Escrevo esta crónica enquanto se aproxima o início da participação portuguesa no Euro2020. Perguntar-me-ão alguns benfiquistas o que terão a ver com isso, mas à falta de melhor argumento relembro o Rafa, o Vertonghen e o Seferovic ao serviço das suas selecções, além dos vários atletas formados no Benfica presentes na prova. E esse argumento é, a par da paixão por futebol, o que realmente me motiva neste certame.
Já há muitos anos que deixei de sofrer pela selecção (em
2004 já não senti a derrota na final por aí além). Não me move qualquer
antipatia, muito menos o desejo de que Portugal não vença. Sou realmente
indiferente, tenho testemunhas que ainda se surpreendem por isso. Torço pelo
sucesso de jogadores do Benfica e daqueles que serviram condignamente o clube. E
vibro com o bom futebol. Nos primeiros dias apreciei a Itália, fiquei chocado e
depois aliviado com a situação do Eriksen, contentei-me com o triunfo da
Holanda ao cair do pano por ser mais que merecido e agradeci estar vivo ao ver
o segundo golo da República Checa. E lamento profundamente a insipidez da maior
parte dos jogos. É o tipo de futebol que está instalado, o da procura
constante, em posse, dos equilíbrios, para mal de quem sonha com chicuelinas e
reviengas, passes de morte e golos extraordinários. Espero que não passe de uma
moda.
A indiferença relativamente ao destino da selecção
portuguesa não me desqualifica enquanto português, e era só o que faltaria. Apesar
de cada vez mais desvalorizar fronteiras geográficas, políticas e culturais,
talvez em reacção ao recrudescimento de nacionalismos bacocos, considero-me
patriota e adoro Portugal. Não troco cozido à portuguesa por qualquer iguaria
internacional. Mas, no desporto, a minha nação é o Benfica, o qual me preenche
plenamente.
Jornal O Benfica - 18/6/2021
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