O título é exageradíssimo, mas serve. Disputadas umas quantas partidas do Mundial, ainda não houve uma que me despertasse tanto interesse como aquela que opôs o Benfica ao CF Estrela. Draxler e Morato de regresso, João Vítor a entrar de início, jogada maravilhosa de Rafa e Musa para golo deste, vitória que é o que interessa. Acusam-me de fanatismo pelo Benfica e eu contraponho agradecido pelo elogio.
Uma interpretação pouco atenta e abusiva é a de que não me agradam
as competições de selecções. Nada mais falso. Sinto, é verdade, um desinteresse
completo por jogos amigáveis, mas tal não se aplica às fases finais; pelo
contrário, tento ver todos os jogos, acompanho a par e passo a competição por
pura e cultivada obsessão futebolística, sem preferência.
A ausência de vínculo emocional a qualquer das equipas é
debilitante, mas longe de impeditivo de apreciar o andamento da prova, sempre expectante
pela equipa surpresa, pelos jogadores que mais se evidenciam ou por golos
antológicos. É irrelevante quem ganha.
Mas tempos houve diferentes. Fui educado a amar o Benfica e,
de vez em quando, para “desenjoar”, a vibrar com a selecção portuguesa. No
entanto, sentir-me eufórico por um golo de Portugal da autoria de um jogador de
um clube anti-Benfica nunca fez sentido para mim.
O meu afastamento da selecção começou precisamente nesse
ponto de fricção e nas discussões que se lhe seguiam. Diziam-me “és português,
tens de apoiar a selecção, os clubes não importam”, qual carneiro nobre
lusitano, como que a apelarem a um patriotismo de pacotilha que para nada
serve. Depois veio Scolari e as suas chantagens emocionais, o marketing do
“Clube Portugal”, as bandeiras com pagodes em tudo o que era janela e a certeza
de que a única utilidade séria da selecção é constituir-se como um veículo de
ensino privilegiado da letra do hino nacional.
Ah, e quase deixou de haver jogadores do Benfica na
selecção. O que me leva a um ponto curioso.
Foi a seguir ao Campeonato do Mundo de 2006 que deixei definitiva
e completamente de ter afinidade com a equipa da federação. Tratou-se de um
processo gradual de alguém que nunca se sentiu realmente ligado. Contente por
ganhar, indiferente às derrotas, isso não é ser adepto. E as vitórias também se
tornaram indiferentes, ao ponto de não ter podido beneficiar da extraordinária conquista,
do céu caída, no europeu em 2016, e reconheço-o com alguma pena.
Ora, hoje há, na equipa da federação, três jogadores do
Benfica, mais quatro (dos que interessam) formados no glorioso. Quero que tudo
lhes corra bem, assim como aos futebolistas de outros países com o mesmo selo
de garantia. E dei por mim a apreciar satisfeito algumas jogadas de Portugal no
jogo com a Nigéria, um particular, vá lá perceber-se isto.
Eis a minha selecção: Ederson, Bah, Otamendi, Rúben Dias,
António Silva, João Cancelo, Enzo Fernández, João Mário, Bernardo Silva, João
Félix e Gonçalo Ramos. Suplente (não se enquadra bem, mas talvez por ter saído
há pouco tempo e por aparentar não lhe ter sido indiferente jogar de águia ao
peito): Darwin.
Jornal O Benfica - 25/11/2022
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