O jornal A Bola publicou uma crónica curiosa esta semana, da autoria do antigo árbitro Duarte Gomes. No seu espaço habitual, pomposamente chamado “O poder da palavra”, e desta vez sob o sugestivo título “A moda dos penáltis sacados”, Duarte Gomes parece querer defender a arbitragem, não se apercebendo que, na prática, não a defende e ainda contribui para o pântano de qual esta teima em não emergir.
O antigo árbitro começa por discorrer sobre dificuldades
inerentes à tarefa de arbitrar um jogo de futebol. Evoca a pressão a que os
árbitros estão sujeitos e reduz a contestação do momento (Taremi e a propensão
para a simulação de grandes penalidades) a uma moda, atribuindo a celeuma à carneiragem.
Os adeptos em geral falam de um tema porque outros falaram antes, e não por
existir de facto um jogador useiro e vezeiro em se deixar cair nas áreas
adversárias e a beneficiar com isso.
Duarte Gomes não percebe, não quer perceber ou finge que não
percebe que defender a arbitragem seria identificar o problema, denunciá-lo e
propor medidas para mitigá-lo ou mesmo eliminá-lo. Prefere reduzir a questão a
uma moda do foro comunicacional, e isto explica muita coisa.
O relambório continua com uma explicação, em abstracto,
sobre grandes penalidades, seguida do argumento mais do que repisado do
contraste entre a teoria e a prática, e culmina com a extraordinária conclusão:
“Há lances no limite, que são quase impossíveis de catalogar com honestidade.
Aí vale a interpretação e bom senso de quem decide, que partir sempre da
seguinte premissa: Qual é a decisão que o futebol espera, neste lance?”
E está explicado. Os árbitros – incluindo vídeoárbitros –
não são, afinal, enganados por Taremi. Limitam-se a considerar “no limite” os
lances em que Taremi se atira para o chão, a não os “catalogar com honestidade”
e a se perguntarem “que decisão espera o futebol português, neste lance?”. E
décadas de futebol português demonstram inequivocamente que, “na dúvida”, nada
se deve esperar além de benefício para o Porto.
Duarte Gomes, se pretendesse mesmo defender a arbitragem,
estaria na linha da frente do combate aos que fazem da simulação uma arte,
propondo e defendendo medidas punitivas sérias para os prevaricadores, como
aquelas existentes em Inglaterra, por exemplo.
Ao invés, opta pela desculpabilização habitualmente presente
no discurso corporativista da arbitragem portuguesa, talvez caindo nas boas
graças daqueles agora com um apito na boca, os quais, ao deixarem-se enganar
continuadamente, permanecerão alvos preferenciais da crítica dos adeptos. E
como não há realmente quem defenda a arbitragem – nem os próprios se defendem –
perdurará a pressão e a coacção, havendo quem o faça com mestria, até porque não
olha a meios para atingir os fins.
P.S.: Taremi deixa-se cair muitas vezes nas áreas
adversárias e beneficia com isso. As pessoas notam e criticam. Um responsável
da comunicação do Porto aproveita para se vitimizar e tenta, com isso,
condicionar as arbitragens vindouras. E a comunicação social, recheada de
plumitivos, limita-se, acriticamente, a reproduzir as
declarações. E depois ainda aparecem estes Duartes a falar de modas.
Jornal O Benfica - 29/7/2022
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