1999, numa noite em que as mãos levadas à cabeça pela aparente demonstração de incapacidade de Bossio foram as mesmas que se esfregaram de entusiasmo pelo potencial de um miúdo na outra baliza, o Enke.

Desta feita não creio que tenha havido motivos para grandes preocupações, antes algumas primeiras impressões foram muito positivas, tratando-se efectivamente de confirmações.

Desde logo o tipo de futebol que parece estar a ser implementado. Cada posse de bola é aproveitada para se tentar criar uma oportunidade de golo. Claro que não era diferente num passado recente, mas prefiro que se tente com meia dúzia de passes do que com infindáveis trocas de bola sem o mínimo rasgo ou risco.

Depois algumas apreciações individuais. Gostei de vários jogadores, mas destaco quatro: David Neres, Henrique Araújo, António Silva e Diego Moreira. Qualquer deles confirmou, numa primeira impressão 2022/23, as muitas impressões positivas deixadas anteriormente. Se de Neres e Araújo espero um contributo imediato, dos outros estou convicto de que despontarão mais cedo do que muitos esperam.

P.S:

Tinha nove anos quando conheci Henrique Vieira. Acompanhei de muito perto aquelas equipas de basquetebol fabulosas do Benfica do final dos anos 80 e anos 90 e o Henrique foi, para mim, um ídolo, uma referência de liderança e um compêndio vivo de como jogar bem basquetebol. Houve jogadores melhores, mas muito poucos os que conheceram o jogo tão profundamente como ele. Deixo um forte abraço aos seus filhos Filipe e Pedro.

Jornal O Benfica - 8/7/2022

Números da semana (82)

4

Portugal sagrou-se vice-campeão europeu de futsal (feminino), perdendo o título no desempate por penáltis. Na final foram 4 as jogadoras do Benfica em ação (Ana Catarina, Inês Fernandes, Maria Pereira e Sara Ferreira);

8

Mais uma época extraordinária do Benfica na vertente feminina do hóquei em patins. Depois da Supertaça e do Campeonato, a 8ª Taça de Portugal do palmarés benfiquista, perfazendo mais um triplete;

19’63’’

O nosso atleta Reynier Mena percorreu os 200 metros em 19’63’’, uma marca nas dez melhores de sempre na especialidade;

37

O Benfica foi campeão nacional de futebol 37 vezes e consta 37 vezes como campeão no palmarés oficial do Campeonato Nacional. Tal não seria mencionável em circunstâncias normais, mas trata-se do futebol português;

65

Henrique Vieira, uma das maiores figuras da história do basquetebol benfiquista, faleceu aos 65 anos. Em 11 temporadas, ajudou o Benfica a vencer 7 Campeonatos Nacionais (só Carlos Lisboa, 10, e Mike Plowden, 8, ganharam mais), 1 Taça de Portugal, 1 Taça da Liga e 1 Supertaça. É o terceiro com mais jogos pela equipa de honra do Benfica, superado apenas por Carlos Lisboa e José Alberto, e um dos melhores marcadores de sempre de águia ao peito. Como treinador, em 5 épocas, venceu 2 Campeonatos, 1 Taças Hugo dos Santos, 2 Supertaças, 2 Troféus António Pratas e 1 Supertaça Luso-Angolana;

23470

A maior assistência de sempre a um treino neste estádio da Luz aconteceu no domingo. Foram 23470 os espectadores presentes, numa tarde repleta de benfiquismo e durante a qual se começou a forjar a simbiose entre plantel e adeptos na perseguição do 38º título nacional.

Jornal O Benfica - 8/7/2022

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Nada mudou

O futebol português é pródigo em bizarrias. A mais recente (escrevo na quarta-feira, talvez já tenha acontecido outra quando o jornal lhe chegar às mãos) foi a realização de uma assembleia-geral extraordinária da Federação Portuguesa de Futebol para se discutir e votar três pareceres sobre o palmarés do Campeonato Nacional e da Taça de Portugal.

Não se entende como a Federação aceitou sequer discutir a situação vergonhosamente criada pelo Sporting, uma vez que a própria Federação havia deliberado, em tempo útil, ou seja, há 84 anos, e com a concordância das associações, sobre a natureza de cada uma das competições em causa.

O próprio processo foi absurdo: submeter à votação três pareceres de historiadores, como se a história, depois de analisados factos e interpretados acontecimentos, fosse passível de ser votada de acordo com sensibilidades do momento da parte de quem, por muito voluntarismo e interesse que tenha pela matéria em apreço, pura e simplesmente não deveria ser competente para participar num processo deste cariz.

Convém, no entanto, realçar que a Federação actuou bem tendo em conta o futebol que superintende. A forma como este processo se desenrolou talvez fosse a única forma eficaz de arrumar o assunto.

Felizmente, na votação houve bom senso, pudor e honestidade intelectual. Faltou o rigor histórico, mas não se pode ter tudo.

É extraordinário que o único parecer respeitador dos factos, o 2, tenha merecido somente um voto favorável. Perdeu-se assim uma oportunidade (canhestra, pois a FPF já decidiu em 1938) de se respeitar institucionalmente a prova rainha do futebol português, iniciada em 1921/22 sob a anterior designação “Campeonato de Portugal”, a qual foi alterada para “Taça de Portugal” em 1938.

O parecer 1, que considero interpretar abusivamente a natureza do Campeonato de Portugal até 1934, ano em que o Campeonato Nacional começou, mereceu 13 votos favoráveis. E o terceiro parecer, evidentemente revisionista e incluído a pedido, foi aprovado por 8 delegados. Sobraram 7 abstenções e 33 votos de rejeição a qualquer dos pareceres e o mesmo é dizer que nada mudou.

À hora que escrevo os votos não são públicos (desconheço se serão ou não), mas seria interessante perceber quem, além do Sporting, quis vilipendiar a história do futebol português, atribuindo-se na secretaria títulos a quem não os ganhou em campo, desrespeitando-se, pelo caminho, todos os que, ao longo das décadas, lutaram por se sagrar campeões nacionais. Parafraseando Agustina Bessa-Luís, são figurinhas que o país produz para que o futebol se arrependa de as inspirar. Lamentável.

P.S.: E aquele relógio dos 23 títulos de campeão publicitado no canal 11 da FPF? É caso para se concluir que o Sporting deverá ser o único clube do mundo cujo merchandising inclui um relógio adiantado uns 40 anos.

Jornal O Benfica - 1/7/2022

Números da semana (81)

0

O Benfica sagrou-se campeão nacional invicto de hóquei em patins feminino. Nos 28 jogos realizados na prova, 26 vitórias e 2 empates;

1

O Benfica sagrou-se campeão nacional elite e juniores de triatlo, estafetas mistas;

4

Dos 5 golos marcados pela seleção feminina portuguesa nos 2 jogos de preparação com a Grécia, 4 foram da autoria de jogadoras do Benfica. Francisca Nazareth (2), Jéssica Silva e Carole Costa fizeram o gosto ao pé;

5

Reforços, até 3ª feira, anunciados para a nova época: Bah, Enzo Fernández (caso se concretize o princípio de acordo), Musa, Neres e Ristic, além de se se antever a integração plena de jovens da formação no plantel da equipa A;

8

Com o título conquistado pela equipa feminina de hóquei em patins, subiu para 8 os Campeonatos Nacionais ganhos por equipas seniores do Benfica em 2021/22. Masculinos: basquetebol e voleibol; Femininos: andebol, basquetebol, futebol, futsal, hóquei em patins e polo aquático;

9

Eneacampeões nacionais! Está igualado o recorde benfiquista de campeonatos consecutivos numa modalidade coletiva. O Benfica domina a vertente feminina do hóquei em patins há 9 anos, como o fez no voleibol feminino entre as décadas de 60 e 70. Nos masculinos, o recorde continua pertença do basquetebol, com 7, de 1988/89 a 1994/95;

17

Domingo, às 17 horas, treino à porta aberta no estádio da Luz, uma oportunidade para ver ao vivo os reforços e os métodos do novo treinador Roger Schmidt;

40

Realizou-se a 40ª gimnáguia do Sport Lisboa e Benfica, desta feita de volta ao pavilhão após 2 edições no formato virtual, devido à pandemia.

Jornal O Benfica - 1/7/2022

Números da semana (171)

1 O Benfica conquistou, pela 1ª vez, a Taça FAP de andebol no feminino; 3 Di María isolou-se na 3ª posição do ranking dos goleadores b...