O Chalana, para mim, é quase uma figura mitológica. As minhas primeiras memórias futebolísticas remontam ao Campeonato da Europa em 1984, mais concretamente a algumas jogadas estonteantes do Chalana pela selecção portuguesa nesse europeu. O resto é posterior, portanto já só acompanhei o ocaso da sua carreira.
Mas crescer a ouvir o meu pai e os seus amigos, que passaram
a adolescência no estádio da Luz a ver o Eusébio e companhia na década de
sessenta, e mesmo assim era ao Chalana, além de Eusébio, que dedicavam maior
admiração, tem muito impacto. “Lembro-me de ver um jogo dos juniores no início
de época e de ficar siderado com o Chalana. Fui a quase todos os jogos nessa
época só para o ver jogar” ou “era inacreditável, os adversários caiam
sozinhos” são apenas dois exemplos do muito que fui ouvindo.
A minha idolatria pelo Chalana é, portanto, em grande parte herdada
e posteriormente cimentada por apontamentos ocasionais que lhe vi fazer em
campo depois de regressar de Bordéus. Mais tarde, também pelos inúmeros
testemunhos de antigos colegas em público e em privado e pela consulta de
edições antigas de jornais na pesquisa para os meus livros. E sem esquecer
algumas imagens, surpreendentemente poucas para quem atingiu o auge na sua
carreira futebolística já na década de oitenta.
Aliás, considero mesmo um crime lesa futebol não haver mais
imagens do Chalana. Se a RTP as tem em arquivo, seria verdadeiro serviço público
divulgá-las. Não se trata de futebol apenas. É arte, é ilusão, é paixão.
Chalana não foi um mero grande jogador de futebol. Foi um criador de sonhos,
foi, nos relvados do rigor da táctica e do aprumo físico, a personificação da
alegria que muitas crianças sentem a jogar futebol.
Ao morrer Chalana morre também um bocadinho do Benfica,
daquele Benfica idealizado pelos benfiquistas em que todos os que têm a honra e
o privilégio de o representar têm de ser Chalanas ou Eusébios. Chalana é uma
das maiores figuras da história do Benfica, um ídolo com pés de ouro.
Até sempre!
Jornal O Benfica - 12/8/2022
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