Agora há muitos que se acotovelam para liderarem o pelotão dos que relembram o seu desacordo quanto ao regresso de Jorge Jesus ao Benfica ou renegarem, por cinismo ou esquecimento, a sua concordância aquando da contratação. Não pertenço a nenhuma destas tipologias.
Na altura fiquei entusiasmado, apesar de nunca ter sido um
admirador da personagem pública Jorge Jesus. Concordei com os pressupostos do
regresso: inegável bom percurso anterior no Benfica, complementado com maior
experiência e enorme sucesso no anterior clube, o Flamengo. Discordei dos que
agoiraram o passo dado em função de uma ideia supostamente verdadeira –não se
dever regressar a uma casa onde se foi feliz – pois sobejam exemplos, mesmo no
Benfica, que a contrariam, vide Otto Glória ou Eriksson.
Mas a época do regresso de Jorge Jesus foi desapontante.
Houve, porém, acontecimentos extra-futebolísticos que justificaram, pelo menos
em parte, os maus resultados e o futebol pouco entusiasmante. Faltava aferir em
que medida esses acontecimentos prejudicaram o rendimento da equipa, mas em
alguma medida certamente o fizeram.
E esta época, sobretudo caracterizada pela inconsistência,
em que resultados muito bons contrastaram com desilusões gritantes, veio
exacerbar a análise crítica do que se passara no ano anterior do ponto de vista
estritamente futebolístico, fomentando um ambiente cada vez mais impropício
para a continuidade do treinador. Acresce a sensação, verdadeira ou falsa, de
que os próprios jogadores já não acreditavam que poderiam ganhar títulos com
aquele líder da equipa, o que, na minha opinião, é geralmente o que define a
irreversibilidade do adeus de um treinador.
Chegados a este ponto, centremo-nos no mais relevante: ainda
há muito por conquistar nesta época. Confio que saberemos ultrapassar esta fase
e que rapidamente voltaremos ao trilho do sucesso. Se não for ainda nesta
temporada, que se aproveite para aumentar as possibilidades de ser na próxima.
Jornal O Benfica - 30/12/2021
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