Sou daqueles apreciadores do atletismo das grandes ocasiões. Gosto, mas falta-me o hábito de ver. Se, por acaso, der com a fase decisiva de uma prova importante na televisão, não mudo de canal. Abençoado mediatismo, devo reconhecer, o dos Jogos Olímpicos, que me impede, de quatro em quatro anos, de ignorar olimpicamente (não resisti) a modalidade.
Gosto particularmente das especialidades “mais técnicas” –
se é que esta categorização existe – e das provas de velocidade. Provas longas
de corrida aborrecem-me; afinal, correr, para mim, só com uma bola nas mãos ou
nos pés. E a resistência diz-me pouco. Entusiasmam-me, sobretudo, a destreza
física e a técnica inerentes às tais especialidades “mais técnicas”.
E leva-me a colocar algumas interrogações que me parecem interessantes,
convidativas à reflexão, sem desdém ou falta de respeito.
Por exemplo, o que motiva alguém a dar os primeiros passos no
lançamento do martelo? Ou por que razão, não obstante as prováveis indicações
médicas em contrário, há pessoas que correm com uma vara na mão para se
elevarem aos céus? Será que os atletas vencedores são, de facto, os melhores?
Ou, pelo contrário, outros haverá, nas modalidades mais populares, que se acaso
tivessem praticado uma especialidade desde a infância estabeleceriam recordes e
se tornariam campeões crónicos?
Como se vê, o meu interesse por atletismo só não é filosófico
porque é meu. Já o de uns poucos, como agora novamente demonstrado com o ouro
de Pichardo, apesar de inegavelmente apaixonado, informado e intenso, teima
obstinadamente em escamotear o papel do Benfica neste sucesso. Na página da
IAAF não constam recordes de contorcionismo intelectual, de outro modo
pululariam as medalhas de ouro em Portugal.
Jornal O Benfica - 12/3/2021
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