segunda-feira, 20 de junho de 2022

Respeitar a história da Taça de Portugal

O palmarés da Taça de Portugal tem de incluir os vencedores da prova quando denominada Campeonato de Portugal, de 1922 a 1938, ao invés de se considerar que Campeonato e Taça de Portugal são duas competições diferentes.

Não se trata de uma convicção, mas antes de uma certeza alicerçada na constatação de algumas evidências: relatório da FPF de 1938/39, em que é dada conta da mudança de nome da competição (de Campeonato de Portugal para Taça de Portugal); troféu inalterado; placas dos vencedores da Taça de Portugal incluem aqueles desde 1922.

Não se compreende sequer como a FPF aceitou que uma tentativa ridícula, para não dizer miserável, de empolamento do palmarés do Sporting fosse sequer discutida. Essa pretensão deveria ter sido rejeitada liminarmente, o revisionismo é óbvio.

Em 1938, a FPF propôs e as associações aprovaram em tempo útil. E nem sequer houve qualquer polémica. Afinal, tratou-se somente de uma alteração da designação. Tudo o que a FPF tem a fazer no presente é repor a verdade dos factos e reiterar o que foi decidido há mais de oitenta anos: a Taça de Portugal começou a ser disputada em 1922 e não em 1938 como se tornou convenção a partir dos anos 50.

Ao aceder a estudar o assunto, a FPF errou. Claro que, muito provavelmente, a única motivação foi a de calar os dirigentes do Sporting. Mas a comissão foi criada e sabe-se agora que a FPF aceitou submeter a votação dois pareceres sobre esta questão.

Do que se sabe acerca de seu conteúdo, ressalta o seguinte:

- As pretensões revisionistas do Sporting não colheram;

- É defendido em ambos os pareceres, e bem, que o Campeonato Nacional começou a ser disputado na temporada 1934/35;

- Um dos pareceres é rigoroso quanto à história (a Taça de Portugal começou a ser disputada em 1922 e foi designada Campeonato de Portugal até 1938);

- O outro parecer defende a ideia de que, não havendo outra competição nacional até 1934, os vencedores do Campeonato de Portugal até esse ano devem ser considerados campeões nacionais.

Quanto a este último ponto há que reafirmar o carácter revisionista desta ideia, embora seja de crer que talvez não haja motivações clubísticas a suportá-la.

E aqui há que recuar ao início dos anos 30 para se perceber o que esteve na base da criação do Campeonato Nacional, uma prova disputada em poule a duas voltas. Foi a necessidade identificada de tornar o futebol português (selecção) mais competitivo. Tal expõe ainda mais a fragilidade da tese de que houve campeões nacionais anteriores à existência do Campeonato Nacional – até porque houve edições com pouquíssimos jogos; a primeira, em 1921/22, limitou-se a um(!).

Infelizmente, receio que as associações aprovem o parecer da tese dos campeões desde 1922. O Algarve terá o Olhanense campeão. A Madeira, o Marítimo. Lisboa, o Atlético (via Carcavelinhos), o Belenenses, que passa de um para quatro, e Benfica e Sporting, ambos com mais dois. E Porto terá o FC Porto com mais três.

E será vergonhoso se o fizerem.

Limitem-se a respeitar a história, a própria história das associações que, em 1938, tomaram uma decisão sem qualquer celeuma, e reponham o que é factual: a Taça de Portugal começou a ser disputada em 1922. E só em 1935 houve o primeiro campeão nacional.

Jornal O Benfica - 17/6/2022

1 comentário:

  1. Foi aceite por um artista do calor da noite que anda a minar a FPF, para beneficiar aquele clube de que fez parte e bem geriu as facturas das donzelas brasileiras

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