Na semana passada versei sobre a indiferença que sinto pela selecção e obtive várias reacções, umas de estupefacção, outras de aprovação por razões erradas.
Sobre as primeiras, faço notar a irracionalidade do vínculo
emocional no desporto. E se este é válido para a pertença, por que razão não o
há-de ser também para o alheamento, por muito que nos impinjam patriotismo
artificial a roçar, na mensagem, o nacionalismo? E quanto às segundas, reafirmo
que nada me move contra. Embirrar com esta ou aquela figura ou desaprovar isto
ou aquilo na Federação não me condiciona. Se Portugal vencer, tanto melhor. Só que
não tenho nada que ver com isso, tanto me faz.
Retrospectivamente, a minha indiferença terá começado na percepção
de que Portugal não contava para o Totobola. Acresceu, em determinada altura, o
escasso contributo benfiquista e o entendimento da selecção se tratar do
pináculo dum futebol português podre. Depois uma certa arrogância, reconheço,
por achar caricato haver tanta gente que, a cada dois anos, se tornava adepta
de futebol via “a equipa de todos nós”. Mas também um princípio: para mim não
há “equipa de todos nós” se no todos se inclui quem manifestamente desprezo,
não quero misturas.
Depois, em 1996, irritou-me a turba lusa, repleta de
neoconvertidos ao futebol, reduzir à sorte o magnífico gesto técnico de
Poborsky frente a Portugal. E, em 2004, apesar de ainda freneticamente
entusiasmado com alguns golos portugueses, não senti qualquer tristeza pela derrota
na final e guardei sobretudo indignação pela chantagem emocional de Scolari ao
versar sobre patriotismo e a apelar por bandeirinhas (com pagodes) em cada
janela. Foi o ponto final. E sinto pena: A alegria que teria tido em 2016…
Jornal O Benfica - 25/6/2021
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