Sempre que o Benfica vende o passe de uma das suas pérolas
da formação, há benfiquistas que, em tom crítico, se interrogam se valerá a
pena a aposta no Seixal. Do meu ponto de vista, a questão é simples.
O objectivo primordial de qualquer decisão no Benfica, seja estratégica
ou operacional, deverá ter em vista a solidificação do projecto desportivo do
clube, que passa pela capacitação das suas equipas seniores de competências e
condições que lhes permitirão a conquista de títulos de forma continuada. No
caso particular do futebol, tendo em conta o contexto nacional, nomeadamente se
inserido nas dinâmicas do futebol internacional, em que predomina uma
capacidade de investimento inalcançável aos clubes portugueses (e irrecusável a
qualquer futebolista, incluindo os nossos), parece-me indiscutível que a aposta
na formação é essencial.
A questão deverá ser, então, o que fazer com o produto dessa
aposta. Aqui há que regressar ao ponto de partida. A ambição do Benfica não é,
nem nunca poderá ser, tornar-se simplesmente num clube formador. A formação
deve, portanto, ser encarada enquanto uma das ferramentas, porventura a mais
relevante, que permitem o acréscimo de competitividade da equipa sénior, tanto
pelo rendimento desportivo dos jovens formados no Benfica como pela contratação
de bons atletas com as receitas obtidas através da alienação de passes,
incluindo dos formados no Seixal. O truque, sabendo-se que, trabalhando bem, as
pérolas, com maior ou menor cadência, suceder-se-ão umas às outras, será maximizar
o rendimento desportivo e financeiro da aposta. Infelizmente, mas é a realidade
que temos e não creio que possamos alterá-la, resume-se a vender no tempo
certo.
Jornal O Benfica - 22/6/2018