Assim como não presto atenção ao que falam os loucos sozinhos na rua, também ignoro o que dizem o presidente do FC Porto e os propagandistas que o servem. Mas reconheço que, de quando em quando, uns e outros proferem algo acertado.
Por exemplo, o responsável portista insurgiu-se, esta
semana, contra o VAR que actua para uns e não actua para outros. E eu
acompanho-o na indignação: só para mencionar o caso mais recente, é
inacreditável como o VAR não interveio para que Pepe fosse admoestado com um
cartão vermelho devido à patada de sola dada na canela de um jogador do Gil
Vicente.
Muito deu que falar esse lance. Foram variadíssimas as
menções ao aniversário do defesa azul e branco como justificação para o perdão
do vermelho. Estou ciente da carga irónica, mas, ainda assim, não faz qualquer
sentido. A menos que Pepe faça anos oito ou nove vezes por época, talvez seja
isso.
Por falar em declarações patéticas, ocorre-me a existência
de outros especialistas. Os paladinos da ética (assim o atestam o depósito de
dois mil euros efectuado por um vice-presidente na conta bancária de um árbitro
assistente ou o que se alega no chamado caso “cashball”) e dos bons costumes
(vide as VMOC e “reestruturações financeiras” ou as trocas milionárias de
passes de jogadores sem valor de mercado) emitiram um comunicado miserável e
demagógico que, numa primeira instância, até poderá enraivecer o mais sereno
dos benfiquistas, mas que somente provoca pena ou vontade de escarniar,
porventura gera algum contentamento.
Tendo a optar pelo escárnio – é mais forte do que eu – embora
seja sensível aos que padecem da necessidade de dar um sinal de vida e não
deixe de me satisfazer a ideia de que existem tontos que vislumbram uma praia
paradisíaca nos montes de areia que lhes são atirados aos olhos.
Todos têm uma atenuante. Os loucos, o problema de saúde; os
restantes, o Benfica. A culpa é, de facto, do Benfica. Especialmente de um
Benfica que lidera o Campeonato com oito pontos de avanço com doze jornadas em
disputa, está bem encaminhado para chegar aos quartos-de-final da Liga dos
Campeões e, sobretudo, tem jogado à bola a um nível que se percebe que o bom
desempenho não é fruto do acaso.
E eles vociferam, esperneiam, rasgam as vestes e puxam os
cabelos, nada que espante. Se nem momentaneamente por cima têm nível, não se
espere que o tenham remetidos à sua condição.
Jornal O Benfica - 3/3/2023
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