Segundo julgo saber, para já não lhes poderemos chamar criminosos, apesar de um juiz lhes ter sentenciado prisão com pena suspensa pela autoria de crimes. Há presunção de inocência até transitado em julgado e, sem qualquer ironia, ainda bem que assim é.
O que, neste caso em que houve acusação, julgamento e
condenação em praça pública, não deixa de ser irónico.
De acordo com o juiz, e não por um qualquer badameco num
canal de televisão, Marques, o director de comunicação do FC Porto, e Faria, o
director de conteúdos do Porto Canal (penso que eram estes os cargos) adulteraram
o conteúdo de emails roubados para construir a narrativa de que o Benfica
dominaria a arbitragem. E Marques, dá o juiz como provado, “sabia que tal
conclusão não era suportada pela realidade veiculada pelos e-mails na sua
versão original” e que o fez “com o intuito de lesar a credibilidade do Sport
Lisboa e Benfica”. Muito surpreendente…
Mas não é sobre esta parelha que me quero debruçar. Prefiro
trazer à colação os idiotas úteis que amplificaram a mensagem que estas
figurinhas andaram a passar, além de outros protagonistas.
Não me refiro a adeptos, que esses, entre os quais me
incluo, comem gelados da forma que mais lhes aprouver. Antes aos que, sob a
capa da suposta isenção e fazendo uso da autoridade que lhes é confiada por
meios de comunicação social, cá do burgo e do estrangeiro, se apressaram a
tomar por certo aqueles dislates.
Quantas vezes li e ouvi alguém, sobre supostas práticas
censuráveis de responsáveis benfiquistas, aludir aos famigerados emails? E
quantas foram as peças “noticiosas” sustentadas no que foi dito naquele
exercício de reles ficção?
Será que nunca pararam por um segundo que fosse para
avaliarem a credibilidade daquela parelha? Alguém, no seu perfeito juízo, poderia
acreditar sem pestanejar no que aqueles indivíduos poderiam afirmar, ainda para
mais naquele palco, quando o assunto era o Benfica?
A credulidade tem limites que, ao serem ultrapassados, restam
a estupidez, a má vontade ou a necessidade/ganância de facturação.
Há também uns quantos protagonistas do futebol português que
não podem ser postos de parte neste assunto.
Os efeitos na arbitragem foram nefastos. Nos anos seguintes
a estas tropelias, o Benfica quase não teve grandes penalidades assinaladas a
seu favor. Os árbitros ter-se-ão sentido condicionados, mesmo que
inconscientemente? Estou convicto disso.
Os dirigentes do FC Porto e os administradores da SAD
portista, salvo erro, nem sequer foram acusados. É evidente que as
administrações não são obrigatoriamente vinculadas aos actos de subordinados,
mas mesmo que as altas instâncias do clube e SAD não tenham tido qualquer
responsabilidade ou sequer conhecimento, a situação ter-lhes-á passado ao lado
a partir do momento em que foi transmitido o primeiro programa no Porto Canal?
E após o segundo e os restantes? Não viram, estariam de férias em Vigo ou em
convívio em locais com arcas congeladoras? E quando as acusações dominaram a
agenda mediática, continuaram distraídos ou incapazes de travar a, pelos vistos,
indomável parelha? Um deles, passado pouco tempo, até foi galardoado na
categoria “funcionário do ano”. Ele há coisas que não têm explicação.
Ademais, sendo a Benfica SAD e a Porto SAD cotadas em bolsa,
concorrentes no plano desportivo e coexistentes em mercados de vária espécie, não
haverá algo a dizer e fazer por parte da CMVM? Não deverá ser avaliado se a tal
narrativa não terá lesado o Benfica na relação com parceiros e patrocinadores,
advindo daí potenciais consequências na valorização bolsista em prejuízo dos
accionistas?
Então e o silêncio persistente e gritante da Federação
Portuguesa de Futebol e, especialmente, da Liga de Clubes, organizadora do
campeonato? Ou de entidades governamentais? A sério que não lhes apraz tomar
qualquer medida ou sequer pronunciarem-se sobre o assunto?
Tudo isto é uma brincadeira…
Jornal O Benfica - 16/6/2023
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