Tenho dito e repetido que a tecnologia do vídeo-árbitro, não
obstante o evidente potencial da sua utilização para salvaguardar a verdade
desportiva, encontra nos utilizadores o seu maior constrangimento.
No caso português, os árbitros e vídeo-árbitros, susceptíveis
de errarem, seja por incompetência, parcialidade ou condicionamento, beneficiam
do respaldo do protocolo, cuja interpretação deste por parte dos adeptos,
baseada somente na avaliação da interferência dos vídeo-árbitros jornada após
jornada, se torna um exercício assaz complicado, para não o considerar mesmo
impossível. Só neste país de múltiplas originalidades se poderia ouvir
especialistas, sobre a falta claríssima do portista Brahimi na área, algo como
“errou ao não assinalar grande penalidade, mas o vídeo-árbitro estava impedido
de actuar devido ao protocolo”.
O “protocolo”, aparentemente, porque há muito que deixei de
ter certezas sobre a arbitragem de futebol em Portugal, limita a actuação dos
vídeo-árbitros em lances duvidosos. Ou seja, o vídeo-árbitro não só terá de ajuizar
um lance como interpretar o processo de decisão do árbitro. Constatamos assim
tratar-se do paraíso para os incompetentes, parciais ou condicionados, mas
também o inferno para os medrosos. Despeço-me com um excerto de um guião do que
poderia eventualmente ser um filme de terror em salas de cinema ou um
documentário educativo no Porto Canal:
VA (assertivo) - Falta! Repito: Falta!
A (hesitante) - Tens a certeza? É duvidoso.
VA (resignado) - Já cá não está quem falou.
A (conciliador) - Siga. Prefiro não ser abordado por
visitantes quando discutirmos o assunto no centro de alto rendimento da Maia.
Jornal O Benfica - 7/12/2018
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