Há uma citação de Melville, celebérrimo autor de Moby Dick, a quem agradeço sobretudo Bartleby, o escrivão, que assenta bem à ideia da necessária plausibilidade dos objectivos: “Alimenta todas as coisas com a comida que lhes é conveniente, isto é, se o alimento for alcançável.”
O Benfica está hoje numa encruzilhada, concluída a
extraordinária e enormemente desafiante recuperação do clube a diversos níveis,
desde a credibilidade perdida à urgente modernização e edificação de
infra-estruturas, passando pela maximização de receitas, além do lado
desportivo, afinal o desígnio supremo, bem patente nos muitos títulos
conquistados na última década. Como se costuma dizer hoje, o Sport Lisboa e
Benfica voltou a ser um clube apetecível. E ainda bem!
O clube regressou ao seu estado natural, aquele da dramatização
extremada de um desaire, em Portugal, resultante do desencontro com as elevadas
expectativas depositadas nas nossas equipas. E a Europa voltou a ser encarada como
estando à mão de semear, sendo aqui que se solicitam cuidados redobrados.
Se aspirar a ganhar sempre a nível doméstico é legítimo, estaremos
conscientes da real medida do que poderá ser o nosso “sucesso europeu”? Chegar
sempre aos oitavos e lutar pelos quartos da Champions é, em rigor, um
desejo consentâneo com o contexto competitivo em que nos inserimos. A gritante
menor capacidade de investimento face à dos “tubarões” europeus assim o
determina. Por exemplo, desde 2004/05, só três clubes, uma vez cada, de países
que não Alemanha, Espanha, Inglaterra e Itália chegaram às meias-finais da
prova, veremos o que fará agora o poderoso financeiramente PSG... Sabemos a
comida que nos convém, mas devemos perceber qual o alimento que está ao nosso
alcance...
Jornal O Benfica - 17/07/2020
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