“Se não fosse pela eliminação da Liga dos Campeões na época passada, o Benfica seria agora o segundo clube preferido dos adeptos do Ajax”. Foi com esta mensagem que o meu cunhado, fervoroso adepto do Ajax portador de bilhete de época, me felicitou pela recente contratação do Benfica, David Neres.
Se entusiasmado estava, mais entusiasmado fiquei. E embora
os muitos anos a ver futebol já me tenham ensinado que as expectativas elevadas
geradas nas pré-épocas se esgotem no início das competições, podendo ou não serem
correspondidas depois, há uma diferença fundamental do Neres para outras aquisições
entusiasmantes, no passado, de jogadores brasileiros: o desempenho no Ajax, em
particular na Liga dos Campeões. O talento já testado em circunstâncias
extremas de ordem táctica, o que mitiga o risco de inadaptação.
No entanto, não se leia das minhas palavras a convicção de
que Neres, por si só, transformará a equipa do Benfica. Mas que é uma grande
contratação, disso não tenho a mínima dúvida. Gosto de extremos rápidos,
sobredotados tecnicamente que, de cabeça levantada, arrisquem no um contra um e
saibam, ultrapassados os defesas, o que fazer com a bola. Neres tem este
perfil, assim jogue ao nível do que o vi fazer no Ajax.
E é um perfil cada vez mais em desuso no futebol
estereotipado do primado da posse de bola inconsequente, dos equilíbrios, do
horror às bolas perdidas, da estranheza em relação à área, quanto mais às
balizas, e da estapafúrdia comparação da percentagem de acerto de passes entre
defesas e avançados ou dos quilómetros percorridos, como se passar a bola, sem
oposição, para o lado e para trás valha o mesmo que um passe vertical açucarado
numa nesga de relvado junto da área contrária ou correr muito seja sinónimo de
correr na direcção e velocidade certas.
Claro que o futebol já não é mesmo de uma das minhas
primeiras memórias futebolísticas, em que um endiabrado Chalana ridicularizava
defesas atrás de defesas no europeu de França, em 1984. Mesmo com o decréscimo
acentuadíssimo da violência em campo, os esquemas defensivos são hoje muito
mais eficazes no objetivo de parar ou manietar adversários.
No presente, é muito mais difícil ser um jogador como, por
exemplo, Neres, e é por isso que os artistas devem ser estimados, algo que no
Benfica demora a acontecer, salvo se aos dribles estonteantes que teimam em
aparecer com regularidade anteceda a chamada garra, por mais improdutiva que
seja... Aliás, deveria mesmo ser caso de estudo o tempo que Di María e Gaitán,
entre outros, levaram a cair no goto da generalidade dos benfiquistas, e também
a intolerância para com jogadores que arriscam e falham, contrastando com a
paciência para tantos que, por não arriscarem, não falham, talvez acertem, mas
nada acrescentam.
Contudo, nem tudo está perdido -perdoem-me este tique de
velhice. Vejo Diego Moreira a despontar e sorrio…
Jornal O Benfica - 24/6/2022
Descobri este blog atraves do pelicanosaudade.blogspot.com ( que adorei ler, apesar de ja estar "morto"). Continuarei a seguir pq faz falta gente que escreva bem e com paixão sobre o nosso Sport Lisboa e Benfica. Forte abraço
ResponderEliminarObirgado, abraço!
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