Sempre que alguém morre recordo-me do Prof. Agostinho da
Silva, num dos episódios do “Conversas Vadias”, a interromper Miguel Esteves
Cardoso para o informar de que “não pode garantir que vamos morrer”, e logo acrescentar,
assumindo essa hipótese como muito provável, que “não há dúvida de que temos
visto os outros morrer”. Na morte de outrem constatamos a nossa própria
mortalidade e desta vez coube a João Sequeira Andrade, aos 91 anos,
recordar-nos dessa (tomada por garantida) inevitabilidade.
O senhor Sequeira Andrade de velho tinha apenas o aspecto e
a idade. A jovialidade do seu pensamento, a argúcia do seu raciocínio, a
vastidão da sua cultura, o acentuado interesse pelo quotidiano e a constante
perspectivação do futuro, estavam bem patenteadas nas interessantíssimas cartas
dirigidas ao seu dilecto “amigo” Pancrácio, as quais me fez o favor de me as
dar a conhecer. Foram 250 e a última iniciava com a despedida do autor, cuja
paixão por atletismo se fez notar também no anúncio que ninguém desejaria ler,
o de que estaria a chegar à meta da sua vida.
Poucas vezes tive o prazer de com ele me relacionar
pessoalmente, mas de todas, sem excepção, guardo boas recordações. A simpatia,
a educação e o sentido de humor apurado eram constantes. E mais ainda o
benfiquismo e a cultura benfiquista, que eu já havia conhecido dos tempos em
que colaborou com o jornal O Benfica e que tão bem evidenciados eram nas cartas
ao Pancrácio. Enquanto interessado em aprofundar os meus conhecimentos sobre a
história do Benfica, não tenho quaisquer dúvidas de que o contributo de João
Sequeira Andrade foi inestimável e que para sempre o admirarei e estarei
agradecido. Até sempre!
Jornal O Benfica - 25/10/2019
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