Terá sido poucos meses antes do decreto de pandemia. Noite de semana invernosa, jogo da Taça da Liga. E lá estava ele, no seu cativo no piso 1 do estádio da Luz, o carinhosamente conhecido por “Ti Emílio” em grande forma para apoiar o nosso Benfica. Teria uns 98 anos. Tomara eu e qualquer um de nós, naturalmente. Que mais poderemos ambicionar de uma vida dedicada ao Benfica do que saúde e disposição em tão provecta idade para sair de casa à noite, por fria e chuvosa que seja, e rumar ao estádio da Luz?
Emílio Andrade Júnior, nascido em 1921, foi feito sócio do
Sport Lisboa e Benfica aos 12 anos, em janeiro de 1934, não havia ainda
Campeonato Nacional. Na semana em que, nos cartões, o número de sócio do
Benfica ultrapassou os trezentos mil, sabendo-se que seremos à volta de 267 mil
sócios activos, é interessante revisitar o passado para que nos apercebamos
ainda melhor de quão extraordinária é, no presente, a grandeza da massa
associativa do clube.
No final da temporada 1933/34, o Sport Lisboa e Benfica
tinha 4314 associados. Em relação ao ano anterior houve um aumento de 499
sócios, entre os quais constava o então jovem Emílio, sendo que cerca de 35% da
massa associativa pertencia às categorias menores ou infantis. E o peso das
receitas de quotização era enorme, correspondendo a quase metade do total das
receitas angariadas pelo clube nesse exercício económico (48,7%).
A comparação com os tempos actuais, ao nível da estrutura
das receitas, é inútil, mas é interessante observar a estratificação dos sócios
do clube, agora e então. No final de 2020/21, os sócios menores de 18 anos
perfaziam 26% de toda a massa associativa benfiquista, um peso menor do que em
1934, mas ainda assim muitíssimo significativo.
Agora, como desde sempre, muitos dos jovens sócios deixam de
o ser a partir dos 14 anos, idade em que termina a isenção do pagamento de
quota nos casos em que o pai ou a mãe são sócios. Ou ainda quando deixam de
praticar desporto no clube. O grande desafio neste domínio é aumentar a
capacidade de retenção de sócios e tem sido visível o esforço do clube nesse
sentido, com o lançamento de novas categorias como o “sócio família”, por
exemplo.
A dimensão da massa associativa do Sport Lisboa e Benfica
estabilizou no patamar acima dos 200 mil sócios, algo impensável há escassos
vinte e cinco anos. Mas será uma ilusão pensar-se que temos potencial para
mais? Eu acredito que sim, temos e não é pouco.
Façamos todos um esforço junto de familiares, amigos e
conhecidos para que cresçamos ainda mais. E se o benfiquismo não chegar,
demonstremos o racional económico. Veja-se o meu caso, sócio há mais de 45
anos, número 6460: muito frequentemente, “não pago” quotas do Benfica, pois utilizo
sempre o saldo acumulado na carteira virtual via descontos proporcionados pelo
facto de ser sócio do Benfica. Feitas as contas, ajudo o Benfica de borla. E
não há dinheiro que pague as alegrias que o Benfica nos dá.
Jornal O Benfica - 2/9/2022
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