Enquanto escrevo esta crónica, persiste a indefinição quanto
à continuidade, ou não, de Jonas, o melhor jogador que vi representar o
Benfica. Ainda me deliciei com Chalana ou Nené, mas ambos em final de carreira,
e nenhum outro se compara, para mim, ao avançado brasileiro, cujo requinte
técnico, criatividade, inteligência em campo e faro de golo são cada, e ainda
mais se combinados, indiscutivelmente fenomenais.
O filósofo Simon Critchley, fanático assumido do Liverpool e
autor do excelente “O que pensamos quando pensamos sobre futebol”, defende que
o futebol está subjugado à ditadura dos números quando, em boa verdade, sem
desmerecimento da relevância dos golos, tem mais que ver com a forma como os
adeptos vivem o tempo. Para o autor, com o qual concordo, apesar de poder
parecer paradoxal, a beleza do futebol advém da raridade dos lances belos ou
emocionantes.
Jonas, um prolífero goleador que, como tal, não só resiste
como até beneficia das análises quantitativas, é daqueles casos raros de quem
se espera, a qualquer momento, que nos suspenda o tempo. Começou logo na
primeira vez que tocou na bola de águia ao peito: um cabrito a um arouquense em
pleno estádio da Luz. Desde então, o brasileiro coleccionou lances
inesquecíveis e ainda mais golos, sendo o benfiquista com a melhor média de
golos por época no Campeonato Nacional (24,75) e o terceiro em competições
oficiais (30,5). Perder Jonas – este Jonas dos números impressionantes e da
arte desmedida – nunca será benéfico seja qual for a circunstância. E é inevitável.
O desafio será, então, encontrar novos Jonas, daqueles cuja genialidade e
empenho nos aproximam dos títulos. E já tivemos uns quantos...
Jornal O Benfica - 10/8/2018
Sem comentários:
Enviar um comentário