Esta semana dei por mim a passear no Porto, na rua da
Constituição. E lá ia Pedro Proença, trajado com um fato da moda, camisa
aprumada, gravata vistosa com nó exemplar e penteado impecável, brilhantina
quanto baste.
Decidi seguir no seu encalço e tive a sensação que reparou
em mim. Disfarcei como pude o meu benfiquismo para não afugentá-lo, quase lhe
elogiei a carreira na arbitragem numa tentativa de me passar por portista, que
certamente se revelaria frutífera, mas pareceu-me distraído. Depois vi vários
jornalistas à entrada de um edifício moderno, Proença cumprimentou-os,
atravessou a porta e os tais jornalistas repetiram o movimento. Juntei-me ao
séquito, seria uma conferência de imprensa na sede da Liga.
Bernardo Ribeiro, do Record, por estes dias algo desocupado
por não lhe ser conveniente escrever sobre o Sporting, era um dos escribas
presentes. Perguntei-lhe sobre Bruno de Carvalho, amuou e sugeriu-me que
entrasse na sala da conferência pois Proença anunciara medidas importantes para
o futebol português. Será que, passadas quatro semanas, a Liga castigaria, ou
pelo menos censuraria, os jogadores portistas que, nos festejos do campeonato,
insultaram o Benfica e os benfiquistas? Acordei quando Proença tomou a palavra.
Ao contrário do pintor Piskariov, emanado da mente brilhante
de Nikolai Gógol, que se apaixonou por uma mulher que sonhara ter visto na
Avenida Névski, em São Petersburgo, não sofrerei de insónias. Piskariov,
desesperado por não controlar os sonhos, tornou-se incapaz de adormecer por
ansiar o contacto com a mulher sonhada. Já eu cairei no sono sem quaisquer
dificuldades. De Proença, positivo para o futebol português, nada espero...
Jornal O Benfica - 1/6/2018