Levado à letra, Almada Negreiros estava enganado. Aos
portugueses, tendo todos os defeitos, não é necessária a coragem por só lhes
faltarem as qualidades para serem um “povo completo”. A forma ordeira,
empenhada e quase massificada com que a recomendação de distanciamento social
foi acolhida e respeitada contradiz esse pessimismo acerca de Portugal, não
obstante o previsível botabaixismo que se seguirá, afinal uma das actividades predilectas
dos nossos tempos livres.
Teremos, porventura, limitações de toda a espécie, mas
compensamo-las com resiliência, voluntarismo e serenidade, entre outras, além
da propensão para um certo fatalismo que, embora geralmente indutor de
entropias várias, é agora, em tempos de crise extrema como a que vivemos, uma
virtude. Aceitar a inevitabilidade de consequências nefastas será o primeiro
passo para combatê-las e, pelo menos, mitigá-las. Haveremos de enveredar por um
chorrilho de acusações, mas no final do dia interessar-nos-á, sobretudo, que
possamos juntarmo-nos à mesa para convivermos, comermos, bebermos e
desdenharmos seja lá do que for.
E há o Sport Lisboa e Benfica, exemplo bastante para refutar
a tal citação do Almada, pois foram portugueses que o criaram e desenvolveram,
inspirados numa visão utópica, logo incumprida, mas continuamente perseguida e almejada.
Cada benfiquista tem uma visão para o Benfica, sabendo que o nosso querido
clube estará sempre aquém do que projectamos para ele. Nesta catástrofe, a
acção da Fundação Benfica e das Casas do Benfica, os planos de contingência e
sua imediata implementação no clube e a avultada doação ao Sistema Nacional de
Saúde aproximam o Benfica, indubitavelmente, da minha visão do Benfica.
Jornal O Benfica - 27/03/2020
Bo tarde,
ResponderEliminarLi agora esta crónica, depois de ver o " contas feitas dúvidas desfeitas".
Estou de acordo com o João nestas boas crónicas cheias de benfiquismo e realidade.
Sempre me preocupei com a parte financeira, apesar de nada perceber do assunto, mas percebo o suficiente para estar satisfeito com os resultados obtidos.
Duas notas: 1 — as doações a pessoas coletivas estão isentas.
2- uma opinião; se o Benfica renegociar contratos com os profissionais de futebol, numa base ex.20%, devia garantir que não despede trabalhadores e que por ex.5% dessa redução eram afetadas à Fundação Benfica.
Abraço