Tanto me faz que melómanos e eruditos levem a mal a paráfrase de uns versos do refrão de uma obra-prima, pois o tempo é de alegria pelo autêntico hino ao futebol que o Benfica recitou ao longo da maior parte da época. “Abracem-se milhões de benfiquistas! Enviem esta paixão para todo o mundo.”
Inegável, irrefutável e inapelável mérito do campeão, é uma
forma de caracterizar este título do Benfica, mas Rui Costa tem toda a razão ao
afirmar que é nosso, não é contra ninguém.
O que, entendido por outro prisma, pode aconselhar a
indiferença em relação ao que ressabiados de vária ordem apregoam, se calhar
tentando já condicionar a próxima temporada e, de certeza, para consumo acéfalo
de correligionários susceptíveis a tácticas tão bacocas e elementares. É da
vida, diz o povo. E diz muito bem.
Confesso-me, no entanto, incapaz de o fazer. Nem que seja um
cheirinho, vá lá, perdoem-me a fraqueza.
Uma das farsas desta época foi a panóplia de análises
patéticas sobre a contratação de Roger Schmidt. Quase não passaram da infância,
quanto mais envelhecerem bem… De não haver um treinador estrangeiro campeão
nacional desde 2006 (um facto indesmentível, mas sem qualquer significado), defendendo-se
implicitamente que as especificidades (seriam só técnico-tácticas?) do futebol
português aconselhariam um treinador cá do burgo, à suposta loucura do futebol
atacante vertiginoso e da “pressão alta” (atenção que os doutos especialistas,
pelos vistos de algibeira, não se informaram que a contra-pressão não é [só]
pressão alta), ouviu-se de tudo.
Bafejavam, no fundo, descontando os casos benignos de puro
pessimismo, mais do que a ignorância, a má vontade. O desejo de que a época
corresse mal ao Benfica era tão transparente que até dava pena. Mas lá foram
metendo a viola no saco, esmagados pela lufada de ar fresco em vários domínios do
ludopédio lusitano (só porque alguns deles têm a mania que são intelectuais da
bola). Que diferença para certas personagens…
Acresce as costumeiras e bafientas manobras propagandísticas
daquela malta lá de cima (já para não falar no que me parece tentativas de
condicionamento). São sobretudo tristes, mas de igual modo irritantes. Porém,
se nem sequer sabem ganhar, como haveriam de saber perder? É no lodo que se
sentem como peixe na água.
Jornal O Benfica - 2/6/2023
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