Sobejam exemplos de arremedo de jornalismo desportivo em
Portugal, desprestigiando a classe e pondo em causa aqueles que se empenham séria
e honestamente na sua nobre profissão de jornalistas. O último exemplo (até
ver, pois escrevo esta crónica três dias antes da sua publicação e é provável
que surjam outros) chegou-nos do Brasil, através da introdução bajuladora,
facciosa, especulativa e difamatória que um tal de Miguel Gaspar, em serviço
pelo Jornal de Notícias, fez diante o treinador do Flamengo, Jorge Jesus.
Escuso-me a comentar o teor da introdução, que considero
vergonhoso e injurioso, mas a apresentação que o, enfim, jornalista fez de si
próprio merece uma reflexão.
Disse então esse Gaspar que vive no Porto e trabalha no
Jornal de Notícias, apesar de ser sportinguista. E acrescentou que
sportinguista só é ele. Confesso que sinto algumas dificuldades em interpretar
o que esse Gaspar quis afirmar.
Será o reconhecimento da decrescente implantação nacional do
seu clube do coração, sendo a cidade do Porto um caso paradigmático dessa
realidade, para a qual a míngua de títulos nas últimas décadas tem contribuído
talvez irreversivelmente?
Ou será que o discernimento e a coragem deste Gaspar lhe
permitem, respectivamente, entender e afirmar em público que, na redacção do
Jornal de Notícias, só há espaço para portistas?
Ou ainda, e já que o anti benfiquismo primário do
sportinguismo contemporâneo está tão vincado, terá Gaspar optado por explicitar
que o Jornal de Notícias, apesar de parecer, de sportinguista nada tem,
cabendo-lhe a ele, em exclusividade, carregar o fardo do sportinguismo em
terrenos propícios para, embora igualmente militante, outro tipo de
anti-benfiquismo?
Fica a dúvida.
Jornal O Benfica - 1/11/2019
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