Esta é a minha 414ª crónica no jornal O Benfica, sinto que devo inovar. Portanto, desta vez, por estranho que possa parecer à primeira vista, escrevo-a à moda do Porto.
Para não dar azo a confusões, esclareço que não se trata de
uma homenagem aos grandes escritores portuenses ou a uma tentativa de
trocadilho do género “cada um escreve a sua”. Refiro-me mesmo ao clube fundado,
em 1906, por José Monteiro da Costa, aquele do animal imaginário como símbolo,
tratando-se este, porventura, ao invés de uma referência a um antigo brasão da
cidade, antes a um apelo à nossa criatividade e persistência para encontrarmos razões,
além do amor ao Benfica, que nos façam levar a sério o futebol português tão
maltratado pelo FC Porto.
Sei que é arriscado, não só por escrever para a publicação
oficial do Glorioso, mas também por haver uma elevada probabilidade de enganar
os leitores. E há a questão substantiva: ao longo do tempo esperado para que
esta crónica seja lida, o caro leitor não descortinará argumentos válidos,
figuras de estilo memoráveis ou ideias originais merecedoras de citação ou
reflexão.
Salva-se o editor. Deixarei cair a caneta tantas vezes
quanto as necessárias para que a pegue do chão e, mesmo que à vista de toda a
gente, desencante a ideia ou a frase que fará com que a minha crónica valha a
pena. Independentemente disso, criticá-lo-ei, está-me na massa do sangue e sei
que, quanto mais centrado no alvo da minha pretensa ira tornada pública, mais
propenso a safar-me crónicas vindouras ele estará.
Não julguem que sou tanso. Nada disto é assumido e se
interpretam o que aqui lêem como uma confissão, desenganem-se. Negarei tudo! Esbracejarei
e espernearei para lá dos limites do potencial humano. Gritarei até que vos
doam os ouvidos. Ameaçarei subversões e revoltas. E os meus apaniguados e
amigos de conveniência acreditarão, ou fingirão que acreditam, em tudo o que
escrevo. Não tenho opiniões, emito sentenças. E, se insistirem muito, falem com
uns mitras no meu bairro, as minhas marionetas de persuasão, sempre solícitos em
fazer valer os meus pontos de vista.
A suposta irrelevância dos meus escritos faz parte de uma
cabala concebida para me tentar mandar abaixo. Não roubo ideias, as minhas
melhores frases não me são sugeridas, os trocadilhos mais engraçados são todos
da minha verve. Sei bem quem são os meus inimigos. Escrevem noutros jornais,
falam em televisões, dominam os meandros do comentário e impedem-me, porque me
invejam, cobiçam a minha originalidade e, obviamente, odeiam-me, de ser sempre
o melhor cronista. É tempo de acabar com o centralismo literário e opinativo!
Estimo, porém, que o tempo reservado para a leitura desta
crónica se esfumou. Todos, detractores de sempre e para sempre, acham que nada
de jeito foi lido, mas acabei de saber pelo editor que posso escrever mais uns
parágrafos. Quantos, pergunto. Até que escrevas algo que valha a pena,
responde-me. E acrescenta que me dará uma mãozinha se necessário for.
(…)
(…)
(…)
Aproveito o tempo adicional para perguntar à Liga se os
constantes mergulhos proveitosos de Taremi tornam o produto “futebol português”
mais apetecível no estrangeiro. E também para fazer notar, segundo comunicado
do Conselho de Arbitragem, que “o VAR foi introduzido em Portugal em maio de
2017 e o tempo de funcionamento sem quebras do serviço é de 99,8 por cento”.
Coincidência das coincidências, se bem percebi, não funcionou na plenitude
quando foi necessário avaliar um penálti inexistente, mas assinalado a favor do
FC Porto, devido a falta de electricidade numa tomada no estádio do Dragão. E
termino com isto: como diz um conhecido meu, o FC Porto protestar o jogo com o
Arouca lembra o parricida que pede ao juiz uma atenuante da pena por ser órfão.
Jornal O Benfica - 8/9/2023
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