Foi uma semana dura. Perder dois jogos consecutivos seria sempre penoso, mas frente ao adversário directo no Campeonato e no desafio da primeira mão dos quartos de final da Liga dos Campeões pesa ainda mais, até porque as expectativas eram altas e o sonho enorme, ambos solidificados num percurso extraordinário ao longo da temporada.
Observe-se o que se perspectivava anteriormente: uma vitória
ante o Porto fecharia as contas do título, só restando a matemática, a
indefinição de quando conquistaríamos de facto o 38 e o prazer de ver bom
futebol para nos entretermos; um triunfo ante o Inter colocar-nos-ia numa situação
favorável para regressarmos, 33 anos depois, às meias-finais da Liga dos
Campeões.
Duas possibilidades reais, bem reais, que resultaram em
frustração. No primeiro jogo, a desilusão é também alimentada por uma muito surpreendente
e imprevisível, por certo pontual, incapacidade para tornear as dificuldades
causadas pelo adversário naqueles 90 e poucos minutos; no segundo, prevalece
uma sensação diferente, a de que a sorte do jogo nada quis connosco, a
arbitragem desajudou e que, por muita teorização que se possa fazer acerca dos
aspectos técnico-tácticos, reinou quem foi mais eficaz.
Acontece. Mas, por acontecer, não significa que se deva
passar uma esponja por tudo o que de muito bom foi feito ao longo da época.
Repare-se: estávamos numa sequência de dez jogos sempre a ganhar no campeonato;
íamos em 12 jogos na Liga dos Campeões sem perder, o máximo na história do
Benfica.
Sei que a memória dos adeptos por vezes é curta e que
vivemos o clube com desmedidas paixão e intensidade, importando sobretudo o presente.
Mas o que a mim me diz o passado recente é que não tenho razões para temer o
futuro imediato. E espero que o plantel sinta o mesmo. Tenho a certeza de que não
desaprenderam de jogar à bola. E jogando o que sabem, o que já demonstraram na
grande maioria dos jogos nesta temporada, têm tudo para serem campeões. Porventura,
com alguma sorte e muita inspiração, até de continuarem em prova na Europa.
Eis a verdade inexorável: faltam sete jornadas para terminar
o Campeonato, das quais temos de vencer em cinco delas (ou em quatro com três
empates). Não há razão alguma para que não o consigamos. E a eliminatória com o
Inter, apesar do cenário negro, não está fechada. Só é impossível se não
tentarmos.
Jornal O Benfica - 14/4/2023
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