terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

A fava


Sou contra o acordo ortográfico por eliminar consoantes que, embora mudas, alteram a sonoridade das palavras, não significando que seja um conservador neste domínio. Pelo contrário, aprecio a constante mutação lexical.

A minha preferência recai na assimilação de nomes próprios. Há variadíssimos casos como os de Sade, Masoch, Maquiavel, Narciso, Pangloss ou Pantagruel, entre muitos outros, que originaram novas palavras. E temos, por exemplo, os sinónimos “proençada” e “xistrada” que, pela efemeridade dos actos e irrelevância dos sujeitos, jamais passarão de calão. Veríssimo, como é evidente, também não passará do calão.

Do ponto de vista semântico, além do da substância, é de facto uma verdadeira fava sempre que Fábio Veríssimo sai ao Benfica, pois a origem latina de ambos os nomes, em que o primeiro deriva de “faba”, que significa “fava”, e o segundo evoluiu de “veras”, muito verdadeiro, valida o que já apreendemos empiricamente: Nomear Fábio Veríssimo para arbitrar jogos do Benfica é um insulto à nação benfiquista.

No calão, “Veríssimo” vai-se popularizando vertiginosamente. O seu significado, arrisco dizer, resulta da combinação de várias características como a incompetência, a prepotência, a teimosia e a aversão ao vermelho, exacerbadas por manifestações ridículas do uso de pequenos poderes. Quanto a Veríssimo, o homem, já se tornou uma caricatura dele próprio.

Felizmente, a exibição da nossa equipa frente ao Marítimo não permitiu que Veríssimo nos verissimasse significativamente. Mas Veríssimo é veríssimo e o verissimado acabou por ser Vinícius. Só mesmo um grandessíssimo veríssimo poderia atribuir o segundo golo de Vinícius ao defesa que o tentou evitar...

Jornal O Benfica - 6/12/2019

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