O palmarés da Taça de Portugal tem de incluir os vencedores da prova quando denominada Campeonato de Portugal, de 1922 a 1938, ao invés de se considerar que Campeonato e Taça de Portugal são duas competições diferentes.
Não se trata de uma convicção, mas antes de uma certeza
alicerçada na constatação de algumas evidências: relatório da FPF de 1938/39,
em que é dada conta da mudança de nome da competição (de Campeonato de Portugal
para Taça de Portugal); troféu inalterado; placas dos vencedores da Taça de Portugal
incluem aqueles desde 1922.
Não se compreende sequer como a FPF aceitou que uma
tentativa ridícula, para não dizer miserável, de empolamento do palmarés do
Sporting fosse sequer discutida. Essa pretensão deveria ter sido rejeitada
liminarmente, o revisionismo é óbvio.
Em 1938, a FPF propôs e as associações aprovaram em tempo
útil. E nem sequer houve qualquer polémica. Afinal, tratou-se somente de uma
alteração da designação. Tudo o que a FPF tem a fazer no presente é repor a
verdade dos factos e reiterar o que foi decidido há mais de oitenta anos: a
Taça de Portugal começou a ser disputada em 1922 e não em 1938 como se tornou
convenção a partir dos anos 50.
Ao aceder a estudar o assunto, a FPF errou. Claro que, muito
provavelmente, a única motivação foi a de calar os dirigentes do Sporting. Mas
a comissão foi criada e sabe-se agora que a FPF aceitou submeter a votação dois
pareceres sobre esta questão.
Do que se sabe acerca de seu conteúdo, ressalta o seguinte:
- As pretensões revisionistas do Sporting não colheram;
- É defendido em ambos os pareceres, e bem, que o Campeonato
Nacional começou a ser disputado na temporada 1934/35;
- Um dos pareceres é rigoroso quanto à história (a Taça de
Portugal começou a ser disputada em 1922 e foi designada Campeonato de Portugal
até 1938);
- O outro parecer defende a ideia de que, não havendo outra
competição nacional até 1934, os vencedores do Campeonato de Portugal até esse
ano devem ser considerados campeões nacionais.
Quanto a este último ponto há que reafirmar o carácter
revisionista desta ideia, embora seja de crer que talvez não haja motivações
clubísticas a suportá-la.
E aqui há que recuar ao início dos anos 30 para se perceber
o que esteve na base da criação do Campeonato Nacional, uma prova disputada em
poule a duas voltas. Foi a necessidade identificada de tornar o futebol
português (selecção) mais competitivo. Tal expõe ainda mais a fragilidade da tese
de que houve campeões nacionais anteriores à existência do Campeonato Nacional
– até porque houve edições com pouquíssimos jogos; a primeira, em 1921/22,
limitou-se a um(!).
Infelizmente, receio que as associações aprovem o parecer da
tese dos campeões desde 1922. O Algarve terá o Olhanense campeão. A Madeira, o
Marítimo. Lisboa, o Atlético (via Carcavelinhos), o Belenenses, que passa de um
para quatro, e Benfica e Sporting, ambos com mais dois. E Porto terá o FC Porto
com mais três.
E será vergonhoso se o fizerem.
Limitem-se a respeitar a história, a própria história das
associações que, em 1938, tomaram uma decisão sem qualquer celeuma, e reponham
o que é factual: a Taça de Portugal começou a ser disputada em 1922. E só em
1935 houve o primeiro campeão nacional.
Jornal O Benfica - 17/6/2022
Foi aceite por um artista do calor da noite que anda a minar a FPF, para beneficiar aquele clube de que fez parte e bem geriu as facturas das donzelas brasileiras
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