domingo, 12 de março de 2023

Sonhar custa

Costuma-se dizer o contrário, mas sonhar pode ter vários custos e custa muito ter o direito a fazê-lo, pois não é o mesmo que fantasiar.

O brilhante apuramento para os quartos-de-final da Liga dos Campeões precedido dos não menos brilhantes desempenhos nas rondas de qualificação e na fase de grupos, permitem-nos sonhar com um percurso fantástico na mais importante competição europeia, da qual estamos arredados da final desde 1990.

Recordo-me bem da excitação em torno das campanhas de 1987/88 e 1989/90, replicados em 2012/13 e 2013/14, embora estas últimas na Liga Europa. Vivemos precisamente o mesmo ambiente dessas épocas, nas quais nos debatemos com uma certa ambivalência do estado de espírito, em que a consciência plena da necessidade de se ter os pés bem assentes na terra colidia brutalmente com a firme convicção de que sonhar nos era permitido.

Todos sabemos que as hipóteses do Benfica vencer uma Liga dos Campeões não são as mesmas, nem sequer se assemelham, às de outros clubes mais poderosos financeiramente, e que o especto de uma eliminação é real, seja qual for o adversário numa fase adiantada da prova. Mas ninguém poderá descartar a possibilidade de a ganhar, por mais ínfima que seja, assim se reúnam uma série de circunstâncias favoráveis.

Sonhar, no sentido de legitimamente ambicionar uma conquista europeia, custa muito. Nomeadamente a quem constrói um plantel, contrata uma equipa técnica e mobiliza meios humanos e técnicos de suporte, e, sobretudo, aos treinadores e jogadores que, jogo a jogo, cimentam a ideia de que não há impossíveis.

O percurso benfiquista na presente temporada legitima as aspirações que sempre sentimos e mais apregoamos. A equipa conquistou o direito a sonhar e deve ser reconhecida por isso, seja qual for o desfecho na próxima ronda.

E sonhar pode ter custos, importando, neste e em todos os contextos, interiorizar a ideia de que os jogadores e treinadores são profissionais, por muito bem que representem os adeptos e que eventualmente até o sejam.

Também a eles são permitidos todos os sonhos, desde que, hoje, aquele que mais os preencha seja ganhar na Madeira ao Marítimo. E se há equipa que demonstra, semana após semana, que o tão batido “jogo a jogo” extravasa o domínio das palavras e se reflete na mentalidade competitiva, é esta liderada por Roger Schmidt.

Sonho a sonho, que todos tenhamos, no final da época, a possibilidade de festejarmos bem acordados!

Jornal O Benfica - 10/3/2023

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