Nada me move contra os atuais dirigentes da Federação Portuguesa de Basquetebol, pelo contrário creio inclusivamente que a modalidade tem melhorado nos últimos anos, também a nível organizativo.
Considero, no entanto, inqualificável a decisão do castigo
aplicado a Ivan Almeida pelo que se passou após o jogo derradeiro da final dos
playoffs, branqueando-se, desta forma, os abusos racistas de que foi vítima no
Dragão Arena durante a terceira partida e transmitindo-se uma mensagem de
exigência aos jogadores para que tudo tolerem e a nada reajam, mesmo quando há
muito forem ultrapassados os limites da decência.
Quem quer que tenha prestado atenção ao sucedido nessa final
sabe que a altercação entre Ivan Almeida e jogadores do Porto, a qual motivou a
tal suspensão de dois jogos, se deveu ao ocorrido no embate anterior, quando um
energúmeno sentado na bancada dirigiu insultos racistas e xenófobos ao nosso
jogador.
Numa situação destas, esperar auto-controlo de um atleta,
quanto mais exigi-lo, constitui um abuso em si mesmo. É retroceder décadas, é
assobiar para o lado, é inaceitável.
Além disso, a Federação Portuguesa de Basquetebol, com esta
decisão, perdeu uma oportunidade de contribuir para uma sociedade mais justa e
plural.
Bastaria para tal ter emitido um comunicado no qual
explicaria as razões que justificariam um castigo, para logo anunciar que
considerava até um imperativo de consciência optar por valorizar a atenuante –
mesmo que essa figura não conste nos regulamentos – de Ivan Almeida ter sido
vítima de um episódio escabroso de racismo e xenofobia. Mais, assumiria a
defesa do atleta e o forte empenho em impedir que o adepto em causa frequente
pavilhões e estádios no país.
Isto porque, que se saiba, o bandalho que gritou “macaco
volta para a tua terra” poderá ser espectador das duas primeiras jornadas do
campeonato, nas quais Ivan Almeida, caso permaneça em Portugal, não poderá
participar.
Ao imbecil nas bancadas faltou decência e civismo. Aos
atletas do FC Porto que se insurgiram contra Ivan Almeida durante a discussão
com o público, escapou-se-lhes o tacto e a solidariedade. Ao dirigente do FC
Porto que, passados alguns dias, desvalorizou os insultos ao invés de os condenar,
sumiu-se a humanidade e o bom senso. E, perante tudo isto, a Federação
Portuguesa de Basquetebol, além de nada ter feito para que, no futuro,
episódios como este não mais se repitam num jogo da modalidade que
supervisiona, organiza e promove, ainda condenou a vítima.
Dadas as circunstâncias, é incompreensível e intolerável que
Ivan Almeida tenha sido castigado. É mesmo vergonhoso!
P.S.: Somos dodecacampeões nacionais de atletismo. Notável!
E confesso que nunca me preocupara em saber qual o prefixo grego para 12, mas
aprendi-o graças ao atletismo benfiquista. É assim o nosso maravilhoso clube,
além de tudo ainda contribui para a literacia dos portugueses.
Jornal O Benfica - 5/8/2022
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