“Jogar à Benfica” trata-se de um conceito vago, passível das mais variadas interpretações. Mas há características coincidentes entre elas, nomeadamente a procura do golo frenética e incessante desde o início do jogo e a agressividade permanente nas tentativas de recuperação da bola. Muitas acrescentam ainda a classe, a inteligência futebolística e a superior qualidade técnica em cada toque na bola. E, invariavelmente, que a aplicação destas resulte numa vitória.
Tudo isto fez o Benfica ante o Vitória de Guimarães. Estava
3-0 à meia hora de jogo, uma vantagem assente numa exibição de gala de uma
equipa evidentemente insaciável. À Benfica, portanto. E com o bónus, no dia
seguinte, de ver a vantagem já de si alargada na liderança do campeonato
aumentar mais dois pontos. O mundo, às vezes, faz sentido.
Um aparte: não deixou de ser curioso observar a panóplia de
manifestações de desejos travestidas de análises quanto ao embate do Benfica
com o Vitória de Guimarães. Foi-nos lembrado até à exaustão que fôra
precisamente com este adversário que o Benfica havia perdido pontos no
campeonato pela primeira vez e que a sequência de oito vitórias consecutivas
anterior à partida se dera com adversários de menor monta. E ainda a ausência
de Aursnes, subsistindo, diziam eles, a dúvida quanto à capacidade da equipa de
se adaptar a ela. Foram obrigados a enfiar a viola no saco e eu sorrio.
Tudo está muito bem encaminhado para que o Benfica regresse
ao título nacional, estando bem interiorizado no seio do clube que nada está
ainda conquistado. E, por isso, não surpreende a berraria em praça pública de
responsáveis portistas.
Diz o treinador que não houve investimento. Contrapõe o
presidente que houve. E até houve mesmo: de acordo com o relatório e contas da
sad portista chegou a cerca de 45 milhões de euros.
Se é muito ou pouco, depende da perspectiva. Por exemplo,
para clubes como Braga, Casa Pia, Estoril, Gil Vicente, Rio Ave ou Santa Clara,
aqueles que, além do Benfica, impediram o FC Porto de vencer na presente edição
do campeonato, é um montante impensável. E o maior problema é outro: com menos
do que os tais 45 milhões de euros, o Benfica adquiriu os passes de Aursnes,
Enzo e Neres, demonstrando cabalmente que, com competência, esse valor ainda dá
para qualquer coisa.
Melhor mesmo será que cada um vá para seu lado. O treinador
para um qualquer clube estrangeiro e os membros da administração da sad
portista para a sala de reuniões, obviamente com o propósito de rever em alta
os seus próprios ordenados e prémios, tarefa à qual se dedicam, normalmente,
com zelo, proatividade e generosidade.
P.S.: O Benfica tem hipóteses reais de chegar à final da
Liga dos Campeões e tentar vencer a prova, o que não significa que seja fácil
de o conseguir. Pelo contrário, é tremendamente complicado. Mas a equipa do
Benfica conquistou com inegável mérito o direito a sonhar e esse é o primeiro
passo. Eu acredito!
Jornal O Benfica - 24/3/2023
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