Quem acompanha as camadas jovens benfiquistas, não se
surpreende com as características de João Félix. A inteligência superlativa, a
técnica ímpar, a criatividade reservada a poucos, o repentismo fascinante e o
faro apuradíssimo pelo golo há muito que estavam identificados. Faltava
somente, até para os mais entusiastas pelo seu potencial, aferir se teria
capacidade para, num patamar competitivo mais exigente, continuar a demonstrar
o seu raro talento.
Rui Vitória não lhe ficou indiferente, cedo apostando nele.
No entanto, por convicção ou cedência ao modelo táctico (4-3-3, com extremos
abertos), ou ambas, o anterior técnico benfiquista utilizou Félix quase sempre
numa das faixas, geralmente a esquerda, e sem a firmeza que a capacidade do
jogador já merecia (31 jogos possíveis, 14 utilizado, 5 titular, 3 golos, 1
assistência).
A chegada de Bruno Lage revolucionou o futebol benfiquista e
é impossível dissociar essa mudança da aposta convicta em João Félix. A
alteração para o 4-4-2 permitiu o regresso de Félix a uma posição central no
sector atacante (ou a crença de Lage em Félix permitiu a alteração do modelo
táctico), tendo logo bisado no primeiro desafio da era Lage, cuja chegada
conferiu ao prodígio do ataque benfiquista o estatuto de titular, o qual actuou
em 25 jogos (24 no onze inicial), fazendo 15 golos e 7 assistências, além de se
revelar peça fulcral em toda a dinâmica ofensiva da equipa. Só na Alemanha
Félix não jogou na posição em que mais se tem notabilizado. Mas se há alguém
autorizado a ter tomado essa decisão, é Lage. Não só por ser o treinador, mas
por ser aquele que mais acreditou no “miúdo” e verdadeiramente o lançou.
Jornal O Benfica - 26/4/2019