Não é por sanha anti-fascista – é irrelevante, neste contexto, o meu posicionamento ideológico – que tantas vezes elogio a independência, face ao poder político, do Sport Lisboa e Benfica durante a ditadura. Motiva-me, sobretudo, combater o revisionismo e a propaganda maliciosa vindas de quem, por ignorância ou má fé, tenta conspurcar a nossa gloriosa história. Da mesma forma, não uso nem deturpo factos facilmente embelezáveis para alimentar a ideia de que o Benfica assumiu intencionalmente um papel relevante na luta pela liberdade.
A contínua realização de eleições livres e democráticas, a
alergia às datas mais simpáticas ao antigo regime ou a inexistência de filtros
sociais ou ideológicos na admissão de sócios e, mais significativo ainda, na eleição
para os órgãos sociais, assim como na indigitação para cargos nos mais variados
departamentos, nomeadamente o jornal, resultam de uma ideia há muito enraizada
no clube de que “o Benfica, só o Benfica e nada mais do que o Benfica” importa
quando do Benfica se trata (desde 1912 que os nossos estatutos interditam
manifestações de carácter político ou religioso).
A consagração desta ideia repercutiu-se em diversos níveis, prevalecendo
sempre a crença de que todos os benfiquistas, sem excepção, podem e devem contribuir
para o engrandecimento, a honra e a glória do clube. A inclusão e a tolerância
há muito que imperam no Benfica. E numa semana em que o nosso atleta Ricardo
dos Santos foi vítima de racismo no Reino Unido, quero enviar-lhe um abraço
solidário e manifestar o meu orgulho de pertencermos a um clube que já na
primeira metade do século passado contribuía, pelo exemplo, para a mitigação deste
flagelo na nossa sociedade.
Jornal O Benfica - 10/07/2020
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