No auge da veneração a Lage e ao seu trabalho, pensei que faltava ver ainda duas facetas do nosso treinador para se aquilatar definitivamente a sua competência, conforme possível distanciada e amadoristicamente.
Como lidaria com o eventual insucesso, que quase não
conhecera até então (a eliminação na Liga Europa criou alguma renitência, mas
secundarizada face à extraordinária campanha no campeonato), e como planearia a
época e construiria o plantel.
Não o escrevo para exibir supostos dotes de adivinhação ou
uma pretensa capacidade invulgar de antecipação. Primeiro porque as dúvidas por
mim colocadas eram meramente hipotéticas, eu admirava Lage. Segundo porque a
nossa equipa iniciou a época brilhantemente e reagiu muito bem ao desaire
caseiro com o Porto. Na Liga dos campeões, encarei o início titubeante como uma
consequência, sobretudo, de lacunas competitivas do futebol português. Afinal
de contas, passeávamos a nível nacional, apesar da tal derrota, e o desempenho
na Europa até melhorou significativamente ao longo da fase de grupos.
O quase ano e meio de Lage deveria ser caso de estudo. Pela
positiva e negativa, houve marcas significativas. O percurso é inusitado, com a
extraordinária ascensão seguida de uma derrocada sem precedentes. Por exemplo,
18 triunfos nos primeiros 19 jogos do campeonato esta época, só superado pelo
pleno de vitórias em 1972/73. Mas só dois triunfos nos últimos 13 jogos em
competições oficiais, igualando os piores registos. E mesmo apenas com duas
vitórias nas últimas dez jornadas, Lage ainda é o 3º melhor treinador de sempre
do Benfica, em percentagem de vitórias, com mais de trinta jogos nesta prova. Há
uns meses ninguém adivinharia este desfecho.
Jornal O Benfica - 03/07/2020
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