Costuma-se dizer o contrário, mas sonhar pode ter vários custos e custa muito ter o direito a fazê-lo, pois não é o mesmo que fantasiar.
O brilhante apuramento para os quartos-de-final da Liga dos
Campeões precedido dos não menos brilhantes desempenhos nas rondas de
qualificação e na fase de grupos, permitem-nos sonhar com um percurso
fantástico na mais importante competição europeia, da qual estamos arredados da
final desde 1990.
Recordo-me bem da excitação em torno das campanhas de
1987/88 e 1989/90, replicados em 2012/13 e 2013/14, embora estas últimas na
Liga Europa. Vivemos precisamente o mesmo ambiente dessas épocas, nas quais nos
debatemos com uma certa ambivalência do estado de espírito, em que a
consciência plena da necessidade de se ter os pés bem assentes na terra colidia
brutalmente com a firme convicção de que sonhar nos era permitido.
Todos sabemos que as hipóteses do Benfica vencer uma Liga
dos Campeões não são as mesmas, nem sequer se assemelham, às de outros clubes
mais poderosos financeiramente, e que o especto de uma eliminação é real, seja
qual for o adversário numa fase adiantada da prova. Mas ninguém poderá
descartar a possibilidade de a ganhar, por mais ínfima que seja, assim se
reúnam uma série de circunstâncias favoráveis.
Sonhar, no sentido de legitimamente ambicionar uma conquista
europeia, custa muito. Nomeadamente a quem constrói um plantel, contrata uma
equipa técnica e mobiliza meios humanos e técnicos de suporte, e, sobretudo,
aos treinadores e jogadores que, jogo a jogo, cimentam a ideia de que não há
impossíveis.
O percurso benfiquista na presente temporada legitima as
aspirações que sempre sentimos e mais apregoamos. A equipa conquistou o direito
a sonhar e deve ser reconhecida por isso, seja qual for o desfecho na próxima
ronda.
E sonhar pode ter custos, importando, neste e em todos os
contextos, interiorizar a ideia de que os jogadores e treinadores são
profissionais, por muito bem que representem os adeptos e que eventualmente até
o sejam.
Também a eles são permitidos todos os sonhos, desde que,
hoje, aquele que mais os preencha seja ganhar na Madeira ao Marítimo. E se há
equipa que demonstra, semana após semana, que o tão batido “jogo a jogo”
extravasa o domínio das palavras e se reflete na mentalidade competitiva, é
esta liderada por Roger Schmidt.
Sonho a sonho, que todos tenhamos, no final da época, a
possibilidade de festejarmos bem acordados!
Jornal O Benfica - 10/3/2023
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