Há uma dose de sinceridade em Bruno de Carvalho, comum à
grande maioria dos sportinguistas, que me garante um certo descanso na
rivalidade com o Sporting. Por norma, os sportinguistas tendem a atribuir ao
Benfica a responsabilidade, ou pelo menos parte dela, dos seus insucessos. O
ódio, nos casos mais extremos, ou a inveja e desconfiança dos moderados,
resultam na demonização do Benfica, desencadeando comportamentos e atitudes
caracterizados, sobretudo, pela previsibilidade e constância. Por vezes
incomodam, mas raramente produzem qualquer efeito. Não passam de barulho que,
conforme a civilidade dos protagonistas de ocasião, somente varia no tom.
Contrariamente ao que possa parecer – e ao que os
sentimentos primários poderão indicar – um Sporting fraco não nos beneficia,
pelo contrário prejudica porque quando nada resta aos sportinguistas para
festejar, sobra o anseio de que também os benfiquistas nada tenham para
celebrar. E refastelados a observarem esta dinâmica e dela procurarem retirar
vantagens estão os portistas, os verdadeiros beneficiários da descaracterização
leonina verificada nas últimas décadas.
Acresce que, desde o início dos anos 80, os diferentes
protagonistas portistas, sempre sob a mesma liderança, não obstante a evidente obstinação
anti-benfiquista, têm sabido dissimular a sua postura, ora optando pelo
confronto declarado, ora gerindo o silêncio e emprestando o palco, geralmente
ao Sporting, mas não sempre (Braga em 2010, também o anónimo em 2018), para que
os “custos” da luta contra o Benfica sejam distribuídos. Recorrem, para isso, a
tácticas sórdidas e a alianças de ocasião, não é novidade. Caber-nos-á sermos
superiores a isso tudo.
Jornal O Benfica - 29/6/2018